Título: Crise atinge montadoras pela exportação
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2008, Empresas & Tecnologia, p. B7

Os primeiros sinais da crise financeira mundial na indústria automobilística brasileira vêm do exterior. Os problemas já enfrentados por México, Argentina e Venezuela, principais destinos das exportações da General Motors, levaram a uma queda de pedidos de carros. A montadora decidiu conceder férias coletivas em três fábricas do Brasil e na da Argentina, ainda este mês.

Coincidência ou não, a Fiat também anunciou férias para 13% dos funcionários, em Minas Gerais. A empresa refuta que a paralisação tenha relação com a crise. Ela aponta o alto estoque de férias vencidas - por conta do intenso ritmo das linhas de montagem nos últimos meses - para justificar a medida.

Os fabricantes de veículos parecem ainda relutantes em aceitar que a crise chegou no setor. Principalmente porque os números revelam um fôlego intenso, puxado por um mercado interno ainda aquecido. A produção em setembro cresceu 18% na comparação com igual mês do ano passado, num total de 298,4 mil veículos. Os números de licenciamentos no mercado doméstico são maiores: 31,7% na comparação do mês passado com setembro de 2007, num total de 268,7 mil unidades.

Nos bastidores, circulam comentários atrelando as paralisações ao aumento dos estoques. Com os pátios abastecidos, seria uma oportunidade de reduzir o ritmo para analisar melhor os impactos da crise internacional no mercado interno.

Segundo o vice-presidente da General Motors, José Carlos Pinheiro Neto, o que mais preocupa é que os estoques começam a aumentar nos portos. A empresa já vinha enfrentando queda de demanda dos mercados externos por conta da valorização do real.

O quadro se agravou com a crise respingando nos países que compram carros no Brasil. A GM concederá férias de 10 dias a um total de 10 mil trabalhadores das fábricas de São José dos Campos, São Caetano do Sul e Mogi das Cruzes, as três em São Paulo. Segundo Pinheiro Neto, é preciso desacelerar a linha do Corsa, o modelo mais vendido no exterior.

No México, que vem sofrendo com a crise nos Estados Unidos, a indústria automobilística tem uma grande quantidade de fábricas voltadas ao abastecimento do mercado americano. Mas os consumidores mexicanos compram carros feitos no Brasil porque os modelos brasileiros são adequados ao seu poder aquisitivo.

Na Argentina, a crise interna atrapalha as exportações de veículos brasileiras e a própria produção local. Na Venezuela, outro grande mercado, as montadoras brasileiras enfrentam ainda a resistência do governo local em aceitar veículos importados.

No mercado interno, embora os números ainda não revelem, começa a aparecer uma retração dos grandes frotistas, que dependem muito de crédito. Pinheiro Neto, da GM, afirma que as locadoras, grandes clientes do setor, começaram a reduzir pedidos.

Os fornecedores deverão seguir a queda no ritmo das montadoras. O sócio-diretor da empresa de gestão e comercialização de energia Ecom Energia, Márcio Sant"Anna, disse que uma grande empresa de autopeças suspendeu temporariamente a compra de energia no mercado livre. O insumo seria usado nos projetos de ampliação da capacidade de produção em 2009 e 2010.

A época para férias coletivas é totalmente atípica. O segundo semestre é sempre intenso no setor. É o período em que mais se fazem lançamentos de carros - e são muitos este ano. Nessa época, o setor também costuma fazer muitas feiras e congressos. Dois começam hoje (a feira de peças Automec e o congresso de engenharia automotiva da SAE). Sem contar o salão do automóvel de São Paulo, no final do mês. (Colaboraram Josette Goulart e Guilherme Manechini)