Título: IPI menor apenas nos eletros verdes
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 30/10/2009, Economia, p. 15

Governo prorroga a redução do imposto para geladeiras, máquinas de lavar roupa e fogões até janeiro, mas desconto valerá só para produtos que gastam pouca energia

A nutricionista Clarissa Botelho está disposta a gastar R$ 1 mil em um fogão ¿econômico, moderno e barato¿

O brasileiro que pensa em comprar eletrodomésticos da linha branca (geladeiras, máquinas de lavar e tanquinhos) não precisa mais correr contra o tempo. O governo anunciou ontem a prorrogação, por mais três meses, do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para o setor, que venceria amanhã. Dessa vez, a isenção vale apenas para os produtos que consomem menos energia, que têm selo de consumo A e B. O restante (C, D e E), que varia entre 4% e 20% dependendo do tipo de produto, volta às alíquotas normais no domingo. O imposto menor para os outros produtos vale até 31 de janeiro de 2010 e custará aos cofres do governo R$ 132,1 milhões.

A decisão de prorrogar o IPI apenas para os produtos de menor consumo de energia foi defendida pelo governo como uma medida verde, de defesa do meio ambiente e do consumidor. A ideia é que ele gaste menos com a conta de luz adquirindo equipamentos ecológicos. E que possa, com a redução, se tornar mais ativo no consumo. ¿Ainda existem 60% da população que não têm acesso à máquina de lavar. E isso melhora o trabalho da dona de casa. Também gera emprego e investimento¿, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na ocasião do anúncio das novas medidas.

O ministro Edison Lobão (Minas e Energia), que também participou do anúncio, lembrou que medidas como a que foi anunciada estimulam a indústria a produzir equipamentos com mais eficiência, que não consumam tanto sem comprometer seu rendimento. ¿O Brasil já possui a matriz energética mais limpa do mundo. Mas, dentro de 20 anos, teremos que dobrar nossa capacidade de abastecimento. É um desafio¿, ele disse.

Pechincha O objetivo do governo é que os consumidores comprem a ideia, e que passem a optar por produtos com menor consumo de energia. É o que tem feito a nutricionista Clarissa Rocha Botelho, 24 anos. Faz dois meses que ela procura um fogão para a casa nova. Mas tem achado os preços altos, mesmo com a redução do IPI. ¿Procuro algo que seja econômico, moderno e barato. Mas também tem que ser bonitinho, para combinar com minha cozinha¿, diz. Recém-casada e recém-chegada a Brasília, ela diz que pechinchará pelo menos até a próxima semana, quando as lojas deverão anunciar novas ofertas.

¿Quero gastar, no máximo, R$ 1 mil¿, adianta Clarrisa. O fogão é o último eletrodoméstico que falta para sua casa nova. No mês passado, ela e o marido compraram geladeira, exaustor de cozinha e aparelho de TV. ¿No que deu para aproveitar o IPI a gente aproveitou.¿

A medida visa manter aquecido o mercado de trabalho e o consumo, que têm sido os pilares do crescimento brasileiro desde o segundo trimestre. A presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), Luiza Trajano, disse que a rede de lojas que ela comanda, a Magazine Luiza, aumentará em 10% o número de trabalhadores para dar conta da demanda dos últimos meses do ano. As Casas Bahia devem contratar cinco mil pessoas somente até dezembro.

Ainda existem 60% da população que não têm acesso à máquina de lavar. E isso melhora o trabalho da dona de casa. Também gera emprego e investimento¿

Guido Mantega, ministro da Fazenda

Aposentado pega mais crédito

Vânia Cristino

As novas operações de empréstimo com desconto em folha, feitas pelos segurados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) atingiram, em setembro, R$ 1,58 bilhão. O valor, segundo a Previdência Social, representa um aumento de 125,9% em relação ao volume contratado no mesmo mês do ano passado. Com o financiamento obtido em setembro, sobe para R$ 16,77 bilhões, no ano, o volume de empréstimos concedidos pelo sistema financeiro aos aposentados e pensionistas do INSS.

