Título: Tráfico comprou imóveis de projeto federal
Autor: Leite, Renata
Fonte: O Globo, 29/09/2012, Rio, p. 18

Operação da PF prende bando acusado de lavar dinheiro adquirindo moradias do Minha Casa, Minha Vida

A Polícia Federal fez ontem uma operação para desarticular uma quadrilha acusada de lavar dinheiro do tráfico comprando apartamentos do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal. Como mostrou o "RJ-TV", da TV Globo, o esquema acontecia em Senador Camará, território dominado pelo bando que era comandado por Márcio José Sabino Pereira, o Matemático, chefe do tráfico na Favela da Coreia morto em maio deste ano. Entre as quatro pessoas presas estão a viúva e a amante do bandido. Outros quatro suspeitos com mandados de prisão expedidos já estavam detidos, e sete continuam foragidos.

Agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF entraram na Favela da Coreia com o apoio de PMs e um veículo blindado. De acordo com as investigações, a quadrilha comprou pelo menos três imóveis por R$ 100 mil cada, quase o dobro do preço oficial (R$ 55 mil). Os apartamentos, que foram em parte subsidiados pelo governo federal por meio do projeto habitacional, não poderiam ser vendidos.

As transações ilegais ocorreram antes da morte de Matemático. O criminoso morreu após ser baleado em ação policial na Vila Aliança, Bangu. Desde então, sua viúva, Alessandra Pinto Pinheiro, e sua amante, Natália Rodrigues Marques, disputavam sua herança.

Imóveis de presente para mulheres

Os apartamentos comprados irregularmente foram colocados em nome de "laranjas" e dados de presente a Alessandra e Natália, que ganhavam dinheiro alugando os imóveis. Como a venda não é legal, a quadrilha utilizou os chamados "contratos de gaveta", registrados em cartório, como garantia. O morador contemplado pelo programa Minha Casa, Minha Vida aceitava assinar o documento que acordava a transferência do imóvel, sem qualquer escritura pública ou registro.

Além das mulheres, foram presos Everson Lopes, o Boquinha, que procurava moradores do conjunto habitacional dispostos a fazer a transação ilegal, e Carlos Alberto Braz. Quem vende imóvel do Minha Casa, Minha Vida não comete crime, mas entra para uma lista de pessoas que não poderão mais ser contempladas com esse tipo de financiamento com recursos públicos.

O Ministério das Cidades está apurando as denúncias. Os presos podem responder a inquérito por associação para o tráfico e lavagem de dinheiro.

A venda de apartamentos construídos na Rocinha e no Alemão por meio do PAC já foi alvo de denúncias. Nesses casos, porém, não houve evidências de envolvimento do tráfico. Outra irregularidade ocorreu em programas habitacionais de Campo Grande, Cosmos e Realengo. Na região, milicianos pressionavam moradores dos conjuntos a pagarem "taxas de segurança".