Título: O insustentável peso da dívida
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 02/01/2013, País, p. 3

O petista Fernando Haddad tomou posse ontem como prefeito de São Paulo anunciando que negociará com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a repactuação da dívida da cidade, hoje estimada em R$ 58 bilhões. Haddad considerou a dívida "literalmente insustentável", comprometendo a capacidade de investimento do município, que tem um orçamento de R$ 42 bilhões previsto para 2013, com arrecadação de R$ 30 bilhões. Na cerimônia de transmissão de cargo, ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), o prefeito afirmou ainda que não deixará que divergências políticas impeçam São Paulo de receber recursos do governo paulista, liderado por um tucano.

- São Paulo perdeu sua capacidade de investimento em função de um acordo de dívida literalmente insustentável hoje e no futuro. Não há a menor condição de levar à frente esse grande empreendimento que é a nossa cidade sem repactuar o contrato da dívida com o governo federal. Não se sustenta e isso tem de ser dito com todas as letras - disse Haddad, que anunciou: - Nós temos de levar ao Congresso Nacional, com todas as tratativas com o governo federal, com o ministro Guido Mantega (Fazenda), uma proposta de repactuação da dívida federativa. Não podemos conviver com a dívida que é 200% da arrecadação.

Reunião com Mantega

De acordo com o novo prefeito, com a renegociação da dívida a cidade recupera entre 20% e 30% das necessidades de investimento. Haddad disse aguardar a confirmação de uma reunião com o ministro Mantega nos próximos dias, mas não adiantou detalhes do plano de repactuação que será apresentado ao governo e depois levado ao Congresso. Para ele, a situação de São Paulo é a mais grave entre os estados e municípios com dívidas federais.

- Temos uma janela de oportunidade que não podemos perder. O governo federal está acenando com essa possibilidade (de renegociação), e São Paulo tem de estar no primeiro lugar da fila - disse Haddad, em entrevista, logo depois da posse.

O prefeito avaliou também que o município deverá buscar apoio em todas as esferas do Poder Público e da iniciativa privada:

- Não bastará apenas a troca do indexador da nossa dívida, temos de buscar as parcerias necessárias. Tanto com o governo do estado quanto com o governo federal, assim como no âmbito das parcerias público-privadas (PPPs).

Haddad sinalizou que não deixará que os entraves partidários prejudiquem a cidade. O prefeito disse que daria a mão a Alckmin e que o tucano poderia contar com ele como um parceiro.

- Governador, quero deixar claro: o senhor falou de uma atitude suprapartidária, republicana, eu também o farei. Não recusarei um único centavo do governo do estado, um único centavo do governo federal, independentemente de bandeira partidária, de crença religiosa. O Brasil já amadureceu suficientemente para sabermos a hora de discutirmos divergência e a hora de somarmos forças. O pacto federativo precisa ser redesenhado.

Combate à miséria

Haddad afirmou que o maior problema que a cidade enfrenta é a miséria. Para ele, São Paulo pode se tornar um exemplo do programa de erradicação da miséria do governo federal.

- É o momento de olhar de frente para os nossos problemas. O primeiro deles é a miséria extrema que ainda existe em nossa cidade. Não é possível conviver por mais tempo com tanta desigualdade, com tanto descaso, com tantas mazelas - disse Hadadd, que completou: - Vamos interagir com o governo do estado, com o governo federal, vamos equacionar esse problema. Vamos dar o exemplo de como o programa federal de erradicação da miséria pode apresentar o seu primeiro resultado pleno na cidade de São Paulo.

O novo prefeito defendeu ainda que o município faça um novo Plano Diretor:

- São Paulo está pronta para uma reforma, São Paulo está pronta para repensar seu desenvolvimento. E eu penso que o maior legado que a Câmara de Vereadores pode oferecer, sem sombra de dúvida, é um conjunto de obras, um conjunto de leis que aponte uma visão de futuro de longo prazo para a cidade. Haddad não citou o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o apadrinhou na campanha à prefeitura. Lula não compareceu à cerimônia de posse nem à transmissão de cargo. Segundo Clara Ant, assessora do ex-presidente, ele está em férias. Já a presidente Dilma Rousseff enviou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, como seu representante.

No dia de sua posse, o novo prefeito de São Paulo fez três discursos. Um na Câmara Municipal, onde terá maioria e onde o petista José Américo será presidente; outro na prefeitura, e o terceiro em um palanque armado diante do prédio do gabinete oficial do prefeito, quando pediu à população que seja participativa no governo.

Entre deputados do PT e autoridades do município, o presidente nacional do partido, deputado Rui Falcão, afirmou à imprensa que Haddad começa o governo em uma situação mais confortável que a ex-prefeita Marta Suplicy, em 2001.

- Não é pela maioria na Câmara, mas por encontrar a prefeitura mais arrumada - disse ele, em referência à gestão de Gilberto Kassab (PSD), um dos aliados do governo federal.

Em entrevista à Rede Globo, Haddad afirmou que o plano dos próximos 90 dias é monitorar o trabalho das subprefeituras e das secretarias de Segurança Urbana e Obras para reduzir o impacto da época das chuvas na cidade.