Título: BB avalia compra de mais R$ 3 bilhões em crédito
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2008, Finanças, p. C2

O Banco do Brasil (BB) informou ontem que analisa propostas para a compra de R$ 3 bilhões em operações de crédito de bancos pequenos e médios usando os recursos dos depósitos compulsórios, dentro das regras baixadas recentemente pelo Banco Central (BC) para incentivar a compra de carteiras e combater a crise de liquidez que afeta o mercado. Segundo o BB, nada impede que a cifra seja aumentada, caso surjam ofertas interessantes em empréstimos consignados e financiamentos de veículos. As medidas anunciadas pelo BC liberando compulsórios deram um reforço da caixa de R$ 11,4 bilhões ao BB, dos quais até R$ 6 bilhões podem ser utilizados na compra de carteiras.

Ontem, o Itaú informou a compra de três carteiras de crédito de bancos pequenos, todas de consignado. Outras operações estão sendo examinadas, informou a assessoria de imprensa. Bradesco e Unibanco também compraram carteiras.

Grande banco cujas ações mais caíram na atual crise, o BB fez ontem teleconferência a analistas. Uma das dúvidas é se estaria havendo pressões para o resgate de bancos em dificuldades.

"Não há qualquer viés político nessas aquisições de carteira", disse o gerente de relações com os investidores do BB, Marco Geovanne Tobias da Silva. Segundo ele, mesmo antes da crise o BB já havia comprado R$ 1,5 bilhão em carteiras de crédito, aproveitando oportunidades. Esse conjunto de operações, disse, criou uma "expertise" dentro do BB para análise de risco e precificação. "Fazemos um filtro das operações", disse. "Não é realizada a aquisição de carteiras fechadas."

Nas últimas semanas, têm surgido dúvidas sobre um eventual uso político do BB para garantir a continuidade do financiamento agrícola e de comércio exterior. O mercado também estava em busca de informações sobre os reflexos da desvalorização cambial na exposição cambial do BB; sobre como o banco irá levantar recursos para dar continuidade à expansão do crédito; e sobre riscos decorrentes das perdas bilionárias sofridas por empresas nos mercados futuros de câmbio.

No caso da agricultura, o BB avalia que a recente queda nos preços das "commodities" não amplia os riscos do financiamento da safra 2008/2009. Na visão do BB, mesmo com a queda das cotações, os preços medidos em dólares ainda estão acima da média histórica. Além disso, lembram executivos do BB, a valorização do dólar aumenta a remuneração em reais do produtor.

O banco abriu números sobre sua exposição cambial, para afastar as dúvidas de que tenha perdido dinheiro com a desvalorização. O banco tem uma posição passiva de apenas US$ 100 milhões em moeda estrangeira. "É um valor irrisório", disse o vice presidente de finanças do BB, Aldo Mendes. O banco também abriu dados sobre sua exposição cambial com clientes. No dia 1º de outubro, informou, o BB tinha R$ 614,5 milhões a receber dos clientes e R$ 243 milhões a pagar, o que representa uma exposição líquida de R$ 371 milhões.

O risco dessas operações está bastante diluído ente 152 contratos diferentes. O maior crédito junto a apenas um cliente era de R$ 64,8 milhões. O banco também foi questionado se corria risco de inadimplência em empréstimos feitos a grandes clientes que perderam com a desvalorização. O diretor comercial do BB, Allan Simões Toledo, disse que o banco fez um amplo levantamento de informações, visitando os 250 maiores clientes. "Estamos tranqüilos".

Sobre os efeitos da crise na liquidez do próprio BB, a instituição diz estar em situação confortável. "Nossos depósitos cresceram, o que é natural em períodos como esse, em que existe uma busca dos investidores por instituições com reconhecida solidez e segurança", afirmou Geovanne. A forte expansão de crédito tinha levado à uma piora nos indicadores de liquidez do banco no início do ano. A relação entre operações de crédito e os depósitos bancários subiu a 97,2% em junho, o que levou o BB a montar uma estratégia para intensificar as captações no varejo. A combinação desse esforço feito nas agências com a busca por qualidade dos depositantes levou a relação entre operações de crédito e depósitos a 90,3% em agosto.

Um dos pontos bastante questionados pelos analistas é uma possível insuficiência de capital para sustentar a expansão da carteira de crédito. O índice de Basiléia, uma medida do capital do banco em relação às operações de crédito, caiu a 13,6% em junho, que é o menor entre os bancos listados em bolsa e está perto do piso de 11% definido pelo BC. Geovane, porém, disse que que há uma folga de R$ 40 bilhões para crescer.

Se os demais bancos desacelerarem devido a condições econômicas adversas, o BB também irá emprestar menos, mas ainda assim pretende andar mais rápido que os concorrentes, como forma de ganhar fatias de mercado. Entre os planos estratégicos do BB, a crise prejudicou apenas o avanço no varejo internacional, sobretudo Estados Unidos, que está sob revisão.

O BB mantém o interesse na Nossa Caixa, não desistiu da pareceria com o banco sul-africano First Rand para atuar no mercado de financiamentos de veículos e continua a montar sua carteira de crédito imobiliário, com planos de chegar a R$ 3 bilhões em 2009.