Título: Governista no comando
Autor: Medeiros, Luísa ; Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 03/02/2010, Política, p. 29

Como era esperado, o deputado Wilson Lima ¿ apoiado por Arruda ¿ é eleito presidente da Câmara Legislativa

Wilson Lima (C) venceu com 15 votos, entre os quais os de deputados citados na Operação Caixa de Pandora: Cabo Patrício (D) recebeu sete votos

Tudo saiu conforme o combinado entre o governador José Roberto Arruda (sem partido) e sua base aliada na Câmara Legislativa. Por 15 votos a sete, o distrital Wilson Lima (PR) foi eleito na tarde de ontem presidente da Casa. O placar a favor do candidato apoiado pelo Buritinga reflete a retomada da influência política de Arruda sobre o Legislativo. O consenso em torno de Wilson Lima (leia perfil) frustrou os planos de dissidência de Eliana Pedrosa, que tentou até o fim de semana reunir aliados para sua investida.

Sem conseguir se viabilizar, Eliana expressou seu estado de espírito por meio do voto. Absteve-se. O colega Alírio Neto (PPS), um dos poucos que havia confirmado suporte à candidatura de Eliana, também protestou. Optou pelo candidato do PT, Cabo Patrício, que teve ainda a preferência da bancada e de José Antônio Reguffe (PDT). ¿A Casa tinha que ter uma linha mais independente, o que não vai ocorrer com a eleição de Wilson Lima¿, reagriu o neo-oposicionista, que adotou uma linha mais dura depois de ser pressionado pelo partido a romper com o GDF. O sétimo voto de Patrício foi de Jaqueline Roriz (PMN): ¿Uma forma de demonstrar minha posição, ou melhor, minha oposição¿, disse.

Investigados

Dos 15 entusiastas da candidatura de Wilson Lima, sete ¿ Leonardo Prudente (sem partido), Eurides Brito (PMDB), Benício Tavares (PMDB), Roney Nemer (PMDB), Rogério Ulysses (PSB), Aylton Gomes (PR) e Benedito Domingos (PP) ¿ são citados na Operação Caixa de Pandora, que apura um suposto esquema de corrupção envolvendo deputados e a cúpula do GDF. Dos oito titulares acusados, apenas Júnior Brunelli (PP) não compareceu à votação e justificou a ausência com um atestado médico.

Uma das primeiras missões de Wilson Lima como presidente da Câmara será a condução do recurso que a Mesa Diretora deverá apresentar à Justiça na tentativa de rever a liminar afastando o distritais investigados de qualquer decisão acerca dos processos de impeachment contra o governador Arruda.

UM DEPÕE NA POLÍCIA FEDERAL Três pessoas compareceram ontem à Superintendência da Polícia Federal, no Setor Policial Sul, para depor sobre as denúncias reveladas pelo ex-secretário de Relações Institucionais do GDF Durval Barbosa. Mas apenas o diretor-financeiro da empresa de informática Vertax, Maurício Cauville, respondeu às perguntas feitas pelo delegado responsável pela Operação Caixa de Pandora, Alfredo Junqueira. O depoimento ocorre durante a manhã e durou cerca de uma hora e meia. A Vertax foi citada por Durval na Justiça como uma das empresas que supostamente pagou propina à base aliada do governo. No período da tarde, o servidor da Secretaria de Educação Massaya Kondo e um dos donos da empresa de informática Linknet, Gilberto Lucena, compareceram ao prédio da PF, mas usaram o direito de permanecerem calados. Lucena conseguiu ontem no Supremo Tribunal Federal (STF) habeas corpus ratificando o direito dele ficar em silêncio durante o relato.

Perfil Um urso que sabe se disfarçar

O mais novo presidente da Câmara Legislativa tem jeitão de ursinho de pelúcia e comportamento de peixe-folha. Wilson Lima (PR) atende pelos dois apelidos. ¿É que os colegas me acham fofinho¿, especula o deputado. E qual a explicação para peixe-folha? ¿É pequeno, mas sabe nadar entre os grandões sem ser engolido porque se disfarça toda vez que o perigo aparece¿. Foi com a candura de um ursinho e a esperteza de peixe que Wilson Lima conquistou seu ingresso para o cargo mais importante do Poder Legislativo no DF. Tornou-se o predileto do Buritinga, que expressou sua preferência por meio da base aliada ao governo na Casa.

