Título: Reitores e SBPC criticam lei de cotas por ferir autonomia de universidades federais
Autor:
Fonte: O Globo, 09/08/2012, O País, p. 9

Aprovado pelo Senado nesta terça-feira, o projeto de lei que determina a reserva de pelo menos 50% das vagas em universidades federais para estudantes que cursaram o ensino médio na rede pública e para negros, pardos e indígenas foi criticado pelo presidente da Andifes, associação que representa reitores das federais. Mesmo defendendo ações afirmativas, Carlos Maneschy argumenta que várias universidades já adotam cotas e critica a imposição de um mesmo modelo em todo o país, o que fere a autonomia universitária em sua opinião.

- Na minha própria universidade, já adotamos cotas desde 2008. No entanto, acreditamos que esses programas devem seguir o princípio da autonomia universitária. Do jeito que está, é um confronto à autonomia - afirma Maneschy.

A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, concorda.

- A SBPC é a favor de ações afirmativas. Mas, em nome de um projeto justo, o governo está generalizando tudo o que já acontecia - diz Helena.

João Feres Júnior, professor de Ciência Política do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj, é favorável à lei.

- A partir do momento em que a rede pública é valorizada, que ela se torna uma fonte de acesso às universidades federais, várias classes econômicas vão passar a procurar essas escolas e, por isso, elas serão mais vigiadas. Se atrai as classes mais altas, atrai o interesse do governo.

O economista Simon Schwartzmann, do Instituto de Estudos Trabalho e Sociedade (Iets), discorda. Ele argumenta que a entrada dos mais pobres na universidade é uma opção legítima, mas vê problemas na manutenção da qualidade.

- É muito difícil manter o padrão acadêmico recebendo metade dos alunos com má formação. A universidade vai precisar lidar com dois públicos muito distintos. Ou diminui a exigência acadêmica ou a evasão será altíssima, com consequências desastrosas.