Título: Strauss-Kahn pede ação coordenada na crise
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2008, Finanças, p. C16

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, fez ontem um apelo enfático para que os países mais avançados coordenem as políticas que adotarem para enfrentar a crise financeira global. Ministros das finanças do mundo inteiro estarão em Washington neste fim de semana para a reunião anual do Fundo e do Banco Mundial.

"Não existe uma solução doméstica para uma crise como esta", disse Strauss-Kahn. "Todas as ações solitárias devem ser evitadas, se não condenadas."

Ministro da Economia da França no fim da década de 90, o dirigente do FMI disse que a necessidade de cooperação é especialmente aguda na Europa, onde os principais países não se entendem sobre a melhor maneira de lidar com os problemas nos bancos.

Ministros do grupo de países ricos que forma o G-7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) se reunirão hoje para avaliar as medidas tomadas contra a crise até agora. O G-20, um fórum de discussões financeiras que tem representantes das maiores economias do mundo e atualmente é presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai debater a crise amanhã.

Numa entrevista para jornalistas ontem cedo, Strauss-Kahn disse que o mundo está "à beira de uma recessão global", um diagnóstico ainda mais sombrio do que o apresentado na véspera pelos economistas do Fundo.

O FMI prevê que os EUA e alguns países europeus terão taxas de crescimento negativas ou próximas de zero em 2009, mas acredita que a maioria dos países começará a reagir no fim do ano.

Ao contrário do que ocorreu nas várias crises que atingiram economias emergentes como a brasileira no passado, o Fundo tem tido um papel secundário na administração da crise atual, em que os problemas mais agudos se concentram nos países avançados. A instituição não tem força política para ditar recomendações a esses países, nem recursos nos volumes necessários para ajudá-los agora.

O FMI tem atualmente menos de US$ 250 bilhões para emprestar a países com dificuldades financeiras. É uma quantia minúscula diante dos trilhões de dólares que os EUA e a Europa estão mobilizando para socorrer o sistema financeiro.

Os clientes habituais do Fundo, como o Brasil e outros países emergentes, hoje têm um volume confortável de reservas que lhes permite dispensar a ajuda do FMI também.

Ontem, Strauss-Kahn anunciou que os procedimentos da instituição para concessão de empréstimos em situações de emergência foram revistos, para acelerar a liberação dos recursos se alguém precisar. "Nós estamos prontos para responder a qualquer demanda dos países que enfrentarem problemas", disse o diretor do Fundo.

Seu principal cliente hoje é a Turquia, que tem uma dívida de US$ 9 bilhões com o FMI. (RB)