¿Os dados mostram que o ritmo de crescimento das operações de crédito consignado em 2009 está acelerado¿, disse o presidente do INSS, Valdir Simão. Segundo ele, a expansão dos recursos contratados em 2009 ¿ 253,7% acima do montante registrado no mesmo período de 2008 ¿ deve-se, em parte, à elevação de 10% da margem de comprometimento da renda com o pagamento da prestação. Desde abril, os segurados podem comprometer 30% do valor da aposentadoria ou pensão com o pagamento do empréstimo pessoal. Até então, esse percentual estava limitado a 20%, com os 10% restantes podendo ser usados exclusivamente no cartão de crédito, modalidade mais cara de financiamento.

Os empréstimos pessoais contratados em setembro, que possuem taxa de juros máxima limitada a 2,34%, representam 98,78% do crédito consignado, ficando para o cartão os 1,22% restantes. Segundo o INSS, desde o aumento da margem consignável para o empréstimo pessoal, está havendo uma gradativa diminuição do uso do cartão. A taxa máxima que os bancos podem cobrar pelo empréstimo via cartão é de 3,36% ao mês.

Pobres Os dados do INSS comprovam que são os mais pobres que mais pegam empréstimo. Os aposentados com renda de até um salário mínimo são responsáveis por 62,9% das operações de empréstimo pessoal e de cartão de crédito. Só em setembro, os segurados que ganham o piso contrataram R$ 794,6 milhões, pouco mais da metade do total de crédito obtido no mês pelos aposentados e pensionistas do INSS. Em média, cada um dos aposentados de baixa renda contratou nos bancos empréstimo no valor de R$ 2.102,53 (dados de setembro).

Fabricantes otimistas

O otimismo com que o Ministério da Fazenda anunciou a manutenção por mais três meses do IPI reduzido para a linha branca contagiou a indústria de eletrodomésticos, que já faz as contas do quanto projeta faturar a mais. Em entrevista ao Correio, o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula, disse que o setor terá incremento de 30% na produção no último trimestre, na comparação com os três últimos meses de 2008. Isso daria uma ampliação de 10 pontos percentuais sobre o crescimento já forte da oferta industrial desde abril.

Também os 6 mil empregos diretos e os 30 mil indiretos que foram gerados devem ser mantidos por pelo menos mais seis meses, ¿diferentemente do varejo, que deve começar a demitir em janeiro¿. Sobre uma possível saia justa que teria passado após declaração do ministro Guido Mantega (Fazenda) de que a indústria iria contratar mais, Lourival foi enfático: ¿Acho que ele entendeu mal o que foi combinado.¿

O presidente da Eletros disse ainda que se sentiu surpreso com as restrições de descontos apenas aos produtos das classes A e B. E que, em sua opinião, a indústria não deverá ter problemas em aumentar a produção desse tipo de equipamento. ¿Era algo que vínhamos fazendo há algum tempo. O que vai haver, agora, é um adiantamento do cronograma que tínhamos de adaptação.¿

Outro ponto levantado por Kiçula são os investimentos. Atualmente, a indústria de eletroeletrônicos opera com cerca de 70% da capacidade instalada, com espaço para aumento de horas extras e ampliação de jornadas de trabalho. Somente depois viriam as aquisições de equipamentos.

Kiçula comentou ainda que outra bandeira do setor passará a ser a da reclassificação do conceito de essencialidade de itens como máquina de lavar. ¿A lei que instituiu o imposto alto para esses produtos é antiga. Vem de uma época em que era luxo ter lavadora. Mas a mulher moderna necessita e o governo parece estar inclinado a rever isso¿. (DB)

O número Vagas 36 mil Número de empregos diretos e indiretos que devem ser mantidos nas linhas de montagem de eletrodomésticos nos próximos seis meses