Título: Lula lá
Autor: Coimbra, Marcos
Fonte: Correio Braziliense, 07/10/2009, Política, p. 5

Sociólogo e presidente do instituto Vox Populi

Tendo chegado ao ponto em que está, o que pode acontecer com a popularidade de Lula? É possível que ela suba ainda mais? Até quanto?

São dúvidas razoáveis em um momento como este. Afinal, só dá Lula, para qualquer lado que se olhe.

Parece que tudo em que ele põe a mão dá certo. Mesmo seus desafetos mais antigos são obrigados a reconhecer que Lula vive uma fase excepcionalmente favorável, em que as boas notícias superam, em muito, as más. E, como se não bastassem todas dos últimos meses, nada menos que as Olimpíadas no Rio vieram para arrematá-las.

É possível que, no Planalto, se faça a conta para avaliar se valeu a pena o gasto de boas novidades que foi feito para debelar a crise de imagem que se esboçava em julho e agosto. A ameaça existia e, embora houvesse indicação de que Lula poderia atravessá-la sem ônus maior, o mesmo não se podia dizer de Dilma. Os problemas no Senado, o desgaste causado pela defesa de Sarney, as novas/velhas companhias do presidente, o horizonte estava cheio de nuvens ameaçadoras.

A carta do pré-sal, que já havia sido jogada antes em situação semelhante, foi lançada na mesa outra vez e afastou a tormenta que se formava. A página da crise do Senado foi virada, do jeito que Lula e a elite da casa queriam: nada mudou na correlação de forças com que o presidente conta para encerrar seu mandato livre de problemas maiores por lá.

Hoje, parece que foi desperdício. Com a onda de entusiasmo deflagrada pela vitória da candidatura do Rio pelos Jogos de 2016, o assunto Senado seria catapultado para longe do interesse da opinião pública. O pré-sal poderia ter ficado reservado para uma necessidade futura. Que virá, mais dia, menos dia, pois é assim que as coisas são. Da tempestade para a bonança e de volta à borrasca.

O fato é que, por enquanto, tudo são rosas para Lula. No front externo, coleciona aplausos cada vez mais calorosos dos formadores de opinião no Primeiro Mundo. Em uma América Latina onde as lideranças vão do cômico ao patético, é a estrela de grandeza maior. A cada dia, ganha mais uma manchete elogiosa de um jornal importante, daqueles que, até pouco tempo atrás, o viam com altíssimas suspeitas.

Dentro do país, quanto sua imagem pode melhorar? Quem tem 69% de ¿ótimo¿ e ¿bom¿ o que pode querer? Note-se que os restantes não desaprovam o que ele faz, pois 22% dizem que é ¿regular¿. Só 9% afirmam que é ¿ruim¿ ou ¿péssimo¿. Em outras palavras: apenas um em cada 10 cidadãos brasileiros está insatisfeito com o presidente que tem.

E isso era o que tínhamos mês passado, quando o Ibope fez a pesquisa citada, entre 11 e 14 de setembro. Nas três semanas transcorridas de lá até hoje, se houve mudança no que se refere a Lula, foi para melhor.

Do pré-sal, que ficou mais palpável depois que seu marco legal começou a ser discutido, à nova esquadrilha de caças ultramodernos e ao submarino nuclear. Do sucesso no enfrentamento da crise econômica internacional, reconhecido mundo afora, às perspectivas de crescimento para 2010, com os mercados mais animados que antes de setembro de 2008. Agora, as Olimpíadas. Tudo isso em pouco mais que 20 dias.

A popularidade de Lula está, porém, em tal nível que qualquer aumento é, na prática, irrelevante. Passar de 70 a 80% de avaliação positiva muda o quê? Se todos que acham regular o governo se convencerem de que é ótimo ou bom, será que algo de muito importante vai ocorrer? Lula vai adorar, seus admiradores vão admirá-lo ainda mais. E daí?

A única questão relevante para o que seremos nos próximos 4 ou 8 anos é saber se a nova popularidade de Lula se refletirá no aumento das intenções de voto em Dilma. Os 70% atuais não estão tendo, até o momento, impacto impressionante. Metade dos eleitores já sabe quem é a candidata do presidente. Mas ela não tem nada perto de 70% das intenções de voto dessas pessoas. Seus 12% a 17% estão muito aquém disso.