Título: Avançam as eleições
Autor: Coimbra, Marcos
Fonte: Correio Braziliense, 23/09/2009, Política, p. 5

Estranhos caminhos esses da política. Os adversários de Lula fizeram como ele queria e vêm unidos para a eleição. Seus amigos, passados ou atuais, é que implodiram a estratégia que ele montou para 2010.

Tendo sido deflagradas tão cedo, só agora as próximas eleições presidenciais começam a assumir contornos mais nítidos. É que em 3 de outubro, quando faltar um ano exato para o pleito, chegamos a uma data em que várias decisões importantes têm que estar tomadas.

Até lá, todos os partidos que vão participar das disputas precisam ter obtido registro de seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ninguém espera uma novidade tão grande quanto um novo partido ser formado e solicitar registro em tempo de lançar candidato a presidente. Mas, como nossos políticos são sempre pródigos de invenções de última hora, não custa prestar atenção nisso.

É, também, a data limite para definição do chamado domicílio eleitoral, que vem a ser o registro do título eleitoral do candidato na circunscrição na qual pretende concorrer. Nas eleições presidenciais, não costuma ser relevante, pois eleitores de qualquer lugar podem disputar o cargo.

Nas eleições do ano que vem, no entanto, a data ganhou algum significado. É quando saberemos se Ciro Gomes deseja manter o suspense em relação a seus projetos, se deixa seu título no Ceará ou o transfere para São Paulo, cedendo às investidas de Lula para ficar como opção para o governo do estado. Ele tem dito que não, que não pensa (mais) no assunto. Considerando quão sedutor pode ser o presidente, é bom, no entanto, esperar para ver o que ele vai fazer.

O 3 de outubro é, ainda, o dia em que os candidatos devem estar com sua filiação partidária deferida, ou seja, deve ter tramitado e sido aceita nos termos dos estatutos de cada partido. Os principais lances da sucessão que têm a ver com a questão já foram jogados, mas algumas especulações a respeito de filiações ou trocas de partido ainda são feitas.

Uma possibilidade com a qual ninguém mais raciocina é a mudança de partido do governador Aécio Neves. Muita gente, incluindo muitos de seus simpatizantes, torceu para que ele deixasse o PSDB, onde sua candidatura enfrenta a concorrência de José Serra, e entrasse em outro partido. Hoje, quando faltam 10 dias para a data fatídica, a hipótese pode ser descartada.

A transferência de Marina Silva, que saiu do PT para ser candidata pelo PV, já ocorreu e alterou profundamente o quadro sucessório. Do plebiscito sonhado por Lula, no qual pretendia que a eleição de 2010 se resolvesse na comparação de seu governo com o de Fernando Henrique, fomos para uma eleição mais convencional, com diversas opções no primeiro turno. Foi por entender que isso se tornou inevitável que Ciro voltou a assumir que é candidato a presidente.

Dentre as opções que poderemos ter, uma não estava nas cogitações de quase ninguém: Henrique Meirelles. Roberto Jefferson, presidente do PTB, está, no entanto, pensando seriamente nela. Tanto que, segundo a imprensa, já o teria convidado a se filiar ao partido e a concorrer ao posto de Lula.

Talvez não seja mais que um devaneio do ex-deputado, que deve ansiar por ver o seu PTB de volta ao primeiro plano das negociações, com tudo que daí decorre. Mas não é uma ideia absurda, se viermos mesmo a marchar para uma eleição parecida com a de 1989, com espaço para muitas candidaturas.

O curioso é que, em um cenário como esse, poderíamos ter, de um lado, um candidato do bloco oposicionista ¿ Serra ou Aécio ¿ e, do outro, um batalhão de nomes próximos ao governo. Só de ex-ministros poderiam ser quatro: Dilma, Ciro, Marina e Meirelles (sem contar Cristovam Buarque, que continua nas cogitações do PDT). Com, quem sabe, Heloísa Helena, seriam cinco ou seis nomes ligados, em algum momento, a Lula.

Estranhos caminhos esses da política. Os adversários de Lula fizeram como ele queria e vêm unidos para a eleição. Seus amigos, passados ou atuais, é que implodiram a estratégia que ele montou para 2010.