Título: Casa da Moeda: ainda o silêncio
Autor: Carvalho, Jailton de; Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 02/02/2012, O País, p. 9

Pelo terceiro dia consecutivo, Mantega se recusa a comentar a exoneração de Denucci

BRASÍLIA. Os motivos da exoneração do ex-presidente da Casa da Moeda Luiz Felipe Denucci Martins continuam guardados a sete chaves no Ministério da Fazenda. Pelo terceiro dia consecutivo, a pasta recusou-se a dar explicações sobre a saída do economista, formalizada no sábado. A Polícia Federal está investigando o envolvimento de Denucci em supostas irregularidades numa licitação promovida pela instituição. O inquérito foi aberto pela Delegacia contra Crimes Fazendários da Polícia Federal no Rio de Janeiro em 2010.

Nesse caso, Denucci é suspeito de receber dinheiro no exterior de fornecedores da Casa da Moeda. Ele também responde, desde 2006, a um inquérito sobre suposta sonegação de impostos.

Procurada ontem mais uma vez, a assessoria de imprensa do ministro Guido Mantega informou que a posição do ministério de não se manifestar a respeito estava mantida. Mantega evita o assunto desde segunda-feira, quando o Diário Oficial da União publicou a exoneração de Denucci. Na segunda-feira, não comentou a demissão em entrevista em São Paulo e, na terça, permaneceu em silêncio quando perguntado a respeito, na entrada do Ministério da Fazenda, em Brasília.

A Polícia Federal abriu um dos inquéritos para apurar crimes previstos nos artigos 89 e 90 da lei 8.666, que tratam de irregularidades em licitação. O ex-diretor tem duas offshores nas Ilhas Virgens Britânicas, a Helmond Commercial LLC, em nome do próprio Denucci, e a Rhodes INT Ventures, que estaria em nome da filha, Ana Gabriela. Segundo o jornal "Folha de S.Paulo", Denucci movimentou US$ 25 milhões nas duas empresas, o que ele nega.

Edson de Siqueira Ribeiro Filho, advogado do ex-diretor, negou que Denucci tenha cometido qualquer irregularidade. Ele confirmou a existência das offshores, mas disse que o ex-diretor movimentou apenas US$ 80 mil para comprar um apartamento para a mãe em Miami. Siqueira diz que as denúncias contra o cliente têm origem em falsos dossiês que teriam sido produzidos para derrubar Denucci do comando da Casa da Moeda.

— Ter offshore não é crime. Qualquer um pode abrir uma. E todas elas estão declaradas (no Imposto de Renda). Estão falando em movimentação financeira. Então tem que aparecer. Porque a movimentação que ele fez foi de US$ 80 mil para comprar um apartamento para a mãe — disse Siqueira.

Denucci recebeu a notícia de sua exoneração por um assessor do terceiro escalão, no sábado, após ser chamado a Brasília com urgência. Desde então, não conseguiu contato com Mantega. Decidiu então mandar uma carta ao ministro. A Fazenda não confirma nem desmente as suspeitas que pesam sobre o ex-diretor. Na carta, Denucci diz que vinha sofrendo pressões no cargo e por isso já tinha decidido deixá-lo.