Título: Ministro do Supremo critica rito do mensalão e admite atraso
Autor: Costa, Mariana Timóteo da
Fonte: O Globo, 11/08/2012, O País, p. 4

Em SP, Marco Aurélio diz que julgamento pode terminar após eleição

SÃO PAULO O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), defendeu ontem a revisão do sistema utilizado pela corte para o julgamento do mensalão, que classificou como "obsoleto". Depois de participar de um evento em São Paulo, Marco Aurélio afirmou que está "exaurido e assustado" com o julgamento e seu formato que, para ele, "precisa urgentemente ser revisto". Segundo o ministro, que já havia defendido o desmembramento do processo para que réus sem foro privilegiado fossem julgados na primeira instância, o STF tornou-se "um cemitério de inquérito e ações penais".

O magistrado declarou ainda que o mensalão paralisou todo o Judiciário já que, ao avaliar um único processo, o STF "deixou numa fila cerca de 900 outros de extrema importância para a população". Marco Aurélio admitiu que o fim do julgamento pode não acontecer antes das eleições municipais de 7 de outubro.

- Estou exaurido de tanto ouvir. E sedento para que as explanações (da promotoria e da defesa) acabem para que, no próximo dia 16, comecemos logo a votar - disse o ministro, afirmando que seu voto será de improviso e que ainda não há nada resolvido sobre como se dará este voto entre os 11 ministros.

- Se cada ministro falar o que pensa e der a pena que achar correta, vai ser como um leilão, uma confusão que não sei se teremos resultado antes das eleições.

Marco Aurélio não compareceu à sessão de ontem no STF, afirmando ter "sido surpreendido pelo calendário do julgamento". Há um ano, havia assumido o compromisso de fazer a palestra de encerramento do 5º Congresso Brasileiro de Sociedades de Advogados, em São Paulo. Pediu licença ao presidente do STF, Ayres Britto, para se ausentar e solicitou que todo o conteúdo da sessão de ontem em Brasília lhe fosse enviado por vídeo para avaliação no fim de semana.

Mello afirmou ainda que concorda com as declarações de um dos advogados de defesa dos réus, Márcio Thomaz Bastos, de que o julgamento é uma "bala de prata", já que, com um único ato, os ministros podem condenar réus tão diversos.

- Era por isso que eu defendia o desmembramento, o julgamento somente de três réus, os três com foro privilegiado (João Paulo Cunha, Pedro Henry, Valdemar Costa Neto). O restante deveria ir a tribunais comuns, com direito a recursos, etc. O sistema todo é obsoleto. Começamos mal, e consertar isso é muito difícil. Estamos assustados com tanta coisa e realmente não há prazo para terminar - disse o ministro, para quem o STF deveria ser transformado num tribunal "estritamente constitucional".

Entre os processos parados, estão a votação do teto da aposentadoria e os reajustes da caderneta de poupança.

- O Estado estica a corda, o povo fica insatisfeito e começa a fazer barulho. Vamos ter uma época de paralisação.