Título: Muito otimismo para muita rejeição
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 10/12/2009, Política, p. 2

Cúpula petista minimiza índices negativos de Dilma nas pesquisas de intenção de voto e aposta em crescimento antes da Semana Santa

Dilma, com Berzoini e Dutra: ¿Se eu fosse analisar pesquisas, teria que falar de todas, pois cada uma apresenta um número¿

Menos de 48 horas depois de a pesquisa CNI/Ibope apresentar uma rejeição de 41% da pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, o partido reuniu militantes numa megafesta de confraternização na casa Villa Rizza, um dos salões mais badalados de Brasília. Ali, os petistas de alto escalão de ontem e de hoje vaticinaram: ¿O Lula ainda não entrou em campanha, nem ela. Dilma estará empatada com José Serra antes da Semana Santa do ano que vem. Essa rejeição se deve ao desconhecimento. Ela ainda não é conhecida, mas pode ter certeza: a polarização(1) está feita, uma vez que Ciro e Marina Silva caíram¿, disse ao Correio o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, antecessor de Dilma como chefe da pasta.

Na avaliação dos petistas, essa rejeição se dá pelo desconhecimento que a população tem da ministra. Por mais que ela tenha desfilado na TV nos últimos dias nas inserções do partido e apareça no programa que irá ao ar hoje à noite, a cúpula partidária avalia que não dá para querer que ela seja bastante conhecida antes da campanha. A própria Dilma evita comentários: ¿Se eu fosse analisar as pesquisas, falar de pesquisas, eu teria que falar de todas, pois cada uma apresenta um número¿, afirmou, ao lado do futuro presidente do partido, José Eduardo Dutra, que emendou: ¿Estatística é que nem biquíni. Mostra muita coisa, mas esconde o essencial¿.

A aposta da maioria do partido é a de que a candidata está ainda em fase de ¿aquecimento¿. E esse período inclui uma bateria de treinamento para a concessão de entrevistas, a gravação dos programas do partido, uma tarefa a cargo do publicitário João Santana. Dilma, no entanto, não deixa de colher os conselhos do publicitário Duda Mendonça, a quem admira, mas não se mostra disposta a recorrer a ele para tocar a campanha, até para não trazer novamente à tona o escândalo de 2005, quando Duda, numa CPI, confessou ter recebido pagamentos do PT no exterior. Por enquanto, a cúpula do partido não trabalha com a mudança.

Os marqueteiros trabalham hoje uma maneira de agregar valores à figura da ministra, de forma que ele consiga conquistar para si um patrimônio político que hoje pertence ao presidente Lula. E, ao mesmo tempo, querem marcar as diferenças entre a administração petista de 2003 a 2010 e a dos tucanos, que governaram de 1995 a 2002. Não é à toa que, em seus discursos, como o de ontem, a ministra começa a dar os primeiros passos no sentido de se mostrar acima do projeto do PSDB e preparar o terreno para colher a popularidade de Lula mais à frente: ¿Embora alguns digam que somos a continuidade de algo anterior, não somos, porque representamos uma outra forma de olhar para o nosso país e para o nosso povo. Não somos sequer parentes próximos. Representamos um outro projeto¿, afirmou Dilma,

Imagem colada ¿O governo Lula mudou a forma de fazer política no Brasil. Empreendemos um programa de transformação do país onde tínhamos um objeto central, colocar o povo como protagonista da história¿, disse Dilma, para, mais à frente, emendar: ¿Lula nos ensinou o caminho. Continuar o governo do presidente Lula significará sempre avançar¿, completou, citando a regulamentação da exploração de petróleo na área do pré-sal, um projeto que ela ajudou a conceber na Casa Civil com as informações de quem já havia sido ministra de Minas e Energia.

Passada essa fase, virá, no início de 2010, uma série de medidas que podem ajudar nesse trabalho que os petistas chamam de ¿passagem de bastão¿. Com Dilma ainda no papel de ministra e se preparando para assumir cada vez mais a postura de candidata, virá em janeiro um aumento real aos aposentados e pensionistas, como forma de dar discurso para que o governo rejeite o projeto do senador Paulo Paim (PT-RS), de vinculação dos ganhos de todos os benefícios previdenciários aos do salário mínimo.

Aliado a esse trabalho de vinculação das coisas boas do governo à ministra Dilma, vem ainda uma fase que os petistas acreditam ser de nuvens escuras sobre o ninho dos tucanos. Os petistas avaliam que José Serra, ainda na liderança das pesquisas, estacionou e, dado o quadro de falta de acordo no PSDB em torno do nome do candidato, chuvas em São Paulo, desabamento de viaduto e, para completar, as notícias que abateram a administração do único governador do DEM, José Roberto Arruda (DF), podem ajudar a diminuir a preferência de Serra. ¿A boa notícia para nós é de que, embora Serra continue na frente, a votação dele não cresceu¿, diz o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP). ¿Esse quadro de hoje não é o real. Em dezembro de 1993, Lula era líder nas pesquisas para presidente e Fernando Henrique Cardoso venceu em 1994. Agora, será o inverso¿, aposta o petista.

1 - Cenários José Dirceu se referia à pesquisa que deu à ministra 17% das intenções de voto, 13% para Ciro Gomes e 6% para Marina Silva. A mesma consulta detectou que, pelo cenário de hoje, o governador de São Paulo, José Serra, seria eleito no primeiro turno. E Dilma obteve uma rejeição de 41%.

Estatística é que nem biquíni. Mostra muita coisa, mas esconde o essencial¿

José Eduardo Dutra, presidente nacional do PT