Título: Fui torturada com tapas e ameça psicológica
Autor: Uribe, Gustavo
Fonte: O Globo, 26/06/2012, O País, p. 4

Ministra Eleonora Menicucci relatou, em 2001, o que sofreu ao ser levada para Minas pelos militares

BELO HORIZONTE . Em depoimento sobre a época em que esteve presa, durante a ditadura militar, a ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres, disse que, além de lhe darem choques elétricos e socos, torturadores ameaçaram prender sua filha, na época com pouco mais de um ano. A série de torturas físicas e psicológicas ocorreu em 1971, em Juiz de Fora (MG). Trechos do relato da ministra ao Conselho dos Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG), entregue como carta ao órgão em 2001, foram publicados ontem pelo jornal "Estado de Minas".

Assim como a presidente Dilma Rousseff, a ministra foi indenizada pelo governo de Minas por ter sido vítima de tortura por agentes do Estado nos anos 70. Para requerer a indenização, Eleonora, diferentemente de Dilma, não foi ouvida pelo órgão; só mandou uma carta com o relato, documento considerado suficiente para caracterizar a tortura, junto a outras provas, segundo a lei que prevê a reparação. Ela recebeu R$ 30 mil.

"Fui torturada no próprio quartel com choques elétricos, tapas, socos e muita ameaça psicológica de que não voltaria viva para São Paulo, que voltaria separada de Ricardo (Prata Soares, seu marido), que eles me matariam durante a viagem e depois diriam que foi um acidente, que prenderiam novamente a minha filha", registrou Eleonora na carta, enviada ao Conedh-MG em 7 de maio de 2001.

Presa em São Paulo, ela foi levada em novembro de 1971 ao quartel de Juiz de Fora, segundo ela, depois de viajar "brutalmente algemada". Disse que não se lembrava dos nomes dos torturadores. Eleonora contou também que pediu a um carcereiro uma revista para ler e que recebeu um catálogo telefônico.

"Se quiser ler, leia isto, que lhe fará muito bem. É divertido. É uma leitura leve e vocês, terroristas, não necessitam mais que isso, sobretudo as mulheres que têm filhas como você", disse o carcereiro, segundo Eleonora.