Título: Sem manutenção, plataformas perdem eficiência
Autor: Ordoñez, Ramona; Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 27/01/2013, Economia, p. 35

Estatal lança programa de US$ 6,3 bilhões para elevar produtividade em Campos

Na busca pela produção no limite máximo de sua capacidade, as plataformas da Petrobras operaram a pleno vapor, sem a devida manutenção, até 2011, quando começaram a apresentar problemas. Algumas chegaram a ser interditadas pela Agência nacional do Petróleo (ANP). Conclusão: queda na produção de petróleo. De janeiro a novembro de 2012, a estatal registrou recuo de 2,3% na extração diária de óleo em relação ao mesmo período de 2011.

Após as interdições da ANP, a empresa foi obrigada, no ano passado, a realizar paradas para manutenção por longos períodos, levando a uma queda na produção. A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, que assumiu o cargo em fevereiro, chegou a definir como um "inferno astral" os três primeiros trimestres do ano passado. A produtividade das unidades na Bacia de Campos caiu de cerca 90% para 70%. Com isso, em julho de 2012, foi criado pela estatal um programa de US$ 6,3 bilhões, chamado de Proef, para recuperar a eficiência operacional.

ingerência do governo

Wagner Freire, ex-diretor da Petrobras, lembra que, ao deixar a produtividade cair, a "gestão caiu". E diz que recuperar a produção levará tempo. Para analistas, só em 2014 a produção vai subir.

- Houve ainda um exagero nas perspectivas para a produção futura. E Graça corrigiu isso. A consequência é que a companhia está caindo no ranking mundial das maiores companhias.

Em 2012, a Petrobras ainda perdeu o posto de companhia com o maior valor de mercado do Brasil para a Ambev. Na última quinta-feira, a estatal somava R$ 258,109 bilhões, contra R$ 286,634 bilhões da fabricante de cervejas.

Para tentar ajustar as contas, a estatal lançou em 2012 um programa de redução de custos para economizar R$ 32 bilhões até 2016. E lançou um programa para venda de ativos no Brasil e no exterior de US$ 14,8 bilhões.

Segundo a corretora Um Investimentos, a companhia deve encerrar 2012 com queda de 30% no lucro líquido, chegando a R$ 23,58 bilhões, por causa da defasagem nos preços dos combustíveis. Hoje, analistas ressaltam que a diferença nos valores da gasolina está entre 10% e 15%; e a do diesel, em 30%.

Gabriel Ribeiro, membro da equipe de análises da Um Investimentos, lembra que a empresa sente o custo de ter priorizado, a pedido do governo, os investimentos em refino, por gerar mais emprego, e não em alta da produção.

- Os investimentos feitos anteriormente não foram os melhores. Hoje, o que vemos é um foco da companhia em aumentar a produção na Bacia de Campos - disse Ribeiro.

Pedro Galdi, analista da corretora SLW, critica a ingerência do governo:

- Com os preços dos combustíveis defasados, a empresa não consegue gerar caixa suficiente e os investimentos ficam comprometidos. Sem capacidade de refino, tem que importar. Quanto mais ingerência do governo, pior fica a imagem da companhia. (Ramona Ordoñez e Bruno Rosa)