Título: Fundo prevê recessão longa e profunda
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2008, Finanças, p. C6

É bom se preparar para o pior. Crises financeiras com as características da atual costumam ser seguidas por recessões profundas e prolongadas e a possibilidade de que os Estados Unidos entrem num doloroso período de contração econômica são grandes, conforme um estudo divulgado ontem pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Os economistas da instituição dizem no trabalho que a desaceleração da economia americana nos próximos meses será "mais severa" do que em outros países e "pode evoluir para uma recessão". A desaceleração da atividade econômica na Europa será menos acentuada, segundo eles. Projeções mais detalhadas serão divulgadas na próxima semana.

Os economistas do Fundo examinaram 113 crises financeiras ocorridas nas últimas três décadas nos EUA e em outras 16 economias avançadas. A conclusão deles é que a crise iniciada com os problemas que apareceram no mercado imobiliário americano no ano passado exibe diversos traços que no passado foram associados com períodos de contração econômica aguda.

Os cálculos do FMI indicam que economias que atravessaram períodos de estresse financeiro e depois entraram em recessão experimentaram em média perdas de 4,5% do Produto Interno Bruto. Países em que recessões econômicas não foram precedidas por crises financeiras sofreram contrações bem menores, de 2,25% do PIB em média.

O estudo do FMI indica também que os economistas da instituição passaram a ver com ceticismo os benefícios proporcionados pela enorme sofisticação do sistema financeiro americano, que no passado foi celebrado pelo Fundo como um dos principais motores do longo ciclo de expansão que a economia global experimentou antes que a crise americana tivesse início.

O trabalho conclui que as inovações introduzidas pelos bancos nos últimos anos com o objetivo de diluir riscos e ampliar a oferta de crédito tornaram o sistema mais instável. "A falta de informação sobre o valor e o risco de muitos produtos securitizados, e sobre as perdas subseqüentemente associadas a esses produtos, parece ter tido um papel significativo na amplificação da crise atual", diz o estudo.

O trabalho também inclui várias recomendações para os governos. Eles admitem que é inevitável o uso de recursos públicos para purgar o sistema dos excessos cometidos antes de crises como a atual, mas sugerem que isso seja feito com cautela, evitando a "criação de incentivos impróprios" que no futuro levem as instituições financeiras a acreditar que poderão ser socorridas novamente pelo governo quando as coisas forem mal.

Os economistas do Fundo também recomendam que os bancos centrais prestem mais atenção na evolução dos preços de ativos como os imóveis e tomem cuidado para não deixar a oferta de crédito se expandir sem controle, para evitar a geração de novas crises. "A política monetária deve ser usada para lidar com aumentos [nos preços dos ativos e na oferta de crédito] que podem deixar a economia vulnerável a perdas de produto maiores na eventualidade de choques severos", diz o estudo. (RB)

O estudo está disponível em www.imf.org/external/pubs/ft/weo/ 2008/02/pdf/c4.pdf