Título: Bezerra também atribuiu tudo a fogo amigo
Autor: Carvalho, Daniel
Fonte: O Globo, 17/01/2012, O País, p. 9

Em Pernambuco pela 1ª vez desde as denúncias, ministro as atribuiu à proximidade da reforma ministerial

CUSTÓDIA (PE). Para o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, chegou ao fim "o fogo amigo" do qual supostamente estaria sendo vítima desde o fim do ano passado. Ontem, ele voltou a Pernambuco pela primeira vez desde que foi acusado de favorecer seu estado natal no repasse de verbas contra enchentes. Em visita às obras de transposição do Rio São Francisco em Sertânia e Custódia, sertão pernambucano, Bezerra foi recebido com festa por prefeitos da região e assinou a ordem de serviço para retomada das obras num trecho que estava parado. Seu padrinho político e correligionário, o governador Eduardo Campos (PSB), não compareceu.

Demonstrando cuidado com as palavras, o ministro reafirmou ter apoio da presidente Dilma Rousseff e garantiu ter recebido solidariedade de todos os líderes da base aliada do governo. Agora ele espera que a onda de "questionamentos", como prefere chamar as denúncias, tenha se encerrado.

- Pela manifestação que tive, esse fogo amigo, se teve, desapareceu - afirmou.

Apesar de não citar partidos, o ministro atribuiu as denúncias à efervescência com a reforma ministerial que Dilma fará.

- Estamos vivendo um momento de reforma. É evidente que, às vezes, os interesses partidários podem se aguçar - disse. - Espero que cesse. Acredito que os questionamentos levantados, e que foram objeto da minha visita à Comissão Representativa do Congresso, foram devidamente esclarecidos.

O ministro comentou a reportagem do GLOBO que, semana passada, mostrou que Petrolina, reduto eleitoral da família Bezerra, recebeu, em 2005 e 2006, mais de R$2,5 milhões para o programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA), mas não gastou os recursos no que deveria. Na época, Bezerra era prefeito.

- É estranho porque as contas do EJA estão todas aprovadas. Liguei para o ministro da Educação, Fernando Haddad, e pedi que ele prestasse esclarecimentos.

Bezerra rebateu reportagem de ontem do jornal "Folha de S. Paulo" que aponta empresa com endereço fantasma como a segunda maior beneficiária, em 2011, de emendas do deputado federal Fernando Filho (PSB), filho do ministro, junto à Integração. Segundo o jornal, a CSSA Construtora São Salvador está registrada no endereço de uma oficina mecânica, em Juazeiro (BA), vizinha a Petrolina.

-- A empresa não é fantasma - defendeu.

Ontem, o ministro estabeleceu o cronograma para obras de cinco lotes da transposição do Rio Sâo Francisco que estão parados. Por enquanto, só o lote 11, em Custódia, teve obras retomadas. Falta concluir 17 quilômetros de um total de 40 km. Na visita feita pela manhã, era possível ver movimentação de máquinas e operários apenas nos trechos em que Bezerra desceu. Mesmo assim, a promessa é concluir as obras em outubro.

O prazo é o mesmo dado para o fim das obras no lote 12, em Sertânia, cuja ordem de serviço para retomada foi assinada ontem. O contrato de R$132,8 milhões está a cargo do consórcio formado por Coesa, Barbosa Mello, Galvão e OAS, que também opera o lote 11.