Título: Popularidade de Lula não é capaz de eleger postes, diz governador da Bahia
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2008, Política, p. A8

Na reta final da campanha, a eleição embolou em Salvador, Bahia. Talvez mais que em qualquer outra cidade, o clima entre os aliados é tenso. Os três dos dois candidatos cotados para passar para o segundo turno são da base de apoio do governo Luiz Inácio Lula da Silva e do governador Jacques Wagner: João Henrique, do PMDB, atual prefeito, e Walter Pinheiro, do PT. O terceiro é Antonio Carlos Magalhães Neto, ACM Neto, do DEM e herdeiro do carlismo. Ruy Baron/Valor - 9/12/2005

Jaques: governador baiano mantém discurso conciliador em relação ao ministro Geddel Vieira Lima

Em poucos Estados a disputa pelo uso da imagem do presidente foi tão intensa, a ponto de levar o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), um dos fiadores da aliança PT-PMDB, ao ponto de ameaçar um rompimento com o governo. Jaques diz que não é de "esquentar" briga. Acredita na recomposição, apesar da "tensão" entre os aliados.

O governador da Bahia acha que não basta a popularidade para eleger "um poste". É preciso haver sinergia com o eleitorado. "Há uma maximização da imagem do governador e do presidente da República, que eu acho que contam, mas não é uma coisa absoluta de o cara sair de zero para 60%!", disse ao Valor, em conversa na sexta-feira. O petista também não vê o governador de Minas Aécio Neves como candidato pelo PMDB com o apoio de Lula. "Só se for na oposição", diz.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: O apoio do presidente e do governador desequilibra a eleição?

Jaques Wagner: Quando alguém diz "eu sou Lula desde criancinha", quando é Lula só a partir do ano passado, as pessoas se dão conta. Até porque eu acho que as pessoas lêem errado as pesquisas. Quando ela diz assim: 60% dos eleitores dizem que o apoio do presidente Lula é benéfico, o que eles estão dizendo é que, para 66% do eleitorado, saber que o candidato que ele escolheu é aliado do presidente Lula, aumenta a vantagem dele em 60%. Mas é o que eu digo aqui é que 60% de 1% é 0,6%. Então o cara sairá de 1% para 1,6%. É que as pessoas querem ler assim: se o presidente Lula botar a mão eu saio de zero para 60%. O que não é verdade.

Valor: Não é automático.

Wagner: Não existe isso. É óbvio que quando você cria uma sinergia, quando há uma consciência coletiva, as pessoas raciocinam assim: eu vou votar nesse cara que ele é amigo do governador, é amigo do presidente e não é um babaca, para falar um termo bem objetivo. Agora, se o cara for um babaca, diz assim "pô Lula, você vai me perdoar mas nesse aí eu não voto não". Então não funciona aquela idéia de eu "elejo um poste". Não existe isso.

Valor: No entanto, o senhor acha que o PT vai crescer mais que os outros.

Wagner: Com essa identificação do 13, eu acho que os candidatos do PT ganham mais que os outros. Não é em detrimento dos outros.

Valor: O fato é que há reclamação. Como é que a base vai chegar em Brasília para as votações?

Wagner: Óbvio que a volta é uma volta com pontos de tensão. Não tem como. Toda eleição, evidente que mais na eleição municipal, não é um mar de rosas. A lógica municipal é mais intensa que a estadual e que a nacional. O que está em jogo agora? Os deputados estaduais e federais lutam fortemente para a eleição do seu prefeito, e isso na contabilidade dele significará uma posição melhor para a eleição dele em 2010. É essa a briga. E o governador? O prefeito pesa X para deputado estadual e federal e pesa um pouco menos para governo do estado e presidente da República. Evidente. Isso porque ele consegue muito mais coordenar o voto para deputado estadual e federal.

Valor: Mas a eleição de prefeitos agora não dará uma base melhor para a eleição do presidente e de governador de 2010?

Wagner: A população está estabelecendo uma lin ha direta entre ela e os cargos majoritários, principalmente governador e presidente da República. Vou dar o meu exemplo: eu tinha 50 prefeitos em 417. E ganhei na faixa de 230 cidades. Significa que nem os prefeitos que trabalharam contra convenceram a população. Eu não estou menosprezando, evidentemente que ele é um elemento da política, e da base de apoio, mas ele pesará muito mais na eleição de deputado estadual e federal, eventualmente na de senador, do que na de governador e presidente da República.

Valor: Por quê?

Wagner: Eu me convenço cada vez mais que as pessoas não querem intermediário para escolher governador e presidente. Por que dá tensão? Dá uma tensão maior aqui e vai dar uma tensão menor em nível nacional. É uma coisa até curiosa: onde você vai e ganha, em geral o cara vai dizer que foi ele que ganhou. Onde você não vai e o cara perde, ele vai dizer que você é que foi o culpado pela derrota dele.

Valor: A base fica unida?

Wagner: Está todo mundo mais maduro e todo mundo dá importância a estar participando de um projeto, até agora, exitoso, que é o do presidente Lula, em nível nacional, e na Bahia. até agora, a gente está bem. Então eu não acho que vá haver alguma sangria desatada.; Agora é fato que haverá uma tensão pós eleitoral normal. Eu, por exemplo, estou tentando ser o mais equilibrado possível. Há uma maximização da imagem do governador e do presidente da República, que eu acho que contam, mas não é uma coisa absoluta de o cara sair de zero para 60%. Quando está pau a pau, digamos um está com 40% e outro está com 38%, aí eu concordo que pode fazer a diferença.

Valor: O senhor e o ministro Geddel saem como entraram nessa eleição?

