Título: Secretaria de Micro Empresa vai abrigar indicado de Kassab
Autor: Braga, Isabel; Gama, Júnia
Fonte: O Globo, 06/03/2013, País, p. 4

A pedido do Palácio do Planalto, os líderes aliados operaram no Senado para aprovar com maior rapidez o projeto de criação da Secretaria de Micro e Pequena Empresa, com status de ministério, o que poderá acontecer ainda amanhã. A criação da pasta é só o que falta para a presidente Dilma Rousseff formalizar o convite ao vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, que preencherá a cota do PSD na reforma ministerial prevista para este mês.

Em uma manobra regimental, o senador Walter Pinheiro (PT-BA) conseguiu evitar que o projeto, do qual é relator, passasse por duas comissões, a de Assuntos Econômicos e a de Constituição e Justiça, para ir direto ao plenário. Também rejeitou emendas, para que o texto não tenha de retornar à Câmara, e teve seu requerimento de urgência aprovado. A votação do novo ministério está prevista para esta quinta-feira.

- Para que ficar se arrastando por mais tempo? Para que passar pelas comissões? Que projetos importantes passaram pelas comissões? - questionou o senador petista, ao apresentar seu requerimento de urgência.

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, recebeu a sondagem do Planalto a respeito da indicação de Afif para o novo ministério, e respondeu positivamente. Quando for oficializado o convite, o vice-governador de São Paulo terá de optar pelo cargo que hoje ocupa ou pelo controle do ministério.

De acordo com parlamentares do PSD, Afif deverá renunciar à vice, já que sua ida ao PSD deixou sequelas na relação com o governador Geraldo Alckmin, que já estaria articulando substituí-lo na chapa da reeleição, ano que vem. Além disso, a nova pasta de Micro e Pequena Empresa é uma área conhecida por Afif, que tem forte atuação na área de comércio.

Além do PSD, é dada como certa a indicação de um peemedebista de Minas Gerais para o Ministério dos Transportes. As opções são o deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), que abriu mão da candidatura à prefeitura de Belo Horizonte no ano passado em favor do PT, ou o presidente do PMDB mineiro, Antônio Andrade, nome preferido pelo Planalto. A cúpula nacional do partido tenta emplacar Quintão, mas esbarra na resistência de Andrade, que também almeja o cargo. A estratégia é colocar Quintão no ministério e fazer de Andrade vice de Fernando Pimentel em 2014 para o governo do estado.

O ministro do Trabalho, Brizola Neto (PDT-RJ), também já é dado como a próxima baixa na Esplanada, mas o PDT não tem um nome de consenso para substituí-lo. Principalmente, um nome que não seja vetado por Dilma - o veto é a qualquer nome que venha parar nas páginas policiais.

A bancada do PDT na Câmara, que já não tinha reconhecido a indicação de Brizola Neto para a pasta, continua sem apoiá-lo. Na noite de segunda-feira, em reunião da Executiva Nacional do partido, ele defendeu que a legenda já definisse apoio à reeleição da presidente Dilma em 2014 na convenção nacional, marcada para o dia 22. Mas foi voz isolada.

A maior parte da Executiva defende que isso seja discutido mais para frente - dependendo do espaço do PDT no governo Dilma - e houve quem defendesse candidatura própria. Mesmo assim, Brizola pretende brigar por poder no partido controlado pelo ex-ministro Carlos Lupi.

- Não é possível modificar a prática, sem modificar a gestão, mantendo os mesmos membros. Falta transparência nas decisões políticas, na gestão do fundo partidário. Defendo eleição direta para o diretório e a Executiva. Se preciso, vamos montar uma chapa (para concorrer contra a chapa do Lupi) - disse Brizola Neto, ontem.

Sobre sua permanência no ministério, Brizola diz que não pediu apoio da bancada e que a decisão é da presidente Dilma:

- Temos conversado, a relação (com Dilma) é boa. Ministros não têm garantia de permanência. Mas estamos trabalhando no ministério e há reconhecimento do nosso trabalho não só pelo governo, como pela sociedade. Moralizamos a questão dos registros sindicais.

O PR é outro partido que pode ser incluído na reforma ministerial, mas, assim como o PDT, deve antes apresentar um nome sem problemas para o cargo. A novela é conhecida: a presidente Dilma quer o senador Blairo Maggi (PR-MT), mas ele não é aceito pelo partido. Blairo tem conversado com seus correligionários para tentar vencer a resistência, já que o PR corre o risco de ficar de mãos abanando caso não chegue a um acordo interno.