Título: Minc contra-ataca
Autor: Santos, Danielle
Fonte: Correio Braziliense, 24/09/2009, Brasil, p. 21

Ministro do Meio Ambiente rebate as ofensas de Puccinelli e diz que o governador do Mato Grosso do Sul precisa de tratamento para poder assumir sua homossexualidade

Minc, revoltado com Puccinelli: ¿Ele pode sair do armário¿

Era para ser apenas a abertura de um seminário sobre políticas de proteção das florestas tropicais do Brasil, mas quem esteve presente no evento pode notar que o foco das discussões girou em torno das críticas ofensivas do governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, direcionadas ontem ao ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, por conta da exclusão das terras da Bacia do Alto Paraguai do plano do governo de expansão do plantio da cana-de-açúcar.

Na linha de frente, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, teceu vários elogios sobre a gestão do colega antes de lançar fogo a Puccinelli. Ele lembrou que muitos avanços foram feitos para reduzir o desmatamento da Amazônia desde a chegada de Minc ao cargo, apesar das controvérsias de certos governadores. Para esquentar o clima, Rezende se disse chocado com a atitude ¿descabida¿ do governador e ressaltou que os comentários sobre o ministro partiram de um ¿troglodita de direita¿, expressão mencionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante um discurso recente em que demonstrou satisfação ao ver que nas eleições de 2010 todos os candidatos têm uma origem da esquerda.

Terapia

Em defesa própria, Minc citou o fundador da psicanálise, Sigmund Freud, para dizer que o governador sul-matogrossense precisa se tratar. ¿Segundo Freud, pessoas que não assumem seu homossexualismo tentam agredir outras por não se aceitarem. Eu sou um defensor dos homossexuais, tenho leis sobre isso e quero dizer para o governador que ele pode sair do armário, que nós defendemos todos os homossexuais, assumidos ou enrustidos.¿

O ministro disse se sentir surpreso diante do ¿ataque de histeria¿ do governador, justamente por ter conversado com ele há dois meses e acreditar ter colocado um ponto final no assunto. Questionado se iria abrir um processo judicial pedindo o afastamento de Puccinelli do cargo, o ministro foi categórico: ¿Isso não é coisa de Justiça, é de terapia. No fim, ele não me agrediu, ele agrediu a si próprio e se revelou um truculento, um estuprador do pantanal, um estuprador de si próprio ao revelar uma face tão preconceituosa e violenta¿, rebateu.

Para saber mais

O governo federal lançou no última dia 17 um plano de delimitação das áreas para o plantio da cana-de- açúcar. A proposta, que será encaminhada ao Congresso Nacional por meio de projeto de lei (PL), prevê a liberação de 64 milhões de hectares com objetivo de avançar na política da produção de etanol e açúcar. A previsão é de que com as novas regras a expansão ocorra em 7,5% do território nacional.

O governo, por sua vez, excluiu, além da Bacia do Alto Paraguai, áreas de vegetação nativa, da Amazônia e do pantanal para essa finalidade. Além da delimitação das áreas, o PL prevê também a extinção do corte manual das lavouras, que utilizam a prática da queimada, favorecendo a emissão de gases do efeito estufa. Para isso, o setor deverá ser mecanizado até 2017.

Em busca de compensações Marcos Michelin/EM - 25/4/06 Colheita de cana-de-açúcar: por divergências, plano de expansão do plantio levou um ano para ser lançado

Não é só o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, que anda descontente com a decisão do governo. O vizinho Blairo Maggi, de Mato Grosso, também está irritado e já correu para recuperar o prejuízo. Na semana passada, ele pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que crie uma política de compensação por conta da retirada de oito usinas de álcool que o estado tem na Bacia do Alto Paraguai e que serão desativadas. A falta de sintonia ficou mais evidente quando os dois, presentes em Brasília, não fizeram questão de comparecer ao anúncio do lançamento da delimitação das áreas para o plantio da cana.

A posição dos governadores vai de encontro ao pensamento do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que deixou claro em vários embates com o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, o interesse pelas terras da Bacia do Alto Paraguai. As divergências entre as duas alas governistas teriam atrasado, inclusive, o lançamento do plano, que demorou um ano para sair do papel.(DS)