Título: Não estamos na corrida às armas
Autor: Queiroz, Silvio
Fonte: Correio Braziliense, 10/09/2009, Mundo, p. 29

Chanceler colombiano defende acordos militares e diz que seu país só tem inimigos ¿internos¿

O ministro colombiano de Relações Exteriores, Jaime Bermúdez, manteve ontem em Brasília uma agenda breve e concentrada, que culminou na reunião com o colega Celso Amorim, mas começou por um encontro com o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Mas, em entrevista ao Correio, negou que o motivo da visita tenham sido os acordos militares que se sucedem na vizinhança: o de seu país com os Estados Unidos, que usarão bases em território colombiano, ou o do Brasil com a França, para aquisição de um pacote bilionário de material bélico. Bermúdez garante que a Colômbia ¿não está comprando armas para nenhuma atividade ofensiva¿, mas para combater ¿o narcotráfico e o terrorismo, que são problemas domésticos¿.

O senhor veio para continuar as discussões sobre o acordo militar com os Estados Unidos? Não, não, vim porque essa visita estava acertada havia muito tempo, para examinar todos os temas da agenda bilateral, regional e multilateral. Nesse assunto da cooperação militar com os Estados Unidos, a posição da Colômbia é muito clara: é um acordo que se restringe ao território colombiano, para a luta contra o narcotráfico e o terrorismo. Precisamos de instrumentos eficazes para essa luta, que bom se pudéssemos fechar mais acordos com países da região. E, assim como respeitamos os acordos de terceiros países, para compras de armas, cooperação, esperamos que o respeito seja recíproco.

O senhor falou em discutir na Unasul também as compras de armas da Venezuela, por exemplo. Isso se aplica ao pacote fechado pelo Brasil com a França? O que nós temos dito é que consideramos muito importante que se discutam todos esses assuntos. Se vamos discutir os acordos de algum país, então que se discutam todos.

O Brasil tem manifestado preocupação com uma corrida armamentista na região¿ A Colômbia não está em nenhuma corrida armamentista. Nosso país teve de fazer um esforço imenso para elevar sua capacidade de combater o narcotráfico e o terrorismo, que são problemas domésticos. Não estamos comprando armas para nenhum tipo de atividade ofensiva contra terceiros países.

Não causa inquietação que os vizinhos estejam se armando? O que importa é que tenhamos uma discussão transparente, com igualdade de condições entre todos os países. E que as suscetibilidades sejam colocadas, no contexto da Unasul, se os países assim entenderem. O Conselho de Defesa é um dos foros para essa discussão, mas existem entidades como o Conselho Permanente da OEA, onde se poderia ter uma discussão mais continental. E também no âmbito bilateral os países podem manter interlocução.

O governo colombiano argumenta que o acordo com os EUA é necessário para erradicar o terrorismo, mas os críticos questionam: por que, se as Farc estão dizimadas? A Colômbia fez progressos importantes na luta contra o narcotráfico, mas o problema não terminou. Passamos de 400 mil hectares cultivados com folha de coca, há sete anos, para 180 mil, que ainda é uma quantidade importante. Das Farc, tiramos de combate uns 15 mil combatentes e conseguimos limitar sua capacidade em várias partes do país, mas restam 5 mil a 7 mil em armas. Precisamos dos acordos (com os EUA) para derrotar o terrorismo e o narcotráfico, que são delitos transnacionais, que não atingem apenas a Colômbia, mas o mundo inteiro.