Título: Durvalzinho camarada
Autor: Medeiros, Luísa; Mader, Helena; Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 08/12/2009, Cidades, p. 8

Em novo vídeo, Leonardo Prudente agradece a Durval Barbosa um grande favor: a contratação pela Codeplan de vários apadrinhados

No vídeo, Prudente (D) demonstra sua gratidão a Barbosa

O vazamento de um novo vídeo expõe ainda mais o presidente licenciado da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), deputado Leonardo Prudente (DEM). Depois de aparecer escondendo dinheiro nas meias e em todos os bolsos do terno, ele foi filmado em um encontro com o ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa, a quem trata por ¿Durvalzinho¿.

Na nova gravação, Prudente deixa claro que, além de dinheiro, recebeu favores do autor das denúncias que desmoralizou o Executivo e Legislativo locais e respingou até em integrantes do Tribunal de Justiça e do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF). No vídeo recém-divulgado, o parlamentar, bastante sorridente, entra na sala abraçado a Durval. Senta-se à mesa e verbaliza toda a sua gratidão. Na conversa, Prudente dá a entender que são aliados de longa data. ¿Durval, rapaz, eu sou grato a você. (¿) Eu não esqueço as pessoas que me ajudam, não¿.

Logo em seguida, Prudente agradece a Durval Barbosa por este ter dado emprego na Companhia de Planejamento (Codeplan)(1) a servidores demitidos da Secretaria de Trabalho por Joaquim Roriz, então governador do DF. Na gestão de Roriz, Durval presidia a Codeplan e lidava, para a empresa de informática do Governo, com um orçamento anual de R$ 500 milhões. Os funcionários teriam sido indicados exonerados da secretaria teriam sido indicados por Prudente. ¿Lembra quando o Arruda¿ quando o Roriz demitiu meu povo na Secretaria de Trabalho? Tava tudo demitido e você chegou e contratou eles lá na Codeplan, pra mim?¿ Ainda na conversa, Prudente que entregou uma lista com os nomes das pessoas e os salários que elas recebiam. ¿Você me ajudou e ajudou a pagar o salário desse pessoal¿, comentou o democrata (leia Transcrições).

A reportagem tentou ouvir o deputado, mas ele não atendeu ao telefone celular. A assessoria de imprensa informou que Prudente está em Goiás, na companhia de familiares. Reforçou que ele não vai renunciar ao cargo de presidente da Câmara Legislativa. Além de ter se afastado do comando da CLDF, Prudente apresentou atestado médico por conta de estresse, documento que vale até o fim da próxima semana. Prudente planeja voltar ao trabalho até lá, informou a assessoria. Não se sabe quantas pessoas ele teria empregado na Codeplan com a ajuda de Durval Barbosa nem o salário que elas receberiam.

O licenciamento de Prudente como presidente do Legislativo local vence em 60 dias. Segundo a assessoria, o deputado não vai comentar as denúncias de que é alvo. ¿O advogado dele está tentando conseguir os vídeos e ainda não teve acesso a todas as fitas. Então, fica difícil falar qualquer coisa¿, justificou o órgão.

Currículo Leonardo Prudente tem 49 anos e nasceu em Goiânia (GO). Geólogo de profissão, é empresário do ramo de segurança privada. Duas empresas do segmento e cujos donos são ligados a Prudente prestam serviço para o GDF. É o caso da 5 Estrelas, que pertence aos filhos do parlamentar. A G6 Sistema de Segurança Integrada Ltda., fundada por Prudente, também presta serviços ao governo.

Em 2004, quando Joaquim Roriz comandava o Distrito Federal, Prudente foi secretário de Trabalho. Antes de ingressar no Democratas, do qual é integrante da Executiva Regional, foi do PMDB. Entre 2003 a 2006, ele atuou como vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar da CLDF. Presidiu também a Comissão de Economia, Orçamento e Finanças entre 2007 e 2008, período em que também tornou-se líder do governo na Casa. Neste ano, foi eleito presidente da Câmara para o biênio 2009-2010. É autor do livro ¿Terceirização, a revolução dos Serviços¿.

1- A empresa A Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) é uma autarquia do governo que, na gestão de Joaquim Roriz, comandava todo o setor de informática dos órgãos públicos do DF. Atualmente, tem outra função: é responsável pelas estatísticas locais e pelos programas voltados ao Entorno.

O número 60 dias Validade da licença pedida por Leonardo Prudente. Ele está afastado da Presidência da Câmara desde 1º de dezembro

Escândalo revolta fiéis Viola Júnior/Esp. CB/D.A Press Rodovalho leu uma nota de esclarecimento, mas evitou comentar o tema

A leitura de uma nota de esclarecimento marcou o início do culto da Igreja Sara Nossa Terra, frequentada pelo deputado Leonardo Prudente (DEM). Desde o fim de semana, havia rumores entre os frequentadores da comunidade evangélica de que o parlamentar iria ao culto na noite de ontem para dar uma satisfação aos fiéis que o apoiaram em peso nas últimas eleições, mas isso não ocorreu. O único momento em que se tocou no assunto foi quando o deputado federal Robson Rodovalho (DEM), bispo e fundador da comunidade evangélica, leu o que chamou de nota de esclarecimento.

