Título: Combate ao crack terá investimento de R$4 bi
Autor: Gois, Chico de; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 08/12/2011, O País, p. 15

Programa do governo defende internação involuntária de dependentes, medida polêmica entre os médicos

BRASÍLIA. O governo federal lançou ontem mais um programa de combate ao crack. Desta vez, a promessa é investir R$4 bilhões, em articulação com estados, municípios e sociedade civil. O programa prevê monitoramento com imagens nas áreas conhecidas como cracolândias e defende a internação involuntária de viciados.

Em maio de 2010, às vésperas da eleição, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou um programa semelhante, que tinha como linhas mestras os mesmos três eixos do projeto de Dilma, mas com alguns nomes diferentes: cuidado (tratamento), autoridade (combate) e prevenção (mesmo nome no programa de Lula). O programa teve como objetivo ajudar Dilma, acusada pelo PSDB de não dar atenção ao problema, e destinou R$400 milhões às ações.

O mote da atual campanha é "Crack, é possível vencer". O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, comparou o momento atual no combate ao crack à epidemia de Aids na década de 80.

- No conceito técnico, estamos diante de uma epidemia de crack no país - disse o ministro, observando que de 2003 até agora aumentou em 10 vezes o número de atendimentos na rede de saúde aos dependentes químicos, o que inclui o crack.

O plano lançado ontem prevê a ampliação dos consultórios de rua - serão 308 até 2014. Esses ambulatórios móveis contarão com a presença de profissionais de saúde, que determinarão se é necessária a internação do dependente contra sua vontade, medida que divide a comunidade médica.

- O consultório na rua não serve para internação compulsória. Serve para proteger a vida - defendeu Padilha.

O atendimento psicossocial aos dependentes também funcionará 24 horas por dia, e não mais apenas em horário comercial. Padilha prometeu multiplicar por quatro o valor diário repassado às enfermarias especializadas em tratamento de álcool e drogas nos hospitais, de R$57 para R$200.

No combate ao tráfico, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que irá atuar em conjunto com estados e municípios. Cardozo afirmou que haverá monitoramento de imagens nas chamadas cracolândias, inclusive para evitar distorções e desvios dos próprios policiais.

A presidente Dilma enviou ontem à Câmara um projeto de lei que altera o Código de Processo Penal para acelerar a destruição de entorpecentes apreendidos e agilizar o leilão de bens utilizados no tráfico de drogas. Quanto à prevenção, o governo investirá em ações nas escolas, comunidades e com a população em geral. Está previsto um programa de capacitação para a prevenção do uso de drogas para 210 mil educadores e 3,3 mil policiais.

Dilma afirmou que não há um modelo pronto de sucesso, mas é preciso avançar. Dirigindo-se aos pais de dependentes em crack, Dilma utilizou um tom emocionado para dizer que o Estado estará ao lado deles.

- Temos de fazer da dor deles a nossa dor, e, ao fazer isso, ter clareza de que vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para a recuperação desses filhos e filhas.