Título: Cresce a aposta nos juros altos
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 12/01/2010, Economia, p. 11

CONJUNTURA

O mercado financeiro não só reforçou as apostas na alta dos juros neste ano, como acredita que a taxa básica (Selic) subirá mais do que o previsto inicialmente. Foi o que mostrou ontem a pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo Banco Central (BC) com cerca de 100 especialistas. Agora, em vez de 10,75% ao ano, as projeções apontam para juros de 11%, o que representará um salto de 2,25 pontos percentuais em relação aos atuais 8,75%. O consenso entre os profissionais é de que a elevação da Selic começará em abril próximo. Mas, caso as expectativas de inflação para este ano, que estão em 4,5%, se deteriorem, o movimento poderá ser antecipado para março, ainda com Henrique Meirelles na presidência do BC ¿ são grandes as chances de ele deixar a instituição para disputar um cargo público.

¿O mais provável, por enquanto, é que a Selic suba a partir de abril, pois não há nada que aponte para mudanças significativas nas estimativas de inflação do mercado¿, disse o economista-chefe da Concórdia Corretora, Élson Teles. ¿O BC não permitirá, porém, que as estimativas para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) descolem do centro da meta. Mesmo que isso implique em antecipar o esperado aumento dos juros¿, acrescentou. Na opinião de Teles, também não será surpresa se a Selic chegar aos 11,25% em um quadro de piora das expectativas inflacionárias. ¿Só não acredito no aumento de quatro pontos, para 12,75%, como vêm indicando os mercados futuros¿, emendou.

Para Gustavo Gazaneo, gestor da SLW Asset Management, apesar de o cenário principal apontar para alta da Selic ao longo deste ano, com o intuito de conter as pressões inflacionárias resultantes do forte crescimento econômico, há chances de o BC não ser obrigado a mexer na Selic. ¿Vamos ver índices de inflação mais altos no início do ano, devido a fatores pontuais. Mas, nos meses seguintes, o quadro será bem mais confortável, pois veremos as tarifas públicas com reajustes muito baixos. Elas representam um terço do IPCA¿, assinalou. Caso a profecia do mercado se confirme, Gazaneo não vê necessidade de aumento superior a dois pontos na Selic.

Eleições

Se, no acumulado do ano, as tarifas públicas ¿ especialmente as de energia elétrica e de telecomunicações, que tendem a refletir a deflação (queda) dos índices gerais de preços (IGPs) ¿ vão jogar a favor do IPCA, nos dois primeiros meses ocorrerá exatamente o oposto. Em janeiro, quando se projeta inflação entre 0,50% e 0,55%, haverá um forte impacto do reajuste de 17% nas tarifas de ônibus de São Paulo. Em fevereiro, será a vez de o IPCA computar os aumentos das mensalidades escolares. ¿Mas tudo isso já está precificado pelo mercado¿, destacou Élson Teles. Para o governo, o melhor seria que o BC mantivesse os juros estáveis neste ano, pois mudanças na Selic serão um prato cheio para a oposição atacar a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sucessão do presidente Lula.

MEIRELLES ELEITO PARA O BIS O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi eleito ontem membro do Conselho Diretor do Banco de Compensações Internacionais (BIS), o BC dos bancos centrais. Será a primeira vez que um brasileiro ocupará assento no comando do órgão que regula e fiscaliza os mercados financeiros globais. O poder de decisão do BIS sempre esteve nas mãos das economias desenvolvidas. Essa barreira foi quebrada pelo Brasil e pela China, dois emergentes apontados como futuras potências mundiais. O mandato de Meirelles será de dois anos e é pessoal. Ou seja, se ele deixar o comando do BC brasileiro em abril deste ano para concorrer a um cargo público ¿ o governo de Goiás, por exemplo ¿ ou em dezembro, fim do governo Lula, o Brasil perderá o assento no Conselho Diretor do BIS. Haverá uma nova eleição e o sucessor de Meirelles terá que se candidatar ao cargo. A escolha de Meirelles foi atribuída ao bom desempenho do Brasil em meio à crise mundial e às medidas adotadas pelo BC para evitar uma onda de quebra de bancos no país. (VN)

Bovespa abre semana em alta

O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) interrompeu dois pregões de queda e fechou a segunda-feira em alta de 0,24%, aos 70.433,49 pontos, depois de bater na máxima de 71.068,06 pontos pela manhã. O giro financeiro foi de R$ 6,19 bilhões. A reação foi motivada por otimismo nos mercados externos em função da boa performance das importações e exportações da China, que sinalizam retomada de fôlego do comércio mundial. Nos Estados Unidos, o Dow Jones da Bolsa de Nova York ficou positivo em 0,46% e, na Europa, a Bolsa de Frankfurt registrou ligeira alta de 0,05%. No mercado de câmbio brasileiro, o dólar fechou o primeiro dia da semana cotado a R$ 1,737, com alta de 0,55%.