Wilson Lima atingiu o auge dentro da estrutura legislativa no último ano dos três mandatos como deputado distrital. Antes de entrar para a vida pública, ele foi comerciante. Era dono de supermercados no Gama (onde mora desde 1968), no Jardim Ingá e em Valparaíso. Vem daí parte dos votos que o tornaram deputado. A outra base do político é a militância religiosa. Lima é da Pastoral da Família da Igreja Católica, primeira meta de vida do distrital, que entrou em dois seminários, mas desistiu da batina antes de se ordenar. Optou pelo casamento, mantido por 31 anos.

Justamente pela veia religiosa, Lima costuma atribuir os desafios da vida a um chamado divino. ¿A presidência da Câmara é uma missão de Deus¿, confia o parlamentar, eleito com as bênçãos terrenas do governador José Roberto Arruda (sem partido). Em oito anos na Câmara, o distrital aprovou 39 leis de sua autoria ¿ entre as mais importantes, estão a do parto solidário (permite à grávida ter um acompanhante na hora do parto), da fila (obriga bancos a fornecer assento para os clientes) e do silêncio (estabelece regras para o uso de som no comércio).

Conhecido por falar pouco e baixo, Lima não é tão comedido quando se trata de dinheiro. Está sempre entre os mais mais da lista de gastadores. Nos últimos três anos, foi o segundo que mais usou os recursos da verba indenizatória. Em fevereiro do ano passado, reportagem do Correio mostrou que o distrital utilizava parte de sua estrutura de gabinete para tocar um projeto social no Gama.

Wilson Lima chegou ao todo da carreira política sem grandes pretensões, um dos motivos pelos quais foi o escolhido. Alguns colegas o chamavam presidente na semana passada. Mas houve quem adicionasse à bajulação uma pitada de ironia, tratando-o por governador, alusão à situação instável por que passam Arruda e seu vice, Paulo Octávio, desde o início da Operação Caixa de Pandora. Pela legislação, na ausência da dupla, o presidente da Câmara assume o GDF. ¿Ele não assusta Arruda. Fará tudo da forma como for orientado¿, avalia um dos distritais contrários à eleição de ontem.

Se numa eventualidade Wilson Lima pular do Legislativo para o Executivo terá pelo menos um parâmetro de comparação com o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Assim como Lula, Lima está em sentido ascendente na política sem ter frequentado uma universidade. ¿E veja o sucesso que o homem está fazendo. Se ele pode, eu também posso¿, acredita. O distrital tem um problema de dicção que reflete um dos momentos mais dramáticos de sua vida. Em 2005, teve um acidente vascular cerebral (AVC), que lhe deixou sequelas. (LT)

CCJ volta com quase tudo igual Paulo de Araújo/CB/D.A Press Batista das Cooperativas: um mês para analisar pedidos de impeachment

O retorno dos trabalhos da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Legislativa não trouxe surpresas. Os distritais Geraldo Naves (DEM) e Batista das Cooperativas (PRP) permanecem como presidente e relator, respectivamente. Eles foram reeleitos ontem, por quatro votos a um, pelos integrantes da comissão. Os dois deputados mantiveram-se nas cadeiras ocupadas durante os 20 dias de autoconvocação da Casa, em janeiro. À época, a CCJ reuniu-se apenas para analisar os pedidos de impeachment do governador José Roberto Arruda (sem partido), mas nada foi feito. O relator não entregou nenhum parecer sobre os três pedidos de afastamento de Arruda aprovados pela Procuradoria Geral da Câmara. Com a volta do funcionamento normal da Casa, a comissão terá outras tarefas, além da análise dos pedidos de impeachment.

