Título: Petrolíferas
Autor: Vidor, George
Fonte: O Globo, 18/03/2013, Economia, p. 18

Tomara que toda essa confusão em torno dos royalties (infelizmente, momentos de insensatez coletiva não são raros...) se resolva logo porque a indústria do petróleo tinha voltado a se animar com suas perspetivas no Brasil, e seria mais uma frustração para o país desperdiçar tal oportunidade. O ritmo de encomendas e contratação de serviços no setor só crescerá daqui para a frente, caso a paz volte a reinar nessa questão dos royalties.

A companhia americana FMC, que aqui fabrica vários tipos de equipamentos, hoje produz uma "árvore de natal molhada" por semana e se prepara para dobrar essa capacidade. Na verdade, considerando também a possibilidade de exportações, a FMC poderia chegar a fabricar três "arvores de natal" por semana. Chama-se "árvore de natal" porque é um equipamento que tem várias válvulas "penduradas", conectadas aos poços e aos tubos que chegam até as plataformas de produção, na superfície do mar. São equipamentos que estão sujeitos à corrosão e a diferentes pressões e temperaturas, mas podem durar décadas, com manutenção adequada. A FMC tem três unidades industriais na Pavuna, início da Via Dutra, ainda no município do Rio. Uma quarta unidade será necessária, embora não haja mais espaço físico por ali, pois a companhia espera trazer para o Brasil equipamentos do tipo ROV, robôs submarinos que possibilitam a instalação de peças e equipamentos em grandes profundidades. A FMC é uma das empresas que decidiram investir em centros de pesquisas no parque tecnológico da UFRJ, na Ilha do Fundão. Equipamentos sofisticados já foram testados no laboratório e da própria Ilha do Fundão embarcaram para campos de petróleo no mar.

No distrito industrial de Santa Cruz, mesmo com sua nova fábrica ainda em obras, a Rolls Royce concluiu lá duas turbinas para módulos de energia de plataformas de petróleo. A fábrica ficará pronta em maio e será oficialmente inaugurada com uma solenidade em agosto, para a qual até se prevê a presença do primeiro-ministro britânico David Cameron.

Uma outra novidade é a construção de um cais de 600 metros em uma área do Caju que não está sendo usada pelo Estaleiro Inhaúma (antigo Ishikawajima). A Wilson Sons arrendou o local e no prazo de um ano terá construído esse cais para atracação de barcos de apoio às plataformas de petróleo no mar.

Entre os estados que mais se beneficiarão com a existência de uma indústria de petróleo pujante no país se encontram Rio Grande do Sul e Pernambuco, cujos governantes e parlamentares foram os que mais puseram lenha nessa fogueira da disputa pelos royalties (prometendo mundos e fundos a seus eleitores e governados), e agora parecem arrependidos, ao menos no caso do governador Eduardo Campos. Tanto RS como PE não produzem ainda uma gota de óleo, mas contam com instalações petrolíferas e um parque industrial com ótimas perspectivas de expansão se as encomendas de equipamentos e prestação de serviços no setor de petróleo se multiplicarem, como ocorrerá, se o conflito dos royalties for superado.

Entendimento nos portos

Caminha bem a missão do empresário Jorge Gerdau, de encontrar soluções que conciliem os interesses dos envolvidos, para que o governo atinja seu objetivo de atrair mais investimentos e estimular a competição entre portos. Os atuais operadores de terminais em portos públicos reivindicam o direito de ampliar o cais para áreas livres, contíguas às que já utilizam hoje. Os navios aumentaram de tamanho e os berços existentes não permitem mais a atracação simultânea de duas grandes embarcações, por exemplo. Alguns investimentos foram autorizados, pontualmente, como aconteceu no caso do porto do Rio. Os operadores gostariam que isso se transformasse em regra, deixando de ser exceção. Tais investimentos são milionários e ao fim do período da concessão revertem para o patrimônio público. Então, os prazos de concessão teriam que ser ajustados para que nesse período haja o devido retorno do capital investido.

Já no caso das regras trabalhistas que vigoram nos chamados portos organizados, é pouco provável que se consiga mudar alguma coisa. Os operadores de terminais gostariam que fosse opcional a utilização de trabalhadores avulsos. Por causa da obrigatoriedade, há operadores que hoje contratam estivadores. Especificamente nos terminais para contêineres, os profissionais contratados ficam ociosos muito tempo (pois é considerado ideal que esses terminais tenham sempre 50% de ocupação, de modo a evitar qualquer tipo de atraso na atracação de navios, que precisam navegar como se fossem um relógio). A contratação é uma forma de fugir da obrigatoriedade de se utilizar os avulsos, mas isso também eleva os custos pela ociosidade. Se a regra fosse opcional, haveria mais equilíbrio entre contratados e avulsos, de acordo com a demanda pela prestação dos serviços.