Título: Ano mais magro para empresas na Bolsa
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 11/09/2011, Economia, p. 32/33

Com crise, volume de recursos obtidos em ofertas no mercado de ações é 30% menor este ano. Movimento pode ser o pior desde 2005

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vinicius.neder@oglobo.com.br

A forte queda que vem sacudindo as bolsas de valores este ano fez minguar as ofertas de ações. Os recursos levantados pelas empresas via mercado de capitais somam, entre janeiro e agosto, R$16,3 bilhões em 21 operações. O volume é 30,7% menor que o registrado no mesmo período do ano passado: R$28,9 bilhões em 15 ofertas, segundo a BM&FBovespa. Além disso, não houve emissões de ações em agosto. No ano, o Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), perde 19,52%.

Desde janeiro, dez empresas suspenderam ofertas de ações, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que fiscaliza e regulamenta o mercado. Outros seis pedidos de registro estão em análise. No escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados, que assessora empresas nas operações, sete clientes adiaram planos antes mesmo de entrar com o pedido na CVM. Nesse ritmo, 2011 pode ser o pior ano em termos de volume de ofertas de ações desde 2005, quando as operações levantaram R$13,9 bilhões.

A retração é normal em épocas de crise, mas, segundo especialistas, as dificuldades enfrentadas desde 2008 estão arrefecendo o processo de desenvolvimento do mercado de capitais, iniciado a partir de 2002.

Na Coreia do Sul, por exemplo, as ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês, operações de abertura de capital) levantaram US$2,828 bilhões neste ano, até julho, 61,5% menos que em igual período de 2010. O número de operações caiu 17,8%, para 37, mantendo-se num patamar acima do brasileiro, segundo os mais recentes dados comparáveis da Federação Mundial de Bolsas (WFE, na sigla em inglês).

Por aqui, foram 11 IPOs até agora, levantando R$7,175 bilhões (US$4,275 bilhões) - as demais dez ofertas registradas foram para aumento de capital. Em igual período de 2010, foram oito ofertas, que levantaram R$7,413 bilhões (US$4,417 bilhões), menos que os US$7,346 bilhões das 45 IPOs sul-coreanas.

Analistas alertam, porém, que não basta a economia global voltar a crescer para as ofertas voltarem à tona: o Brasil deve resolver pendências na estabilização econômica para o mercado de capitais mudar de patamar.

Estabilização está incompleta, diz economista

- Fizemos uma estabilização incompleta, controlando só a inflação. Agora, precisamos jogar os juros para níveis civilizados e desindexar a economia - diz Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho, sócio da NEO Investimentos e um dos diretores da Casa das Garças, para quem isso só poderá ser feito com um equilíbrio fiscal de longo prazo.

Os juros altos inibem o investimento em Bolsa porque atraem as aplicações - de pessoas físicas e de grandes investidores - para títulos da dívida do governo. A economista Ana Novaes, sócia da Oitis Consultoria e integrante de conselhos de Administração de grandes empresas, lembra que países estáveis têm juro real baixo.

- Temos que ter um ambiente com juros mais baixos e sem crise - concorda o presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Gilberto Mifano.