Título: Hollande perto da maioria no Parlamento
Autor: Eichenberg , Fernando
Fonte: O Globo, 11/06/2012, O Mundo, p. 31

PARIS . O bloco de esquerda leva vantagem para constituir a maioria no Parlamento após os resultados do primeiro turno das eleições legislativas na França. Segundo uma projeção do Instituto Opinionway, o Partido Socialista (PS) obteria, inclusive, a maioria absoluta no segundo turno - o que não ocorre desde 1981 -, sem necessitar do apoio de grupos aliados para aprovar projetos de lei na Assembleia. Os socialistas conquistariam, de acordo com o instituto de pesquisa, entre 293 e 323 do total de 577 assentos (289 é o mínimo necessário para configurar a maioria), e os deputados projetados para a direita da União por um Movimento Popular (UMP) contabilizariam entre 218 e 248.

Os eleitores confirmaram ontem a tendência do pleito presidencial, vencido há pouco mais de um mês pelo socialista François Hollande. Segundo as últimas estimativas, a esquerda obteve 46,7% dos votos, sendo pouco mais de 34% para a coalização liderada pelo PS. Apesar de derrotada, com desempenho inferior ao do pleito de 2007, a direita da UMP evitou o temido naufrágio eleitoral após o fracasso de Nicolas Sarkozy na tentativa de reeleição ao Palácio do Eliseu, com um apoio ontem de 34% dos votos.

Índice de abstenção supera o de últimas votações

A Frente de Esquerda, liderada por Jean-Luc-Mélenchon, teria 6,9% dos votos (de 13 a 20 deputados), um pouco acima dos 5,3% (entre 12 e 16 assentos) atribuídos ao grupo Europa Ecologia-Verdes. O partido centrista MoDem é apontado como o grande perdedor deste pleito, com menos de 2% do total .

O primeiro-ministro Jean-Marc-Ayrault, vitorioso já na primeira rodada eleitoral em sua circunscrição, fez um apelo pelo comparecimento às urnas no segundo turno para dar aos socialistas a maioria absoluta.

- Tudo estará em jogo na semana que vem. Precisamos da maioria no próximo domingo. Conclamo os franceses a se mobilizarem em 17 de junho para dar ao presidente a maioria ampla, sólida e coerente - disse.

Além de Ayrault, quatro dos 25 ministros do governo Hollande candidatos nas legislativas se elegeram no primeiro turno. Pelo lado da UMP, a estratégia foi a de ressaltar uma votação parelha com a do Partido Socialista neste primeiro turno legislativo.

- O mínimo que podemos dizer é que a onda rosa tão anunciada pelo PS não veio - disse o líder da UMP, Jean-François Copé, ao procurar manter o ânimo de sua trupe para o segundo turno.

Com 13,6% dos votos, o triplo em relação a 2007, a extrema-direita da Frente Nacional (FN) não contaria com mais de dois deputados. Mas deve eleger para o Parlamento, no segundo turno, sua líder, Marine Le Pen, que venceu com facilidade - com 42,36% dos votos - o emblemático confronto com o Jean-Luc Mélenchon, chefe da Frente de Esquerda.

- Seu fracasso (de Mélenchon) demonstra sua total desconexão com o eleitorado popular - comemorou Le Pen.

A extrema-direita não poderá formar um grupo parlamentar, com exigência mínima de 15 deputados, mas a presença de Le Pen é considerada um novo marco no tabuleiro político francês.

O índice de abstenção também se tornou notícia, pois os 42,77% registrados são um recorde em relação às eleições precedentes: 39,6% em 2007, 35,6% em 2002 e 34,3% em 1988.