Título: Um não para a ministra
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 10/10/2009, Política, p. 2

Dilma cai na armadilha de afagar crianças em público e acaba repelida por Rian Santos, de apenas um ano e oito meses

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

Heiko Junge/AP

Guinaldo Nicolaevsky/PR FORAS INFANTIS Em três momentos, as fotos mostram autoridades tentando agradar crianças. No primeiro, Dilma ontem, na Basílica de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador, ao lado do garoto Rian. Na sequência, Lula com um bebê chorão em Oslo, em setembro de 2007. Na terceira fotografia, o instante em que, em 1979, o presidente João Figueiredo tenta receber um aperto de mão de uma menina, que, mesmo com a insistência dos fotógrafos e dos assessores do militar, permaneceu de braços cruzados.

Salvador ¿ Embora tente parecer mais maleável publicamente, no quesito simpatia, a ministra da Casa Civil não conseguiu convencer uma criança. Rian Santos, de um ano e oito meses, deixou Dilma em uma saia-justa ao negar um beijo a ela. O menino foi enfático na saída de uma missa, na Basílica de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador, ontem, quando a ministra, num clima de campanha eleitoral, carinhosamente fez o pedido. ¿Não¿, respondeu a criança, no colo da mãe. Mesmo assim, mostrando um jogo de cintura importante para enfrentar uma campanha eleitoral no ano que vem, Dilma beijou Rian.

O episódio remonta a gafes memoráveis da vida política nacional que não poupam nem figuras carismáticas como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em setembro de 2007, durante uma viagem oficial à Noruega, Lula tentou brincar com um bebê entre os populares que estavam fora do Palácio Real de Oslo em função da visita do presidente. Mas o garoto, para surpresa de Lula, começou a chorar de forma estridente no ombro de Lula. A cena foi estampada em capas de jornal e arrancou risadas até mesmo da comitiva que acompanhava o presidente e também entre os anfitriões na ocasião.

General Nem um general da ditadura militar escapou da sinceridade inocente de uma criança. Em 1979, João Batista Figueiredo, o último presidente militar do Brasil, recebeu no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, um grupo de crianças levado especialmente para cumprimentar o dirigente da nação. Pois não é que a primeira garotinha da fila, do alto de seus 5 anos, negou a mão a Figueiredo. Os fotógrafos chegaram a insistir porque precisavam ¿fazer¿ a foto. Mas ela não descruzou os braços, com uma expressão rude no rosto.

A foto antológica foi feita por Guinaldo Nicolaevsky, falecido no ano passado. Enquanto todos esperavam o cumprimento, na era das máquinas de filme, para dar o clique, Nicolaevsky disparou o flash, percebendo diante dele uma cena curiosa e, ao mesmo, carregada de simbologia. Como o país passava por uma abertura política ainda inicial, muitos identificaram a garota como um símbolo, ainda que involuntário, de resistência à ditadura e atitude contra o totalitarismo.

Plástica Para Dilma, a tarefa é mais espinhosa porque a ministra presidenciável não dispõe de todo o carisma para, primeiro, minimizar as chances de fatos como o de ontem, em Salvador, ocorrer. Apesar dos esforços do presidente Lula em fazer propaganda, a imagem da mulher forte do governo ainda está longe de ¿pegar¿. Isso só se dará à custa de marketing e um relaxamento por parte da ministra, que terá de se desfazer da postura linha-dura como é conhecida entre os que trabalham ou trabalharam com ela.

Aos poucos, a sisudez de Dilma tem sido minimizada. No início deste ano, a ministra surpreendeu com uma cirurgia plástica no rosto, que minimizou linhas de expressão e rugas. Após a operação, ela também mudou o corte de cabelo, que teve de ser raspado recentemente em função de um câncer linfático, já curado, segundo os médicos. Dilma abandonou também os óculos que lhe davam um ar ainda mais sério que o habitual e adotou lentes de contato. Até mudanças no vestuário têm sido notadas, no esforço de aproximar a ministra do povo.