Título: Primeiro turno consagra prefeitos candidatos
Autor: Felício, César; Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2008, Política, p. A5

Todos os 20 prefeitos de capital que se candidataram a um novo mandato foram reeleitos ou disputam o segundo turno no dia 26 de outubro. Na esfera municipal, é o mais eloqüente sinal de continuidade dado pelo eleitorado desde a aprovação da emenda constitucional que criou a possibilidade de recondução, em 1997.

Com a a apuração praticamente encerrada ontem, quinze eleições em capital terminaram no primeiro turno, com treze dos 20 prefeitos reeleitos. O PT havia conseguido reeleger cinco de seus prefeitos de capital (Luizianne Lins, em Fortaleza; João Coser em Vitória; Raul Filho, em Palmas; Raimundo Angelim, em Rio Branco e Roberto Sobrinho, em Porto Velho).

O PSDB garantiu um novo mandato para Beto Richa, em Curitiba, e Silvio Mendes, em Teresina. O PMDB reconduziu Iris Rezende, em Goiânia e Nelson Trad, em Campo Grande. Também se reelegeram os socialistas Iradilson Sampaio (Boa Vista) e Ricardo Coutinho (João Pessoa), o comunista Edvaldo Nogueira (Aracaju) e Cícero Almeida, do PP, em Maceió.

A eleição de ontem colocou em xeque a lógica de transferência de apoios, nas capitais em que o atual prefeito não pôde se reeleger. O caso mais emblemático é o de Natal. Com apoio do prefeito Carlos Eduardo Alves (PSB), do presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB), da governadora Wilma de Faria (PSB) e com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu palanque, a candidata petista Fátima Bezerra perdeu a eleição no primeiro turno para Micarla de Souza (PV), uma aliada do líder do DEM no Senado, José Agripino Maia.

O único exemplo de prefeito em fim de mandato bem sucedido em eleger o sucessor foi João Paulo (PT), no Recife, que conseguiu eleger no primeiro turno o deputado estadual João da Costa (PT). Em Belo Horizonte, sob as asas do prefeito Fernando Pimentel (PT) e do governador mineiro Aécio Neves (PSDB), o empresário Márcio Lacerda (PSB) terá que enfrentar um inesperado segundo turno com Leonardo Quintão (PMDB), sem padrinhos importantes. No Rio, em Macapá e em São Luís, os candidatos apoiados pelos prefeitos César Maia (DEM), João Henrique (PR) e Tadeu Palácio (PDT) não foram para o segundo turno.

A tendência de reeleição, contudo, não faz com que o cenário seja favorável a todos os que tentam um segundo mandato no dia 26 de outubro. Em Porto Alegre e Belém, os prefeitos José Fogaça (PMDB) e Duciomar Costa (PTB) devem enfrentar a união dos principais adversários na rodada eleitoral decisiva.

Em Salvador, João Henrique (PMDB) terá como adversário o petista Walter Pinheiro, que saiu do quarto para o segundo lugar nas pesquisas nas últimas semanas do primeiro turno. Em São Paulo, com 92% dos votos apurados, Gilberto Kassab (DEM) ainda liderava. Em Manaus, Serafim Corrêa (PSB) ficou em segundo lugar no primeiro turno, mas deve se beneficiar com a alta rejeição do primeiro colocado, Amazonino Mendes (PTB).

Assim como em 2004, as eleições municipais deste ano mostram um cenário desfavorável aos atuais governadores. Onze tiveram seus candidatos a prefeito nas capitais derrotados ainda no primeiro turno: Yeda Crusius (PSDB-RS), Eduardo Braga (PMDB-AM), Roberto Requião (PMDB-PR), Teotonio Vilella Filho (PSDB-AL), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Wellington Dias (PT-PI), Ivo Cassol (sem partido-RO), Anchieta Júnior (PSDB-RR), Wilma de Faria (PSB-RN), Marcelo Miranda (PMDB-TO) e Alcides Rodrigues (PP-GO). Apenas três já saíram vencedores ontem: Eduardo Campos (PSB-PE), Paulo Hartung (PMDB-ES) e André Puccinelli (PMDB-MS). Mas com exceção do último, os outros apoiaram candidatos petistas, que não são completamente identificados com seu grupo político.

Presente no cenário nacional desde 1994, a polarização entre PT e PSDB praticamente inexistiu nesta eleição municipal. Em apenas duas capitais, onde a disputa já se resolveu no primeiro turno, tucanos e petistas ocuparam as duas primeiras posições: Teresina e Curitiba, em ambos os casos com vitória do PSDB. Em 2004, esta polarização aconteceu em quatro capitais, com disputa no segundo turno.

Os partidos de oposição ao governo Lula disputam diretamente o segundo turno em três cidades: São Paulo (Gilberto Kassab, do DEM), São Luís (João Castelo, do PSDB) e Cuiabá (Wilson Santos, do PSDB). Indiretamente, estarão presentes em outras duas: Rio, onde o PSDB apóia Fernando Gabeira (PV), e em Manaus, onde PSDB e DEM apóiam a reeleição de Serafim Corrêa (PSB). No primeiro turno, o PSDB conquistou apenas as capitais do Piauí e Paraná, e indiretamente, a oposição teve uma vitória em Natal, com o apoio formal do DEM ao PV.

