Título: PMDB também sai do governo
Autor: Medeiros, Luísa; Mader, Helena; Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 08/12/2009, Cidades, p. 8

Depois de PSDB, PPS e PV, mais um partido aliado entrega os cargos no GDF, entre eles as presidências da Novacap e da Codeplan

Rosso (C) e Filippelli: PMDB relutou a tomar uma decisão porque também foi atingido pela crise

A executiva regional do PMDB decidiu ontem, por unanimidade, determinar o desembarque imediato de seus filiados com cargos no governo Arruda. Até o fim da semana, todos os peemedebistas terão de deixar as funções na administração local sob pena de expulsão. Em nota, a direção da legenda sustenta considerar ¿lamentável¿ a evolução dos fatos divulgados na Operação Caixa de Pandora e por isso o partido não teria mais condições de colaborar com o Executivo. Com a perda de mais um aliado, o governador José Roberto Arruda (DEM) se isola ainda mais. Na semana passada, ele perdeu o PSDB, PPS e PV.

O PMDB relutou a tomar uma decisão porque foi atingido pela crise. Os três distritais do partido são citados no inquérito em curso no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Eurides Brito foi alvo da ação de busca e apreensão há 10 dias. Benício Tavares também aparece em vídeos e Rôney Nemer surge nos diálogos flagrados pelas escutas da Polícia Federal como beneficiário de recursos públicos supostamente desviados. Em vídeo divulgado na semana passada, a direção nacional do partido e o deputado Tadeu Filippelli, presidente do PMDB-DF, foram relacionados ao pagamento de propina para manter o PMDB ao lado de Arruda, contra a candidatura do ex-governador Joaquim Roriz, hoje no PSC. O assunto surgiu em conversa do empresário Alcyr Collaço, dono do jornal Tribuna do Brasil, com Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais.

O presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, e Filippelli se disseram indignados com a divulgação da conversa, que consideram caluniosa. Irritado, Temer lamentou com peemedebistas que o episódio estaria atrapalhando suas costuras políticas para viabilizar-se como candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff à Presidência da República. A executiva nacional do PMDB marcou para amanhã uma reunião em que pretende aprovar uma resolução dura, assim o diretório local resolveu se antecipar para escapar de uma intervenção nacional.

Sem alternativas Em nota divulgada ontem, a direção regional aponta: ¿Esgotaram-se para o PMDB todas as alternativas de continuar contribuindo com o atual governo, não restando outra opção se não determinar a todos os seus quadros que se encontram na atual administração a entrega imediata dos seus cargos de confiança¿. Todos os integrantes da direção da Novacap deverão deixar os cargos, inclusive o presidente, Luiz Carlos Pietschmann, indicados por Filippelli. Também sairão o presidente da Codeplan, Rogério Rosso, que vinha desenvolvendo projetos no Entorno, a administradora de Brasília, Ivelise Longhi, e o presidente do Instituto de Previdência, Odilon Aires, entre outros Filippelli sabe, no entanto, que não terá como enquadrar os distritais do PMDB na Câmara Legislativa que continuarão na base de apoio ao governo Arruda.

Outra baixa na Saúde

Lilian Tahan

Em menos de um mês, uma das secretarias mais importantes do governo, a de Saúde, mudou de comando duas vezes. E até o fim da semana, haverá mais uma troca. O secretário Florêncio Figueiredo entregou ontem sua carta de demissão para o governador José Roberto Arruda (DEM). Ele ficará no cargo até quinta-feira, dia em que o DEM decidirá o futuro político de Arruda.

Titular da pasta até o início da crise que desestruturou o governo, Augusto Carvalho (PPS) deixou o cargo definitivamente depois que vieram a público fitas de vídeo com suspeita de pagamento de propina aos distritais. Nas gravações feitas com a autorização da Justiça e com a ajuda do ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa, Augusto também é citado como beneficiário de um esquema de pagamento de propina.

Depois de Carvalho, o segundo na hierarquia era Fernando Antunes, presidente do PPS-DF. Com a crise e o nome também envolvido no suposto esquema de corrupção, Antunes também saiu da secretaria. No fim da tarde, ele apresentou uma carta à direção do partido pedindo o afastamento da liderança da legenda. ¿É uma questão de coerência. Sempre defendi que em casos de suspeita, os investigados ficassem afastados de suas funções¿, afirma Antunes.

