Título: Eleição 2012: prévia para 2014?
Autor: Amorim, Silvia; Almeida, Amanda
Fonte: O Globo, 14/09/2012, O País, p. 14

As eleições municipais sempre são referidas como prévias para a eleição presidencial que se aproxima, notadamente nas capitais. Dentre estas destaca-se o desempenho dos partidos no Triângulo das Bermudas: São Paulo, Rio e Belo Horizonte, tanto pelos respectivos pesos políticos quanto eleitorais.

A 15 dias das eleições, as prévias de intenções de voto projetam a quebra do duopólio PSDB-PT. Mais do que isso, a fragmentação: o retorno da direita populista, de caráter janista-malufista, com Celso Russomanno em São Paulo; a consolidação do velho PMDB autêntico-pragmático, com Eduardo Paes, em dobradinha com Sérgio Cabral, finalmente agora em aliança preferencial com o PT carioca e nacional; em Belo Horizonte, a notável aliança de tucanos, petistas e socialistas, vitoriosos em 2008, não resistiu ao vislumbre do sucesso petista em 2014.

Uma coisa já está certa. O PSDB paulista não será mais o mesmo. A queda de Serra, projetando a sua derrota eleitoral, e o crescimento de Haddad, com sua provável ida para o segundo turno, abre uma avenida para Dilma, bem pavimentada. Se a intenção de Lula era partir a espinha do tucanato paulistano, ele já conseguiu, com, pasmem, a ajuda do próprio Serra. Ele, hoje, é protagonista de um fenômeno eleitoral inusitado: é o primeiro governante que padece de "desgaste de material" sem ter cumprido seus mandatos! Talvez, exatamente por isso.

No Rio, outra coisa também está certa. O sucesso do PMDB, na prefeitura e no governo estadual, apoiado nos governos petistas nacionais em aliança com o PT do Rio, inaugura uma nova fase política no município: o fim do brizolismo, com seus herdeiros espalhados na cidade, como bem aponta o colega Romero Jacob da PUC-Rio. Para 2014, internamente no âmbito do estado do Rio, a dobradinha Cabral-Paes projeta anos de felicidades. Aqui apenas Lindbergh Faria pode atrapalhá-los. Nacionalmente o Rio será também uma bela avenida para Dilma.

Na terceira ponta do triângulo, Belo Horizonte com Lacerda do PSB, mesmo com apoio tucano, consolida a presença de Eduardo Campos no Sudeste. Esta talvez seja a grande novidade destas eleições. O rompimento da aliança centro-esquerda em 2008, creditável ao erro estratégico do PT de agora, será uma pedra muito grande para Dilma em 2014. Eduardo Campos com um pé no Sudeste e a sua liderança no Nordeste, tendo Recife como maior base de apoio, credencia-se para voos mais altos, como já se fala muito para 2014. Para o tucano Aécio, com a queda de Serra em São Paulo, abre-se para ele caminho livre em suas pretensões presidenciais para 2014.

Este cenário político-eleitoral no Triângulo das Bermudas nos deixa numa situação inteiramente nova: com esvaziamento político dos tucanos paulistas, a ascensão de Aécio, o bom governo de Dilma e as reservas estratégicas do PMDB e do PSB, o embate PSDB-PT possivelmente persistirá, mas teremos uma mudança drástica no eixo político do país, onde o tucanato paulista estará fora.

Se este é o desejo, escondido, de Lula, creio que ele está a caminho.