Título: Tombini: BC não vê risco de inflação, mas elevará juros se preciso
Autor: Valente, Gabriela; Neto, João Sorima
Fonte: O Globo, 20/02/2013, Economia, p. 26

O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, deixou claro ontem que, se for preciso, o Comitê de Política Monetária (Copom) voltará a aumentar os juros. Mas avisou que daqui para a frente a taxa básica oscilará em patamares mais baixos e destacou que não existe hoje, no país, risco de descontrole da inflação. A melhor estratégia, segundo o BC, pelo menos por enquanto, é manter os juros básicos em 7,25% ao ano por um período suficientemente prolongado, mas ajustes podem ser feitos, em caso de necessidade.

- Quando necessário, a postura do Banco Central em relação à política monetária será adequadamente ajustada. Dito de outra forma, neste novo ambiente macroeconômico, a Taxa Selic oscilará em patamares mais baixos que no passado - disse Tombini no lançamento do programa Otimiza BC, acrescentando que órgão tem comunicado sua estratégia de atuação e que ela continua válida no momento. - Isso não significa que os ciclos monetários foram abolidos.

Dólar recua a R$ 1,955, mínima em nove meses

Tombini tem sido o alvo das críticas dos economistas que reclamam da alta da inflação e da postura do BC em manter os juros intocáveis. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, saiu em defesa do BC e disse que, se for preciso, o Brasil voltará a subir a Selic. Após a declaração, alguns analistas começaram a apostar que o Copom aumentará a taxa básica no segundo semestre.

Durante o lançamento do programa Otimiza BC, Tombini lembrou as conquistas econômicas dos últimos anos, inclusive a queda histórica dos juros, e afastou o risco de explosão dos preços:

- Gostaria de deixar bem claro que não existe hoje no país risco de descontrole da inflação, não obstante o fato de o Brasil ter conseguido alcançar um novo patamar para as taxas de juros em geral.

Após as declarações de Tombini, o dólar comercial voltou a atingir ontem a cotação mínima dos últimos nove meses. A moeda americana fechou na mínima do dia, cotada a R$ 1,955 na venda, uma desvalorização de 0,40%. Somente em 10 de maio do ano passado havia fechado numa cotação tão baixa: R$ 1,952. Na máxima do dia, o dólar chegou a ser negociado a R$ 1,965.

- Tombini passou a mensagem de que, apesar de a inflação ter subido em janeiro, o BC se mantém fiel à estratégia de juro estável por um período mais prolongado. Mas não descartou uma mexida nos juros se a pressão inflacionária persistir - avaliou o estrategista-chefe do banco WestLB, Luciano Rostagno.

Já os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI), que haviam caído logo após a fala de Tombini, encerraram o dia com leve alta. Os papéis com vencimento em janeiro de 2014 subiram para 7,73%, de 7,72% na segunda-feira. O DI de janeiro de 2015 avançou a 8,44%, contra 8,42% na véspera. E o DI de janeiro de 2017 passou de 9,10% a 9,13%. Segundo um operador, o mercado reagiu imediatamente à declaração de Tombini, mas interpretou que, apesar de os juros não subirem a curto prazo, podem subir até o fim do ano. Na prática, o mercado descartou alta de juro na reunião do Copom em março e até mesmo em abril, diz Rostagno.

O dólar recuou porque, na percepção do mercado, o câmbio continuará a ser utilizado para frear as pressões inflacionárias. Os investidores voltaram a testar o nível de R$ 1,95, considerado o piso informal pelo mercado, mas ontem não houve intervenção do BC para segurar a queda da moeda, como ocorreu na semana passada.

- Ao aceitar um dólar abaixo de R$ 2, contrariando as declarações do ministro Guido Mantega de que o dólar a R$ 2 veio para ficar, o mercado enxergou que o governo está, sim, preocupado com a inflação e deixou o real se valorizar - diz Rostagno.

Autoridade reduz custos para os bancos

Num almoço com senadores do PTB, Tombini repetiu seu discurso. De acordo com Armando Monteiro (PE), o presidente do BC teria falado em "recrudescimento" da inflação, mas teria garantido que o processo está "sob controle".

- Tombini mostrou uma posição serena e confiante que vamos entrar uma trajetória cadente da inflação - afirmou o parlamentar.

Como o BC não pode mais cortar mais os juros por causa da persistência da inflação, espera a queda do custo financeiro no país de outra forma: pela eficiência das instituições. Ontem, a autarquia anunciou medidas para reduzir custos do sistema bancário, estimular a competitividade entre as instituições e diminuir o peso dos juros para o cliente. O manual de normas que era constantemente enviado para os bancos foi aposentado. As consultas só serão feitas pela internet. O BC também cortou, em 13% em média, as tarifas para operações no Sistema de Transferência de Reservas, dinheiro que os bancos usam para fazer as TEDs dos clientes.

A autarquia ainda extinguiu o ITF, cujos dados que já são enviados ao BC em outros documentos. Além disso, simplificou os formulários das operações de câmbio e modernizou o Sistema de Transferência Internacionais em Reais. Antes, os bancos registravam diariamente no sistema do BC todas as operações acima de R$ 10 mil. Agora, transações até R$ 100 mil só precisam ser informadas uma vez por mês.

- Isso pode se chamar, sim, de redução de custo Brasil - afirmou o secretário-executivo do BC Geraldo Magella Siqueira.

Após ficar em alta boa parte do dia, acompanhando os mercados externos, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, fechou em queda de 0,52%, aos 57.582 pontos. Vale PNA (preferencial, sem voto) recuou 0,90% a R$ 36,10; Petrobras PN teve alta de 1,11% a R$ 18,00; e OGX Petróleo ON (ordinária, com voto) caiu 4,83% a R$ 3,15, a maior baixa do Ibovespa.