No melhor cenário, portanto, a oposição ao governo federal garantirá espaço em oito das 26 capitais. Hoje, PSDB, DEM e PPS estão diretamente no governo ou apóiam cinco prefeitos. Para os tucanos, do ponto de vista formal, houve prejuízo em relação a 2004, já que o partido não terá a prefeitura de São Paulo. Mas o governador José Serra (PSDB) é o mentor da candidatura do DEM na cidade. O partido, que elegeu cinco prefeitos há quatro anos, poderá no máximo chegar a quatro.

O DEM elegeu apenas um prefeito de capital em 2004 (César Maia, no Rio) e pode repetir o feito este ano, caso Gilberto Kassab (DEM) consiga um novo mandato em São Paulo.

O PMDB, que recebeu em quatro anos as filiações de João Henrique em Salvador, Dario Berger em Florianópolis e José Fogaça em Porto Alegre, é o partido que pode registrar o avanço eleitoral mais significativo em relação a 2004. Naquela ocasião, a sigla conseguiu a vitória em apenas duas capitais.

Agora, o PMDB poderá chegar a oito prefeitos eleitos de capital, já que ganhou na primeira rodada em duas destas cidades e disputa o segundo turno em seis outras. Tenta a recondução de seus três recém filiados e disputa ainda no Rio, com Eduardo Paes e Belo Horizonte, com Leonardo Quintão.

Em Belém, com 92% dos votos contados, José Priante (PMDB) estava com pequena dianteira sobre Mario Cardoso (PT), para conseguir a vaga no segundo turno, contra o prefeito Duciomar Costa (PTB). Além disso, poderá estar indiretamente no poder em São Paulo, onde pertence à sigla a candidata a vice-prefeita na chapa do integrante do DEM Kassab, a ex-deputada estadual Alda Marco Antônio. Dependendo da combinação dos resultados, o partido estará presente nos quatro maiores colégios eleitorais do país, que são as capitais de São Paulo, Rio, Minas e Bahia.

Vencedor de nove eleições em capitais em 2004, o PT este ano poderá, no máximo repetir o feito, e, na pior das hipóteses, ficar apenas com as seis em que venceu no primeiro turno. O partido disputa a segunda rodada em São Paulo, com Marta Suplicy; Salvador, com Walter Pinheiro; e Porto Alegre, com Maria do Rosário e está na chapa de Márcio Lacerda (PSB) em Belo Horizonte e de Flavio Dino (PC do B) em São Luís. O PT indiretamente também ganhou em Goiânia, onde forneceu o vice na chapa do pemedebista Iris Rezende.

Dos partidos menores, o maior destaque é o PV, que não apenas teve a sua primeira vitória em capitais, com Micarla de Sousa em Natal, como disputará o segundo turno no Rio, com o deputado federal Fernando Gabeira. Sem ir para o segundo turno, o partido ainda ficou em segundo lugar em Porto Velho e Palmas.

O PDT pela primeira vez poderá ficar sem qualquer representante entre as prefeituras de capital, caso perca o segundo turno em Macapá, onde o pedetista Roberto Góes disputa com Camilo Capiberibe (PSB), que ficou em primeiro lugar. Em 2004, a sigla elegeu três prefeitos.

Com dinheiro sobrando no caixa, alguns prefeitos abriram os cofres e elevaram significativamente os gastos neste ano. São Paulo e Salvador são dois casos eloqüentes dessa tendência. De janeiro a agosto, as despesas não financeiras totais da prefeitura de São Paulo aumentaram 28,9% em relação ao mesmo período do ano passado, atingindo R$ 12,3 bilhões. As receitas, por sua vez, cresceram 13,7% no mesmo intervalo.

O prefeito João Henrique (PMDB), que ficou em primeiro lugar no primeiro turno também aumentou com força os gastos neste ano. No primeiro semestre, a prefeitura elevou as despesas não financeiras em 19,6%, ritmo próximo ao da alta das receitas não financeiras, de 19,8%.

Em Curitiba, as despesas não financeiras líquidas aumentaram 15,6% de janeiro a agosto, menos do que em São Paulo e Salvador, mas ainda assim bem acima da inflação registrada no período, de 4,48%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O prefeito Beto Richa se reelegeu com folga, recebendo quase 80% dos votos válidos.

Em Porto Alegre, o prefeito José Fogaça (PMDB) promoveu um aumento bem mais moderado das despesas não financeiras, de 8,15% no período de janeiro a agosto, a despeito de as receitas terem crescido 19%. José Fogaça passou ao segundo turno na primeira posição.

No Rio de Janeiro, onde Solange Amaral (DEM), a candidata do prefeito César Maia, teve um desempenho pífio, os gastos aumentaram a um ritmo bem mais modesto. Nos oito primeiros meses do ano, subiram 7,4%, um pouco mais da metade da velocidade de alta das receitas, de 13,9%. Parte do baixo crescimento das despesas não financeiras se explica por causa do avanço mais forte registrado no ano passado, relacionado às obras para o Pan 2007, disputado na cidade. De janeiro a agosto de 2007, os gastos não financeiros aumentaram 15,7% em relação a igual intervalo de 2006.