Advogados analisam processo no DEM

Daniela Lima Paulo H. Carvalho/CB/D.A Press - 4/8/09 A cúpula do Democratas se reunirá na próxima quinta-feira para decidir sobre o futuro do governador Arruda no partido: análise política da situação

Mesmo diante da disposição do governador José Roberto Arruda em defender na Justiça a permanência no Democratas, integrantes da Executiva Nacional do partido não dão sinais de recuo. Caciques da legenda avaliam que nem a pressão do chefe do Executivo do DF conseguirá dissuadir a maioria do colegiado da decisão de expulsar Arruda da sigla. Sabendo disso, os advogados do governador cogitam questionar judicialmente até a constitucionalidade do estatuto do DEM.

¿Ele quer que todo mundo se suicide politicamente junto com ele? Não tem nenhuma condição¿, resumiu um cacique do partido. Sabendo da indisposição dos correligionários em dividirem o desgaste causado pelo inquérito da Polícia Federal, Arruda contratou uma equipe de peso para defendê-lo.

Nabor Bulhões, José Eduardo Alckmin e Geraldo Grossi trabalham juntos para tentar segurar Arruda no DEM com base em decisão judicial. E, para isso, não descartam nenhuma possibilidade. Avaliam diversos cenários: desde a viabilidade de questionar o procedimento adotado pelo DEM para julgar Arruda antes mesmo da decisão do partido até colocar em xeque a constitucionalidade do estatuto da sigla, após o resultado de votação na executiva, prevista para quinta-feira.

Na noite de ontem, os três advogados se reuniram para definir a estratégia que adotarão para defender o governador. A missão deles é complicada. Terão de encontrar uma maneira de judicializar uma decisão eminentemente política. O Correio apurou que uma das linhas estudadas pelos defensores prega a tese de que a expulsão de Arruda é, na verdade, uma sanção, e que portanto deveria seguir todos os ritos de um processo legal.

Impacto ruim Os advogados também estudam a possibilidade de postergar a decisão da legenda com a adoção de uma medida incidental. Os consultores políticos de Arruda, no entanto, sabem que levar a questão para a Justiça antes mesmo do pronunciamento do colegiado do Democratas teria um impacto político muito ruim. Se a relação com a legenda já está complicada, a adoção dessa estratégia poderia aumentar ainda mais a antipatia de alguns membros da executiva com relação à permanência de Arruda.

Ciente de que o governador fará o possível para permanecer na legenda, o DEM também guarda suas cartas na manga. ¿Ele não deve esquecer de que está protocolado na executiva um pedido de expulsão sumária, que pode ser votado a qualquer momento¿, alertou um correligionário. A expulsão sumária está prevista no estatuto do partido. O quarto parágrafo do artigo 99 diz que qualquer uma das sanções previstas aos filiados poderá ser aplicada sumariamente em ¿casos de extrema gravidade ou urgência¿.

Outro problema para Arruda é a jurisprudência. Cortes superiores que analisaram questões similares à que aflige o governador decidiram que se tratava de uma decisão interna dos partidos e que, portanto, não caberia intervenção judicial.

Movimentação política Se na linha de frente da luta pela manutenção do governador no DEM estão três advogados, na briga política na Câmara entraram dois aliados de peso do governador. Eliana Pedrosa e Paulo Roriz, que estavam no comando de secretarias no Executivo, oficializaram o retorno à Câmara Legislativa. Eleitos pelo Democratas em 2006, ambos haviam se licenciado. Com a crise, voltarão ao plenário da Casa com a missão de blindar Arruda nos processos de afastamento que correm na Casa.

Eliana deve comandar a escolha do novo presidente para a Comissão de Constituição e Justiça. O distrital Rogério Ulysses, que ocupava o cargo, deverá oficializar seu afastamento. Ele teve o gabinete revirado por agentes da Polícia Federal que buscavam provas do suposto pagamento de propina à base aliada.

A volta dos dois parlamentares também deve aumentar a pressão que a base aliada faz pela renúncia de Leonardo Prudente à presidência da Casa. Prudente pediu afastamento do carro após a divulgação de vídeo em que ele aparece enchendo bolsos do paletó, da calça e até as meias com maços de dinheiro.

A renúncia de Prudente é boa para o governo porque enquanto está afastado deixa no comando da Câmara o deputado Cabo Patrício, do PT. Patrício não é aliado do governador e tem feito o possível para acelerar a tramitação dos processos que correm contra ele na Casa.