Título: Petrobras busca maximizar produção
Autor: Mendes, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 23/09/2009, Economia, p. 10

Única operadora em todos os blocos, companhia usará tecnologia para baixar custos de extração.

O Brasil será um grande produtor de combustíveis e vai aumentar a capacidade de produção de petróleo e derivados¿ José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras

O fato de a Petrobras ser a única operadora em todos os blocos do pré-sal pode aumentar a eficiência e reduzir os custos de exploração. A afirmação é do presidente da companhia, José Sergio Gabrielli, que assegurou que a empresa reúne condições para cumprir esse papel. ¿O operador é o responsavel pela condução dos projetos, pela proposição da tecnologia. A importância do operador é maximizar a capacidade de produção. Se você já tem infraestrutura instalada, o fato de ter um operador único aumenta a eficiência, baixa o custo de exploração, como faz hoje a nossa frota de barcos de apoio, que serve a vários campos¿, observou. ¿É diferente do que ter operação fragmentada¿, argumentou.

A despeito de o Brasil ser pioneiro na extração do petróleo em águas ultraprofundas, Gabrielli afirmou que não há grandes desafios tecnológicos a serem vencidos. ¿Nós praticamente sabemos como definir sistemas flutuantes, desenhar e especificar os sistemas que ligam a superfície ao fundo do mar, comprar e definir os equipamentos que precisam ficar na boca do poço, no fundo do mar. Também sabemos como fazer a perfuração e como completar a perfuração¿, afirmou. ¿Sabemos como tirar o óleo¿, frisou Gabrielli.

Segundo o executivo, o que se desconhece é como a natureza funciona e, para isso, estão sendo feitos os testes de longa duração. ¿Não sabemos como os reservatórios funcionam. E o que não sabemos é a permeabilidade e a porosidade sob pressão em um reservatório que carbonático, portanto, é quase um giz que vai estar sob pressão de água, sob pressão de temperatura, em uma área isolada há 150 milhões de anos¿, explica. ¿Como se vai saber? Através do teste de longa duração. E quando iniciarmos a produção, vamos saber. É isso que vamos fazer em Tupi, que estamos fazendo no Parque das Baleias, vamos começar a produzir¿, afirmou. Gabrielli salientou que está sendo desenvolvido um projeto pioneiro para fazer a liquefação de gás em alto mar, sem precisar transportá-lo à superfície. Segundo Gabrielli, a produção do pré-sal é economicamente viável, mesmo com o valor do barril inferior a US$ 45.

Investimentos A Petrobras possui grandes investimentos que independem da exploração de novas áreas. Até 2013, a companhia investirá US$ 174,4 bilhões. ¿Precisamos de 296 novas embarcações, vamos contratar 40 sondas de perfuração ¿ 12 estão contratadas e 28 são para depois de 2013 ¿ e vamos exigir que essas sondas sejam produzidas no Brasil¿, ressaltou o presidente da Petrobras. O executivo se refere ao pacote de incentivos à indústria nacional, que está sendo elaborado pelo governo para garantir uma participação expressiva das empresas brasileiras no fornecimento de equipamentos para o pré-sal. ¿Isso significa que temos que trabalhar com uma cadeia de fornecedores¿, reforça.

O potencial do mercado brasileiro é enorme. Em 2013, a produção de petróleo atingirá 3,6 milhões de barris por dia e, em 2020, com o pré-sal, saltará para 5,7 milhões. O investimento em novas refinarias permitirá que a capacidade de refino aumente de 2,3 milhões de barris diários para 3 milhões em 2020.

Desafio a ser superado

Graziela Reis Liana Verdini Breno Fortes/CB/D.A Press

A Petrobras vai priorizar os campos mais produtivos¿ Delcídio Amaral, senador (PT-MS)

Os obstáculos para o pré-sal sair do papel vão muito além da distância de até sete mil metros de profundidade no meio do mar para exploração das ricas jazidas de petróleo e gás natural. Além das discussões em cima dos projetos de lei que definem o marco regulatório, haverá grandes desafios tecnológicos para serem superados. Segundo o senador Delcídio Amaral (PT/MS), que participou ontem do seminário Pré-sal e o Futuro do Brasil, promovido pelo Correio Braziliense e Estado de Minas, a complexidade do assunto deverá frustrar as expectativas da ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, para uma aprovação dos projetos de lei no Congresso e no Senado ainda este ano. ¿Só sai no primeiro semestre de 2010¿, afirmou o senador.

Para Delcídio, o novo modelo de exploração híbrido, envolvendo partilha e concessão, dependendo da jazida, não será o maior entrave. A criação do Fundo Social, que recebeu 301 emendas, também não será a mais polêmica, segundo o senador. Mas ele acredita que as demais propostas ¿ a que torna a Petrobras operadora e compradora única do pré-sal, a que cria a Petrosal com grande concentração de poder entre seus representantes, a da participação especial no regime de partilha e a da capitalização da Petrobras ¿ estarão entre as questões mais difíceis. ¿No caso da operadora única, é melhor deixar as coisas fluírem. A Petrobras vai priorizar os campos mais produtivos em detrimento de outros com potencial menor. Por isso, é importante ter flexibilidade¿, disse.

