Título: Correa massacra liberdade de expressão
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Fonte: O Globo, 09/02/2012, Opinião, p. 6

O presidente do Equador, Rafael Correa, atua para calar a imprensa numa furiosa investida contra a liberdade de expressão que não deixa dúvidas sobre as aspirações ditatoriais de seu governo. O Equador luta para criar instituições democráticas depois de um passado recente de turbulência política. Correa foi eleito em 2006 na esteira de três golpes civis e militares. Mas, em vez de trabalhar pela consolidação democrática, resolveu embarcar na demagogia chavista e denominou seu governo de "Revolução Cidadã". Com isso, cada vez mais se parece com os golpistas que o precederam. Seu primeiro mandato deveria ter-se encerrado em janeiro de 2011, mas uma nova Constituição — como instrui a cartilha dos regimes bolivarianos recém-instalados — marcou eleição para abril de 2009. Correa ganhou em primeiro turno e iniciou um novo "primeiro" mandato, que vai até agosto de 2013, com direito à reeleição. Se a conseguir, ficará na presidência até 2017. Governos como os de Equador, Venezuela e Bolívia (e até o da Argentina, kirchnerista) não conseguem conviver com críticas porque se acham donos da verdade. Uma de suas características é o hiperpresidencialismo: seus líderes fortalecem o Executivo, esvaziam o Legislativo e manietam o Judiciário, para fazerem o que bem entendem, posando como salvadores da pátria. No Equador, Correa entrou em guerra com a imprensa e, como domina o Judiciário, adotou uma forma perversa de estrangular os meios de comunicação. Juízes aplicam multas astronômicas a donos de veículos e a jornalistas que ousam criticá-lo. Foi assim no caso de três diretores e do editor de opinião do jornal "El Universo", condenados a três anos de prisão e a uma multa de US$ 40 milhões (superior ao valor da própria empresa), por supostamente caluniarem o presidente. O jornalista, Emílio Palácio, acusou Correa de ter ordenado os disparos de militares contra um hospital onde o presidente se refugiara durante a tentativa de golpe de 30 de setembro de 2010. Situação semelhante vivem os jornalistas Juan Carlos Calderón e Christian Zurita Ron, autores do livro "El Grande Hermano", que detalha como o irmão do presidente teria se beneficiado de contratos com o governo, o que é ilegal. Os jornalistas afirmam no livro que Correa sabia dos contratos, e, por isso, foram condenados cada um a pagar multas de US$ 1 milhão. Correa negou que soubesse e ordenou o cancelamento dos contratos. Na última segunda-feira, entrou em vigor o ironicamente denominado Código da Democracia, uma lei que simplesmente proíbe os veículos de comunicação de divulgar entrevistas e reportagens com candidatos durante as campanhas eleitorais. Ou seja: a imprensa equatoriana está proibida de informar aos eleitores o que dizem, pensam e prometem os candidatos a representá-los nas diversas assembleias legislativas e instâncias do Executivo. É assustador como governantes latinoamericanos do Século XXI teimam em adotar práticas obscuras, ultrapassadas e já condenadas, por inviáveis, ao lixo da História.