Título: Mantega ainda crê em crescimento
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 11/12/2009, Economia, p. 15

Ministro rebate críticas, insiste que economia registrará expansão em 2009, mas evita fazer nova projeção

O governo jogou por terra as previsões de que 2009 será um ano de crescimento moderado, com o Produto Interno Bruto (PIB) batendo em 1%. Em coletiva convocada ontem para acalmar o mercado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que o resultado do terceiro trimestre ¿ficou longe¿ do que ele esperava. Mas afirmou que ainda assim o Brasil terá crescimento este ano, sem, no entanto, arriscar-se em um número.

O ministro tentou não se mostrar preocupado com os resultados apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que revelaram que o PIB no terceiro trimestre do ano avançou 1,3% ante os três meses anteriores. Anteontem, Guido Mantega havia previsto alta de 2% para o indicador. Descontando os efeitos pontuais de um mês e outro (sazonalidade), o PIB projetado em 12 meses (anualizado) até então previsto pela Fazenda era de 8%. Mas acabou sendo de 5,1%, o que fez com que o governo descartasse por completo as previsões que vinha mantendo desde o início do ano para o crescimento econômico.

Mantega falou menos de 30 minutos, respondeu a perguntas e brincou com jornalistas. Tentou ser bem-humorado até mesmo quando questionado se a evolução do número apresentado pelo IBGE não daria a entender que PIB estaria mais próximo de um ¿pibinho¿. O ministro foi peremptório ao negar. E citou como exemplo os resultados do terceiro trimestre de economias desenvolvidas, como as dos Estados Unidos e da Espanha. Nas palavras de Mantega, ¿pibinho¿ é o da União Europeia, que ficou positivo em 0,4% no terceiro trimestre de 2009. ¿Pibinho é o da Espanha e o da Alemanha. Esses, sim. Dos Estados Unidos. E do Reino Unido, que ficou negativo no terceiro trimestre¿, rebateu.

Revisão O chefe da Fazenda explicou que os números mais baixos do PIB decorreram basicamente de dois fatores. O primeiro foi a revisão da metodologia(1) do cálculo do PIB, por parte do IBGE. Isso mostrou não só que o crescimento anterior havia sido menor que o esperado como, também, que a crise no país não teve tanta força quanto se acreditava. O segundo fator veio do campo. No terceiro trimestre, o agronegócio esteve mais fraco que em igual período de 2008, ano em que a safra de grãos foi recorde.

No lado das boas notícias, Mantega citou os resultados da indústria, que cresceu 2,9% no trimestre, e do investimento, que refletem que ¿o Brasil está no caminho certo¿. Ele aproveitou para passar recado ao mercado, dizendo que o aumento dos gastos públicos com a máquina e com o funcionalismo não é perigoso. ¿A despesa de consumo da administração pública está baixa, só aumentou 0,5%, abaixo do PIB, que cresceu 1,3%. Então, não procedem aquelas análises que dizem que o governo está gastando muito. Não está. O PIB cresceu mais que o PIB do governo.¿

1- Correção No último trimestre de cada ano, o IBGE divulga, além dos resultados do PIB, uma revisão dos números de dois anos antes. O procedimento serve para corrigir possíveis distorções no cálculo de algumas variáveis. Também tem como objetivo dar mais consistência ao dado, fazendo com que setores mais presentes na economia, como o de serviços, tenham um peso maior no dado. Dessa vez, foram divulgados números novos para os resultados do quarto trimestre de 2008 e dos dois primeiros trimestres deste ano.