Título: Ibovespa cai 51% em dólar desde maio e corretoras revêem projeções
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2008, Investimentos, p. D2

O agravamento da crise internacional nas últimas semanas fez o Ibovespa fechar sexta-feira com uma perda em dólar de 51,15% desde o pico do ano, em 20 de maio. O número soma a queda do índice e a alta do dólar e é a forma que os estrangeiros calculam seus ganhos no país. Trata-se de uma das maiores perdas em dólar da história do índice em tão pouco tempo, afirmam analistas. "Tivemos perdas de 70% em dólar entre 2000 e 2002, mas foi um processo de dois anos", lembra Ronaldo Patah, da Unibanco Asset Management (UAM).

Tamanha crise fez vários gestores mudarem suas estimativas para o Ibovespa. Lika Takahashi, chefe de análise da Fator Corretora, rebaixou na semana passada a previsão para o fim deste ano de 67 mil pontos para 57 mil pontos. Já Ricardo Tadeu Martins, da Planner Corretora, baixou de 75 mil para 58 mil pontos. Eduardo Kondo, analista chefe da corretora Concórdia, trabalha com um preço justo para o índice de 78 mil pontos. "Mas, no cenário de crise, a expectativa é de que a bolsa chegue a esse nível num horizonte de 12 meses", afirma ele. "Para seis meses, a projeção é 62 mil pontos."

Mesmo sendo conservador, o mercado ainda teria condições de bater em 70 mil pontos no fim de 2009, diz Patah, do Unibanco. Mas esse cenário, observa, depende de não haver uma recessão profunda nos Estados Unidos. "Se houver uma recessão forte, aí o Ibovespa pode bater nos 35 mil pontos", afirma Patah, que estima em 30% as chances de esse pior cenário se concretizar. Ele espera que o Ibovespa fique entre 45 mil e 50 mil pontos até o fim do ano, podendo fechar 2008 em 55 mil pontos.

Já Lika, da Fator, ainda trabalha com um Ibovespa entre 70 mil e 75 mil no fim de 2009, mas com dificuldades maiores. O custo financeiro para as empresas já subiu no mundo inteiro e isso vai afetar o crescimento global e os preços das commodities, lembra ela. Ao mesmo tempo, o mercado de capitais será mais seletivo, o que limitará o crescimento das empresas por aquisições. "Talvez seja hora de pagar um prêmio para empresas que antes eram criticadas por manterem grandes volumes de caixa."

A prudência também deverá fazer empresas que previam grandes investimentos a colocarem o pé no freio, caso dos frigoríficos e do setor de açúcar e álcool. Deve-se tomar cuidado ainda com as empresas de commodities, que podem se recuperar no curto prazo, mas sofrerão com o desaquecimento mundial.

Se pessoa está preocupada em acertar o momento, este pode ser um período histórico para bons investimentos, afirma Lika. Mas é preciso ter o que ela chama de "espírito de Warren Buffett": aguentar se a bolsa cair cinco anos, sem ficar olhando todo dia. "A ordem é cautela e caldo de galinha." (Colaborou Alessandra Bellotto)