No documento, que também está publicado na página da Sara Nossa Terra(1) na internet, está escrito que o Conselho de Bispos ¿repudia todo desvio ético e a toda forma de corrupção em quaisquer atividades¿. E acrescenta: ¿No caso dos religiosos envolvidos no inquérito e nas imagens divulgadas pela imprensa o dano é maior porque cabe a eles a missão de serem luz do mundo e sal da terra¿.

A leitura da nota, no entanto, foi avaliada como branda demais por alguns fiéis que se sentem traídos por Prudente. Na última campanha eleitoral, boa parte da comunidade trabalhou pela eleição do parlamentar. Para o comerciante Charles Torres, 29 anos, é preciso lembrar que, antes ser membro da igreja, Prudente é um cidadão e está sujeito ao erro, o que não reduz a decepção. ¿Como cidadão, ele vai ter que pagar pelo que fez. Mas a gente se sente como esposa traída. Esse povo acreditou nele, confiou e fez campanha para ele¿, lamentou.

Um estudante, que pediu para ter o nome preservado, disse que nas conversas entre os amigos o assunto é um só: a indignação diante das imagens de Prudente enfiando dinheiro nas meias. ¿Essa nota não diz nada. Isso que está acontecendo é um absurdo. Ele (Prudente) era homem de confiança do bispo. Em 2006, metade dessa igreja trabalhou na campanha para elegê-lo¿, comentou indignado um estudante de 19 anos que pediu para ter o nome preservado. Outro estudante destacou que escândalos como esse são ruins porque mancham a imagem da igreja. ¿As pessoas acham que porque um fez, todos são iguais¿, disse.

O vendedor Adriano Torres, 26, faz parte do grupo mais moderado. Ele avalia que a comunidade evangélica está tranquila quanto ao envolvimento de um de seus membros no escândalo de corrupção descoberto pela Polícia Federal. ¿Eu estou neutro nessa história. Não tenho uma opinião formada. Mas votei nele (Prudente) e espero ouvir dele se aquele dinheiro era ou não sujo. Se não for, que prove isso¿, comentou.

O encerramento da nota lida para cerca de 3 mil fiéis diz que ¿¿o caminho da redenção das falhas humanas é o arrependimento, a confissão e o abandono¿¿. Ao perceber que a reportagem entrevistava fiéis e fotografava o culto, os seguranças pediram que a equipe aguardasse autorização do diretor executivo da TV Gênesis, Ronaldo Motta Maciel. A reportagem pediu uma entrevista com o bispo Rodovalho. Mas ele respondeu, por meio de Maciel, que tinha reunião com os pastores após o culto que terminou às 21h50. (AB)

1- A igreja A Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra foi fundada há 17 anos pelos bispos Robson Rodovalho (deputado federal pelo DEM) e Maria Lúcia Rodovalho. Atualmente, são 550 igrejas no Brasil e no exterior. Os criadores da igreja acreditam que ¿a Terra está ferida pelas desigualdades sociais, pela miséria, fome, corrupção, bruxaria e todas as formas de exploração do mal¿. A igreja tem um canal de televisão (TV Gênesis) e uma concessão de rádio (Sara Brasil FM) além de um jornal (Sara Nossa Terra) e de uma revista (Sara Brasil).

Propriedade de Haras sob apuração Gustavo Moreno/CB/D.A Press

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) investiga negociação que envolve a compra de um haras no Núcleo Rural Tabatinga, região de Planaltina, cuja propriedade foi atribuída por Durval Barbosa ao governador José Roberto Arruda (DEM). Antigo proprietário da fazenda, o médico Anastase Bokos transferiu para Severo Araújo Dias o direito de uso das terras, em contrato informal, que teriam sido compradas por R$ 3 milhões à vista, segundo depoimento de Durval Barbosa que consta do inquérito da Operação Caixa de Pandora. Filho de Severo, Rodolfo Carvalho Dias é assessor especial do governador.

O Haras Sparta (foto) será beneficiado em processo de regularização de terras rurais em andamento no GDF. De acordo com o programa que tem como base uma lei federal, arrendatários de áreas na zona rural poderão comprar sem licitação esses lotes administrados pela Secretaria de Agricultura. Na semana passada, Arruda deu início a um cronograma de regularização dessas terras, em evento que contou com a participação do chefe de gabinete do presidente da República, Gilberto Carvalho.

De acordo com Bokos, Arruda nunca participou das negociações para a venda das terras. ¿Vendi o haras para Severo, por R$ 500 mil, em parcelas pagas em dinheiro e cheques¿, disse o médico. Severo comprou ainda duas chácaras vizinhas e construiu uma ponte de acesso entre os terrenos. Criador de cavalos, Bokos conta que também vendeu 20 mangalargas paulistas para Severo. A assessoria do governador sustenta que ele não tem nenhum haras e tampouco frequenta a propriedade de Severo, com quem não manteria nenhuma relação próxima. (Ana Maria Campos e Lilian Tahan)