Título: BCs do mundo voltam à carga
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Fonte: O Globo, 06/07/2012, Economia, p. 29

Foi uma autêntica ação coordenada. Em menos de uma hora, três grandes bancos centrais adotaram medidas de estímulo à economia, do corte de juros à injeção de recursos no sistema financeiro. Primeiro o Banco da Inglaterra, o BC britânico, anunciou que retomaria a impressão de dinheiro para comprar 50 bilhões de libras em papéis nos mercados. Essas operações, que já atingiram 325 bilhões de libras, haviam sido suspensas há dois meses. Pouco depois, o Banco Popular da China anunciava a redução de sua taxa básica de empréstimo, de 6,31% para 6%. Já as taxas de depósito caíram de 3,35% para 3%. Foi então a vez de o Banco Central Europeu (BCE) cortar sua taxa básica de 1% para 0,75%, e a de depósito passou de 0,25% para zero.

- Essas ações passam a sensação de uma campanha coordenada global de afrouxamento monetário - disse à agência de notícias Bloomberg News Nick Kounis, diretor de Pesquisa do banco holandês ABN Amro. - Os bancos centrais estão tentando conter a desaceleração sincronizada da economia global.

Com a injeção anunciada ontem, as compras do Banco da Inglaterra chegarão a 375 bilhões de libras. A instituição manteve sua taxa básica na mínima histórica de 0,5% - o mesmo patamar desde março de 2009. A economia britânica registrou retração de 0,1% no primeiro trimestre deste ano, frente ao mesmo período de 2011.

Na China, a expectativa é com a divulgação do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos), no próximo dia 13. Para analistas, o BC chinês pode já saber que o PIB vai desapontar, ou então queria passar a ideia de uma ação coordenada. A medida não era esperada e, segundo especialistas, é um sinal de que o BC chinês não está mais tão preocupado com a inflação, que recuou de 6,5% em julho do ano passado para 3% em maio. As projeções para o índice de junho, a ser anunciado segunda-feira, são de 2,3%.

- As autoridades monetárias podem ter imaginado que cortar os juros no mesmo dia em que o BCE teria um impacto maior, encorajando discussões sobre uma resposta coordenada à desaceleração da economia global - disse à agência Reuters Mark Wiliams, economista da Capital Economics, referindo-se à ação do BC chinês.

Analistas estão céticos sobre efeitos

O presidente do BCE, Mario Draghi, negou ter havido uma ação coordenada dos BCs, como foi feito depois da quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, em setembro de 2008.

- Não, não houve (coordenação) além da habitual troca de opiniões sobre o estado da economia e da demanda global - disse Draghi a repórteres, após anunciar a decisão do BCE.

Ao ser perguntado se a situação atual da economia é tão ruim quanto a observada no fim de 2008, ele respondeu:

- Decididamente não.

Draghi ressaltou, no entanto, que o cenário para a economia europeia ainda apresenta riscos de desaceleração e que as incertezas estão afetando a confiança na região. Segundo ele, há sinais de queda na atividade nos 17 países da zona do euro.

Isso tirou o ânimo dos investidores, e os principais mercados europeus fecharam em queda, à exceção de Londres, que avançou 0,14%. Frankfurt recuou 0,45% e Paris, 1,17%. Madri e Milão caíram com mais força: 2,99% e 2,03%, respectivamente. Em Nova York, a bolsa eletrônica Nasdaq fechou estável, mas Dow Jones e S&P caíram 0,36% e 0,47%, respectivamente.

A questão é se as medidas vão funcionar. George Buckley, economista-chefe do Deutsche Bank em Londres, disse ao "New York Times" que a injeção de recursos anunciada ontem deve ter um impacto de 0,5% no PIB britânico. Mas ele ressalta que esses efeitos serão limitados pela crise da dívida na zona do euro.

Joy Yang, economista-chefe da Mirae Asset Securities em Hong Kong, explicou à Bloomberg que o corte nos juros não terá grande influência na demanda, e que os investidores preferiam ver estímulos fiscais e reformas econômicas.

As expectativas agora se voltam para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que próxima reunião ocorrerá em 31 de julho e 1 de agosto, e para o Banco do Japão, que se encontra na semana que vem. Há duas semanas, o Fed prorrogou, por mais seis meses, seu programa de compra de títulos no mercado, avisando que poderia tomar mais medidas se fosse necessário. Os Estados Unidos divulgam hoje os dados de desemprego de junho. Analistas projetam a criação de 90 mil vagas - um sinal positivo, mas ainda fraco devido ao elevado desemprego no país, hoje em 8,2%.