Título: Mercosul não atinge metas econômicas fixadas pelos sócios
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2008, Brasil, p. A3

O Mercosul teve, nos últimos anos, bons resultados nas metas para fortalecimento institucional e social, e um desempenho baixo ou nulo na maioria dos objetivos econômico-comerciais traçados pela diplomacia, segundo avaliação da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).

Apesar do aumento no comércio do Brasil com países do Mercosul (de US$ 3,3 bilhões em 2002 para quase US$ 14 bilhões em 2007), os sócios foram incapazes de concluir tarefas fixadas em 2003 para eliminação das exceções que deixam fora da Tarifa Externa Comum (TEC) quase 67% dos tipos de produtos da lista de mercadorias comercializadas - ou 44% do valor total do comércio dos quatro países. Não conseguiram coordenar políticas agrícolas, ações de defesa comercial, concessão de incentivos ou tratamento para as Zonas Francas.

Essa falta de avanços cria problemas para o Brasil nas negociações comerciais, que se somam às dificuldades de cada país - como na Argentina, em que as maiores sensibilidades da indústria local tornam o governo menos disposto a conceder reduções de tarifas.

Esses problemas levam dirigentes da Fiesp, como o diretor de comércio exterior Roberto Giannetti da Fonseca, a defender a transformação do Mercosul em aérea de livre comércio, sem tarifas comuns para terceiros países. A idéia não é consensual e é rechaçada com veemência pelo Itamaraty, para quem o fim da TEC, mesmo imperfeita, poderia reduzir as preferências conferidas pelos sócios ao Brasil em relação a outros países.

Os diplomatas não gostam de falar em cenários pós-Rodada Doha, por acreditarem que a concentração de esforços exigida pelas negociações da OMC não impediu a exploração das alternativas de acordos para o Mercosul. "Não há um big bang para as negociações bilaterais", diz diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, Carlos Márcio Cozendey.

Para outro diplomata ligado às negociações comerciais, porém, o iminente reconhecimento de que a rodada fracassou, e só deve ser retomada após 2009, deverá obrigar os negociadores da União Européia a decidir se levam adiante ou não conversas discretas que vêm mantendo com a diplomacia brasileira nas últimas semanas. E deve liberar espaço nas agendas do ministro Celso Amorim e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para dar maior destaque a negociações como a do México, vistas como importantes pelo governo e pelos empresários, mas carente de impulso político. (SL)