Wagner: Temos um ponto de conflito que foi produzido por alguém que não era meu nem dele, que é o prefeito atual, que foi eleito pelo PDT, com vice do PSDB, e baixíssima participação do PMDB, que não tinha nem interesse em ficar no governo. Tinha lá uma secretaria marginal. De repente, quando o cidadão viu que estava com problemas de sobrevivência política, ele teve de sair de um partido pequeno e procurar um partido maior para se abrigar. Ele é muito midiático. Eu até gosto dele, não é um mau caráter, não é um larápio, mas é um cara confuso. Confuso na política e confuso na gestão. Ele precisava de tempo de televisão. Quis vir para o meu partido, coisa que eu recomendei.

Valor: Mas o PT não quis?

Wagner: O vício do cachimbo deixa a boca torta. A gente vai amadurecendo mas alguns vícios vez por outra aparecem. Então apesar de o governador dizer: "rapaz, põe o cara pra dentro. A gente já está no governo, põe logo o cara no PT", o meu partido não acolheu a minha sugestão, o pedido de seu governador. E ele acabou indo para o PMDB. Ao ir para o PMDB gerou então um pólo de tensão. Não por culpa dele, por culpa da conjuntura. Geddel e o PMDB receberam esse presente - tinham pouquíssima coisa em Salvador e ganharam um prefeito e uma prefeitura, como máquina política para fazer a operação da política, no bom sentido. É óbvio que gostariam de ter todo mundo em torno deles. Então lutaram por isso. Eu defendi a tese da minha base de sustentação (um candidato só), pelo menos na capital. As pessoas não se convenceram. Até porque diziam que ele é ruim de compromisso. O pessoal de pesquisa dizia que ele tinha dificuldade de ir até para o segundo turno. O argumento é que era melhor não jogarmos com uma hipótese só e perdermos para o PFL. A outra hipótese era o Imbassahy, com quem eu tenho relação. Mas isso não animava muita gente exatamente porque era um alinhamento com o PSDB nacional e as pessoas aqui não tinham interesse óbvio nessa aproximação. Quando acabar a eleição tem um rescaldo a ser tratado. E eu tenho que ficar administrando esse conjunto todo.

Valor: A base se mantém até 2010?

Wagner: Político é um animal objetivo, que eu dividiria em dois tipos: uns um pouco mais programáticos e outros, vamos dizer assim, mais conjunturais. Quem é mais programático, tende a continuar, apesar de ter havido um estremecimento com o chamado bloquinho (a união congressual de PSB, PCdoB e PDT). Mas eu acho que diminuiu essa tensão. Já vinha diminuindo antes, com a solução de São Paulo (a indicação de Aldo Rebelo para vice de Marta Suplicy). A relação do Eduardo Campos (governador de Pernambuco e presidente do PSB) com o presidente é excepcional. O episódio de Minas, por mais que localmente tenha ha reflexos no PT - e há um rescaldo a ser cuidado internamente - , do ponto de vista externo da relação dos aliados o PT acabou marcando um tento positivo, porque bem ou mal apoiou um candidato do PSB com interligação do PSDB, o que mostra que, aos trancos e barrancos, o PT também consegue apoiar os outros.

Valor: Como senhor vê a questão de Minas?

Wagner: Internamente ainda tem muita coisa a ser trabalhada. Ficou a tensão com o Fernando Pimentel, vem a eleição para governador e ele evidentemente é um nome. Há insatisfações que terão de ser aparadas. Eu não sou de Minas e não quero me meter, mas o problema parece sido mais de método mesmo.

Valor: Como encaixar esse grupo no plano da sucessão federal.?

Wagner: Eu acho que a administração que foi feita em Minas, é óbvio que ela sempre terá contornos nacionais, mas na minha opinião ela terá muita influência na questão estadual. Eu acho que o Fernando e o Eduardo não têm peso para influir na questão interna do PSDB. Portanto não têm peso para ajudar o Aécio a ser o candidato do PSDB. Também não vejo nenhuma hipótese de o Aécio ser candidato em composição, vamos dizer, como Eduardo Campos, o PSB. A relação do PSB com o presidente é excepcional. O Ciro Gomes, o Eduardo. Então, sinceramente, eu não consigo ver a tal história de o Aécio vir ao PMDB para virar candidato, só se for para ser candidato contra o candidato do presidente Lula.

Valor: A eleição de São Paulo prova que não há como ter dois candidatos da situação?

Wagner: Se o presidente Lula desembarca em 2010 extremamente bem avaliado, e coloca uma candidatura à sucessão que mostre fôlego, não acho que os aliados atuais queiram sair fora. Tendo uma candidatura boa,. a tendência é manter isso tudo junto.

Valor: O PT vai para o segundo turno em Salvador?

Wagner: De há muito esta é a primeira eleição de Salvado equilibrada. Está dando o que eu imaginava: Neto tem o público deles (carlismo, que está na casa entre 23% e 25%, não cai mas também não sobe, que foi o índice do último candidato deles (César Borges); Imbassahy perde fôlego...

Valor: E foi abandonado pelos tucanos?

Wagner: Pelos daqui não, pelo Serra (José, governador de São Paulo) não, mas pelos outros talvez sim, porque ele está numa posição meio autônoma em relação ao comando nacional. Pinheiro está crescendo, e aí vamos ver. Qualquer dois dos quatro pode ir.

Valor: Para o governador seria mais fácil administrar uma disputa Neto-Pinheiro, não é?

Wagner: Politicamente, se forem dois aliados para o segundo turno a mensagem política é positiva, e a administração é difícil.