Título: Favoritos reconhecem incerteza em disputa no Congresso
Autor: Braga, Isabel; Gama, Junia
Fonte: O Globo, 05/11/2012, País, p. 5

Apesar de acordo com PT, peemedebistas ainda enfrentam resistências para presidir Câmara e Senado em 2013.

A três meses das eleições para os novos presidentes da Câmara e do Senado, marcadas para o início de fevereiro, o clima é de incerteza, a despeito de acordo já firmado entre PT e PMDB para que peemedebistas comandem as duas casas a partir de 2013. No Senado, a eleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) é provável, mas sua escolha ainda não foi expressa de forma clara pela maioria dos senadores. Já na Câmara, dois candidatos se apresentaram: Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), o favorito, e Júlio Delgado (PSB-MG), que corre por fora arrebanhando insatisfeitos.

A presidente Dilma Rousseff não pretende interferir diretamente na disputa do Congresso. Mas a presidente fará amanhã encontro com líderes e dirigentes de PT e PMDB para reafirmar os acordos entre os dois partidos. Os peemedebistas levarão ao Palácio do Alvorada uma lista de ações do partido em favor do PT, como a retirada da candidatura a prefeito de Leonardo Quintão em Belo Horizonte (MG), em favor do candidato do PT, Patrus Ananias, escolhido por Dilma e derrotado ainda no primeiro turno.

O PT tem feito o discurso público e oficial de que cumprirá o acordo com o PMDB para a presidência da Câmara, mas setores do partido tentam complicar esse jogo. Tanto é assim que, mesmo com essa garantia de apoio oficial, Henrique Eduardo Alves tem consciência de que sua eleição não está ganha, principalmente porque o voto para a presidência da Casa é secreto.

Alves busca apoio do PSD

Na última segunda-feira, Henrique Alves conversou com integrantes do PSD de Gilberto Kasssab em busca de apoio. Segundo deputados do PSD, no cenário atual, o partido está mais próximo do peemedebista, mas ainda é cedo para fechar formalmente o apoio. Henrique Alves já decidiu procurar outros partidos, como o PDT e o PR.

- Vou reunir as bancadas nos próximos dias, de maneira cautelosa, sem afogadilho. Quero conversar com os deputados, conquistar, convencer e mostrar porque quero o voto. Tudo tem sua hora. O "timing" (dos apoios formais dos partidos à candidatura) quem vai dizer são os partidos - afirmou Alves.

Nos bastidores, a candidatura de Júlio Delgado recebe apoio de petistas. O socialista se anima e diz estar disposto a encarar a disputa, mesmo sabendo que ao final as pressões podem desestabilizar suas pretensões. Oficialmente, o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, não avalizou sua candidatura. Mas também não impediu.

- A hegemonia de um só partido nas duas Casas é ruim para o governo e para os demais partidos da base - diz Delgado.

No Senado, Renan Calheiros adota a estratégia do silêncio em público e muita cautela. Mas com negociações intensas entre os colegas para garantir que seja o escolhido como sucessor de José Sarney (PMDB-AL). Sabe que enfrentará rejeição por causa do escândalo que o forçou, em 2007, a renunciar à presidência do Senado para não perder o mandato. Por isso, tem trabalhado mais em busca de apoios individuais do que de partidos. A disputa no Senado, como de praxe, só esquenta mesmo na virada do ano.