Título: Jobim reitera favoritismo francês
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 17/09/2009, Mundo, p. 37

Grande parte dos senadores que participaram das quase cinco horas de audiência pública com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Senado, saiu insatisfeita com as declarações do convidado. Jobim, que deixou clara mais uma vez a ¿preferência política¿ pela proposta francesa para a venda de 36 caças à Força Aerea Brasileira (FAB), se limitou a argumentos ideológicos e de ¿precedentes¿ para praticamente descartar a principal concorrente da francesa Dassault no programa FX-2: a norte-americana Boeing.

Durante duas horas, o ministro, que havia acabado de chegar de sua viagem a Quito, onde participou da reunião da União de Nações Sul-americanas (Unasul), fez uma retrospectiva dos acordos fechados com a França para a compra de cinco submarinos e 50 helicópteros. Sobre os caças Rafale, da Dassault, no entanto, Jobim confirmou que as garantias dadas pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, durante sua visita a Brasília em 7 de setembro, foram decisivas. ¿O brigadeiro (Juniti) Saito afirmava, naquele momento, que havia uma grande diferença de valores oferecidos pela Dassault e os outros dois concorrentes. Sarkozy então disse que faria um valor competitivo ou, pelo menos, em um primeiro momento, um valor compatível com os preços que são praticados pela Força Aérea francesa¿, disse.

O ministro deixou ainda transparecer que o governo se deixou seduzir pela oferta de transferência de tecnologia ¿irrestrita¿ dos franceses frente à transferência ¿necessária¿ proposta pelos americanos. ¿A irrestrita é total e absoluta. (¿) O problema (da oferta da Boeing) é saber qual é a autoridade que definirá o que é a transferência de tecnologia necessária¿, afirmou Jobim, que lembrou do histórico ruim com Washington. ¿O primeiro país que nós conversamos (sobre transferência) foi os EUA, e eu disse, que, como advogado, trabalhava com precedentes. Então, mostrei que os precedentes americanos não os qualificavam, uma vez que tivemos uma série de embargos de transferência de tecnologia nos últimos anos¿, declarou.

Com uma expressão de desânimo e a frase ¿47% das partes integrantes do (caça) Gripen NG são dos Estados Unidos¿, Jobim praticamente descartou a proposta sueca. O argumento do ministro foi rebatido pelo senador Sérgio Guerra (PSDB/PE). ¿Isso ainda não está definido¿, disse o parlamentar, fazendo referência ao fato de que o avião oferecido pela Saab ainda seria desenvolvido em parceria com o Brasil.

Durante a sessão, o senador Heráclito Fortes (DEM/PI) questionou se a concorrência não era ¿um jogo de cartas marcadas¿. ¿Parece que todo este trabalho feito pelo Saito foi jogado por terra¿, comentou. Para Guerra, Jobim falou muito, mas não tratou da principal questão em relação aos caças. ¿Por que antecipar uma afirmação deste tipo em um processo que está se desenvolvendo, antes da decisão técnica?¿, questionou, em referência ao comunicado emitido pelo Planalto há 10 dias em que declarava abertas as negociações com o Rafale. ¿Não há mais chance nenhuma, isso está resolvido. É dos franceses¿, declarou.

"Mostrei que os precedentes americanos não os qualificavam, uma vez que tivemos uma série de embargos de transferência de tecnologia nos últimos anos¿