Título: No Brasil, 57% das estradas têm problemas
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 27/10/2011, O País, p. 17

Locais onde riscos de acidentes são elevados subiram de 109 para 219 este ano, segundo pesquisa da CNT

BRASÍLIA. Mais da metade das estradas brasileiras tem deficiências, mostrou pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). O levantamento indica que 57,4% das rodovias estão em situação regular, ruim ou péssima. O índice é ligeiramente melhor do que o registrado em 2010, quando esse percentual era de 58,8%. Por outro lado, a proporção de trechos considerados em ótimo estado caiu de 14,7% para 12,6%. E dobrou o número dos chamados pontos críticos, isto é, locais onde o risco de acidentes é elevado: de 109 para 219.

A CNT diz que as condições das estradas prejudicam a economia e matam cada vez mais. No ano passado, 8.516 pessoas morreram em rodovias federais, um acréscimo de 15,5% em relação a 2009. O número de acidentes também cresceu 15,8% no período, totalizando 183 mil colisões, em 2010. Do ponto de vista econômico, a CNT entende que exportadores e consumidores pagam o pato por causa das deficiências. A entidade estima em 13% o acréscimo no custo de fretes para transportar soja, de Mato Grosso ao Paraná, devido ao "apagão rodoviário".

Gastos com acidentes superam investimentos

O diretor-executivo da confederação, Bruno Batista, disse que os gastos com acidentes e vítimas superam os investimentos federais em rodovias. Segundo ele, aí está o gargalo, já que o poder público não teria fôlego para resolver sozinho os problemas de infraestrutura.

A entidade estima que o Brasil precisa de R$63 bilhões para corrigir as falhas de pavimentação e sinalização detectadas na pesquisa deste ano. Dotar o país de uma malha rodoviária de boa qualidade custaria R$200 bilhões, segundo a CNT. Batista destacou que 2010 foi o ano de maior investimento federal nos últimos nove anos: R$9,8 bilhões, ou seja, menos de 5% dos R$200 bilhões de que o país precisa.

- Enquanto o governo não alocar mais recursos, vamos continuar matando pessoas nas nossas rodovias e pagando o custo desse prejuízo - disse Batista.

O diretor da Confederação Nacional de Transportes reclamou da inexistência de um marco regulatório claro sobre as parcerias público-privadas. Segundo Batista, esse tipo de iniciativa não decolou no país. A entidade cobra também a destinação integral para o setor da receita com a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide).

Outra preocupação de Batista é com falhas gerenciais e de fiscalização por parte do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Ele disse que o governo acaba tendo que refazer obras por falta de qualidade. Indagado sobre denúncias de corrupção no setor, envolvendo não apenas o Dnit, mas também empresas que superfaturam preços, o diretor afirmou que o governo precisa fazer uma limpeza.

- O governo precisa se readequar, mudar a sua estrutura gerencial. Precisa fazer de fato uma faxina - defendeu.

O diagnóstico da CNT, o maior realizado anualmente no país, retrata as condições de 92 mil quilômetros de estradas pavimentadas, cobrindo toda a malha federal, mais de 90% das rodovias concedidas à iniciativa privada e 21% das vias estaduais (principais corredores). Ao todo, há no Brasil 1,5 milhão de quilômetros de estradas, sendo 213 mil quilômetros pavimentados.

Geometria das vias tem o pior resultado

A Pesquisa CNT de Rodovias 2011, a 15ª conduzida pela entidade, foi a campo entre junho e agosto. Foram analisados três aspectos: pavimentação, sinalização e geometria das vias.

A pavimentação é o quesito em melhor situação: 52,1% em estados ótimo e bom, sendo 46,6% em condições ótimas. A sinalização não teve a mesma avaliação positiva: 43,1% de ótimo e bom (16,6% de ótimo). E a geometria das vias apresentou o pior resultado: 23,2% de ótimo e bom (4,2% de ótimo).

A pesquisa mostra ainda que as rodovias concedidas estão em condições melhores. Considerando o estado geral das vias, 48% foram consideradas ótimas. Em 2010, entretanto, esse percentual era maior: 54,7%. Segundo Batista, a incorporação recente de trechos na Bahia causou a queda. A soma dos trechos ótimos e bons em estradas concedidas alcançou 86,9%, em 2011, ligeiramente menor do que os 87,3% em 2010. Não houve trechos péssimos.

Das dez melhores ligações rodoviárias avaliadas, todas são concedidas. Das dez piores, nenhuma. Dos 63.531 quilômetros de estradas federais avaliadas, 10,6% ganharam a classificação de ótimo; 36,3%, de bom; 33% de regular; 15,5% de ruim; e 4,6% de péssimo. Os trechos ótimos caíram de 12,6%, para 10,6%, de 2010 para 2011. Já a soma de ótimo e bom subiu de 44,8% para 46,9%.

O diretor-executivo da CNT disse que empresários do setor de transporte consideram vantajoso trafegar por estradas concedidas, apesar dos pedágios, uma vez que isso reduz custos de manutenção e acelera a entrega de cargas. Segundo a CNT, 60% das cargas no Brasil são transportadas por rodovias, assim como 96% dos passageiros. O dirigente afirmou que a malha rodoviária brasileira está esgotada e precisa crescer.

Nos últimos três anos, a frota nacional aumentou em dez milhões de veículos, enquanto foram construídos somente 657 quilômetros de novas estradas federais. Batista usou uma imagem curiosa para ilustrar o descompasso: encostados uns nos outros, os dez milhões de veículos alcançariam o comprimento de 38 mil quilômetros, mais da metade da malha federal pavimentada.