Título: Financiamentos crescem a ritmo maior que o PIB
Autor: Izaguirre, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2008, Finanças, p. C5

O estoque de crédito concedido pelas instituições financeiras no Brasil manteve, nos primeiros oito meses de 2008, um ritmo de crescimento superior ao da economia do país, saindo de 34,7% para 38% do Produto Interno Bruto, do fim de 2007 até fim de agosto desse ano. Nominalmente, a expansão também foi expressiva, 18,6%, fazendo com que a carteira fechasse o mês em mais de R$ 1,11 trilhão.

A julgar pelas estatísticas divulgadas na sexta-feira pelo Banco Central, não há, porém, nenhum sinal consistente de que essa ampliação da oferta de crédito no Brasil tenha ocorrido sem a devida prudência por parte do conjunto do sistema financeiro - tema de questionamento de muita gente depois que o mercado financeiro americano entrou em colapso por causa de operações demasiadamente arriscadas no segmento imobiliário.

Segundo dados do BC brasileiro, as operações com tomadores classificados como inadimplentes (com parcelas em atraso há mais de 90 dias) fecharam agosto em 3% do total da carteira. Relativamente a julho, quando o percentual caiu para 2,9%, houve ligeira elevação. Ainda assim, trata-se de um nível de inadimplência inferior ao existente no fim de 2007 (3,2%) e mesmo em maio de 2008 (3,1%). Em relação a janeiro de 2007, quando o percentual era de 3,8%, a queda é ainda mais significativa.

Nos bancos públicos especificamente, a fatia das operações com parcelas em atraso há mais de 90 dias saiu de 2% para 2,3% do total da respectiva carteira de julho para agosto. Mas, além de estar abaixo do que era em dezembro (2,5%), esse nível ainda é inferior à média do sistema financeiro. Nos bancos privados de controle nacional, onde é de 3,5%, a inadimplência não se alterou no mês, mas também está inferior ao que era em dezembro (3,7%). Nos bancos privados de controle estrangeiro, a inadimplência fechou agosto em 3,2%, abaixo do nível de julho (3,3%) e acima do de dezembro (3,1%).

A qualidade da expansão do crédito no Brasil pode ser aferida também pela participação, no total de operações, daquelas com melhor classificação de risco (AA, A, B ou C). Definidos como de "risco normal" pelo BC, esses créditos representavam, no fim de agosto, 92,2% do total da carteira, patamar muito semelhante ao de dezembro de 2007 (92,0%).

Ainda conforme o BC, o nível de provisões do sistema para créditos de difícil recuperação subiu de 5,2% para 5,3% de julho para agosto. Em dezembro, essa fatia era de 5,5% da carteira. A queda, no ano, deve-se ao ligeiro recuo da inadimplência ao longo do mesmo período, de 3,2% para 3% como já citado.

Não há, nas tabelas do BC, um número que permita verificar a inadimplência específica de pessoas físicas e jurídicas em relação ao total da carteira. Essa separação só é feita em relação a operações usadas como referência para apuração de taxas de juros e cujo saldo fechou agosto em R$ 618 bilhões, cerca de 55% do total apenas. Em relação a esses créditos, a inadimplência das pessoas físicas saiu de 7,3% para 7,5% em agosto, o mais alto nível desde janeiro de 2007. Em maio, no entanto, o percentual já tinha alcançado 7,4% e depois caiu. Em relação à mesma amostra da carteira, a inadimplência das empresas manteve-se em 1,7% em agosto, nível igual ao dos dois meses anteriores e inferior ao de dezembro de 2007 (2%).

Consideradas operações oriundas de recursos livremente aplicados pelos bancos, o volume de crédito subiu nominalmente 2,5% no mês e 20,7% desde início do ano, atingindo R$ 797,82 bilhões em agosto, incluídos as operações referenciais para taxas de juros (a diferença para R$ 1,11 trilhão refere-se a crédito direcionado). Dentro do estoque do crédito livre, as operações com pessoas físicas cresceram menos do que as com pessoas jurídicas, indicando que a expansão foi mais voltada à produção e não ao consumo. Até agosto, a evolução foi, respectivamente, de 18,1% e de 23,1% no ano e de 1,5% e 3,4% no mês. Dentro do volume de crédito livre a pessoas jurídicas , cresceram menos as operações com recursos captados pelos bancos no exterior. A expansão foi, nesse caso, de 2,2% no mês de de 8,9% no ano. No trimestre terminado em agosto, no entanto, houve retração de 2,1%.