No lugar de Eurides Brito (PMDB) ¿ ex-integrante da composição original, mas impedida pela Justiça de participar de qualquer votação por estar citada nas investigações da Operação Caixa de Pandora ¿ entrou o suplente Bispo Renato (PR). A partir de hoje, Batista das Cooperativas terá prazo máximo de um mês para apresentar os pareceres sobre os pedidos de impeachment do governador. Segundo ele, todos os 18 pedidos protocolados na Casa serão analisados. ¿Vou dar andamento ao trabalho iniciado e não devo utilizar todo o prazo estabelecido¿, disse. Ele reafirmou que apreciará o mérito das denúncias de envolvimento do governo em suposto esquema de corrupção. ¿A CCJ não é meritória.¿

Para Chico Leite (PT), único integrante da oposição, a CCJ tem a função de analisar apenas a admissibilidade dos pedidos de impeachment. Caso seja aprovada, os pedidos serão encaminhados para a Comissão Especial. (LM)

Composição

Integrantes da Comissão de Constituição de Justiça

Presidente: Geraldo Naves (DEM)

Vice-presidente: Cristiano Araújo (PTB)

Relator: Batista das Cooperativas (PRP)

Chico Leite (PT)

Bispo Renato (PR) substitui Eurides Brito

Carta aos distritais

Antes de darem início à votação na Câmara Legislativa, os distritais ouviram uma mensagem do governador José Roberto Arruda (sem partido). Durante 25 minutos, o atual secretário de governo, Flávio Giussiani, leu na tribuna do plenário da Casa um texto de 20 páginas contendo as pretensões políticas e pessoais do governador para 2010.

¿Minhas escolhas estão claras, minha opção é pelo trabalho. Optei por me desvencilhar de qualquer amarra política, de desistir de guerrear pelo poder para continuar meu trabalho e honrar meus compromissos com o DF¿, afirmou Arruda no início do documento. Ele fez uma analogia da crise financeira mundial ao atual momento vivido no DF de forma otimista. ¿Toda crise passa. O que diferencia é como cada pessoa escolhe para atravessá-la.¿

Em grande parte do conteúdo, Arruda faz uma espécie de prestação de contas da sua gestão. Para cada tema, listou as ações já executadas e as que ainda estão por vir. O governador disse no texto que as turbulências, denúncias e investigações às quais foi submetido só fazem crescer a determinação em cumprir sua missão: ¿É assim que levanto a cabeça, vislumbro o final do meu governo e da minha vida pública; sonho com o dia que voltarei plenamente à minha família e à minha vida pessoal, onde sou feliz¿.

É assim que levanto a cabeça, vislumbro o final do meu governo e da minha vida pública

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Opinião do internauta

Leitores registraram comentários no site do Correio sobre a eleição da Câmara. Veja trechos:

Maria Eymard ¿Dr. Alírio tem livre arbítrio para votar em quem quiser, e o Cabo Patrício é digno, sim, só que venceu o mais velho e experiente. O Wilson Lima é um político de longa data e é uma pessoa limpa, serena. Acho que foi justo.¿

Roberto Oliveira ¿Pensando bem, para que serve esta Câmara Legislativa, pois depois que Brasília foi emancipada politicamente, só piorou.¿

José Marques ¿Intervenção federal já. Que seja nomeado um governador interino e que o presidente da República nomeie 24 distritais interinos. Tudo até as eleições.¿

Jayme Junior ¿É melhor nos conformamos, esperar as próximas eleições e dizer um não a todos os partidos e seus respectivos candidatos. Não vamos esquecer nunca o que está acontecendo na CLDF e com o governo.¿

Marcelo Ribeiro ¿Quem é Wilson Lima? Ele é deputado distrital? Nunca ouvi falar nele ou dele. Alguém sabe a origem desse cidadão? Ele tem competência para dirigir os trabalhos da Câmara com isenção e pulso forte?¿

Alexandre Sarmento ¿Já era de se esperar a vitória de Wilson Lima. E não é surpresa o voto de Alírio a favor de Patrício. Afinal de contas, já estamos em campanha política para a eleição 2010. As mascaras políticas precisam ser trocadas urgentemente ou a reeleição vai para o espaço.¿

Chesley Rocha ¿Jaqueline Roriz votando no PT... ai tem coisa, tem sim! O PT está se aliando ao Roriz! Os dois se merecem mesmo!¿