Além dos debates em torno do marco regulatório, Delcídio lembra que depois que a regulamentação for aprovada irão aparecer os obstáculos tecnológicos. A reserva do pré-sal não tem um comportamento parecido com o pós-sal ou com os campos já prospectados, como Tupy, Iara ou Parque das Baleias. ¿Os comportamentos são diferentes e vão exigir tecnologias diferentes¿, afirmou o senador, que foi diretor de Gás e Energia da Petrobras. ¿A Petrobras vai priorizar os campos mais produtivos¿, disse.

Oportunidade O debate sobre o marco regulatório rendeu, contudo, a constatação de que o país ganhou uma grande oportunidade com a descoberta do petróleo na camada pré-sal e o momento atual deve ser dedicado a encontrar a melhor maneira de aproveitar a nova riqueza e fazer o país avançar em seu desenvolvimento econômico, de forma sustentável, e social. Para o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Hélder Queiroz, integrante do grupo de trabalho que forneceu subsídio para as propostas em discussão no Congresso Nacional, o pré-sal é a nova fronteira da indústria petrolífera mundial. ¿O Brasil continuará seduzindo as empresas internacionais a investirem aqui¿, afirmou.

Mas ainda pairam incertezas sobre a divisão dos royalties e a capacidade de investimento da Petrobras como operadora única de todos os campos da camada pré-sal. ¿Hoje a Petrobras investe US$ 100 milhões por dia. Isso pode requerer um esforço ainda maior da empresa, o que pode levá-la à asfixia¿, disse. A preocupação foi rebatida pelo senador Aloizio Mercadante (PT-SP). ¿Precisamos pensar se queremos uma empresa de ponta ou se queremos vender óleo cru. Se for vender óleo, é só manter as regras como são¿, disse.

A postergação da discussão dos royalties foi defendida pelo deputado federal Luiz Paulo Velloso Lucas (PSDB-ES). ¿A proposta do governo tem os mesmos erros da reforma tributária. Começou pelo que nos divide e não pelo que nos une. E aí temos um debate maluco sobre uma receita que é virtual¿, avaliou. O deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) afirmou que o Brasil não pode perder a oportunidade de transformar a riqueza do pré-sal em desenvolvimento econômico sustentável. ¿Precisamos promover o desenvolvimento tecnológico, garantir uma revolução na educação e não perder a oportunidade de se manter na vanguarda das energias renováveis¿, sugeriu.

Debate no DF

Paulo Hartung

Eduardo Campos

Jacques Wagner

Temas como a arrecadação e a distribuição dos dividendos do pré-sal voltam a ser debatidos hoje, em Brasília, durante o seminário Pré-sal e o futuro do Brasil, pomovido pelo Correio Braziliense e Estado de Minas. É a primeira vez que os assunto é discutido publicamente em conjunto pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, os governadores do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB); de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB); e da Bahia, Jacques Wagner (PT), além de senadores e deputados. Também estão em pauta o novo marco regulatório, o papel das empresas privadas e da nova estatal.

Programação

Seminário Pré-sal e o futuro do Brasil Local: Complexo Brasil 21 Meliá - Brasília/DF

23/9 - Hoje 10h ¿ Abertura A nova independência do Brasil Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão

11h ¿ 1º painel A contribuição da Câmara dos Deputados ao novo marco regulatório Deputados federais Antônio Palocci (PT-SP), Henrique Alves (PMDB-RN), Arnaldo Jardim (PPS-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) e senador Renato Casagrande(PSB-ES)

15h ¿ 2º painel A distribuição dos dividendos do pré-sal Governadores do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB); de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB); e da Bahia, Jacques Wagner (PT)

Informações: (61) 3326-8970

O que eles disseram... Breno Fortes/CB/D.A Press

O Brasil tem oportunidade única e nós precisamos fazer o debate com propriedade e bom senso, sem eleitorizar, porque seria uma grande perda¿ Rodrigo Rollemberg, deputado federal (PSB-DF)

Breno Fortes/CB/D.A Press

O pré-sal é a nova fronteira da indústria petrolífera mundial e o Brasil continuará seduzindo as empresas internacionais a investirem aqui¿ Hélder Queiroz, professor do Instituto de Economia da UFRJ

Breno Fortes/CB/D.A Press

A evolução do mercado de petróleo, com as questões ambientais envolvidas, exige que se pare e que se reflita sobre todas as mudanças no marco regulatório¿ Luiz Paulo Velloso Lucas, deputado federal (PSDB-ES)

Breno Fortes/CB/D.A Press

Há o risco de não explorarmos os blocos de menor potencialidade. A área de exploração tem uma dimensão muito grande¿ João Carlos de Luca, presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP)

Breno Fortes/CB/D.A Press

O que está em jogo é o futuro do país, se seremos um país desenvolvido e industrializado¿ Aloizio Mercadante, senador (PT-SP)