Título: Aracruz negocia seus derivativos
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini; Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2008, Finanças, p. C1

A Aracruz está chamando os bancos para negociar suas posições em derivativos, que totalizam uma exposição vendida em dólar (comprada em reais) de US$ 6,26 bilhões segundo seu balanço. De acordo com a Moody"s, a empresa tinha, além do divulgado "target forward" de US$ 4,1 bilhões (com alavancagem de dois para um), uma soma de outros US$ 2,16 bilhões em derivativos vinculados a pré-pagamentos à exportação.

Quem está responsável pelas conversas entre a empresa e os bancos é Pércio de Souza, sócio diretor da Estáter, butique de fusões e aquisições. Segundo o Valor apurou, fizeram transações de derivativos com a Aracruz diversos bancos, entre eles o Credit Suisse, a Merrill Lynch, o Itaú BBA, o Citi e o ABN AMRO/Santander.

Como é uma das maiores posições vendidas em dólar entre as tomadas por mais de 200 empresas brasileiras nos últimos anos de valorização do real, a iniciativa de conversa tem deixado os bancos especialmente apreensivos. O caso certamente vai servir de exemplo para as demais companhias dos mais diferentes portes ao lidarem com as perdas.

A Aracruz carrega suas posições vendidas que, apesar de não terem chamada de margem, têm liquidações mensais. Segundo a Moody"s, há uma crescente pressão nas posições de liquidez da empresa e seu caixa de US$ 594 milhões do balanço de 30 de setembro (publicado em 17 de outubro) pode ser consumido em meses no pagamento dos ajustes mensais dos derivativos e também nos pagamentos normais de sua dívida. Em meio à uma crise internacional de crédito, há dificuldades crescentes das empresas em geral para tomar crédito novo e repor seu caixa.

Os bancos, por sua vez, querem que a Aracruz pague 100% do acordado nos contratos. Alegam que os dirigentes das empresas maiores que perderam com posições vendidas em dólar - como a Aracruz, a Sadia, a Votorantim e a Embraer - sabiam ou deveriam saber os riscos que estavam tomando. De uma forma geral, os bancos têm renegociado com empresas menores que não têm conseguido honrar contratos. Ao fazer isso perdem dinheiro, mas menos do que perderiam se tivessem de considerar as dívidas com derivativos como dívidas em atraso. O banco Credibel, do Grupo Splice, e uma empresa calçadista do Sul do país obtiveram liminares em ações impetradas contra o Itaú BBA e o HSBC pelo não pagamento da variação cambial.

Os bancos dizem que o Banco Central está chamando todos os principais dirigentes das instituições financeiras no país para conversar de forma a tentar entender a dimensão do problema. Na sexta-feira, o BC já se reuniu com Jorge Sant"Anna, diretor superintendente da Cetip, onde parte dos derivativos são registrados. Mas grande parte dos contratos foram realizados no exterior, em Bahamas ou Cayman.

Por meio de sua assessoria, a Aracruz disse que as informações sobre suas operações financeiras constam no balanço divulgado na semana passada e que a companhia não iria dar maiores detalhes sobre o assunto. A empresa também não quis comentar a contratação da Estáter.

A contratação de Pércio de Souza faz parte do esforço da Votorantim para sanear as finanças da Aracruz. Souza tinha sido contratado em meados do ano como assessor financeiro do grupo controlado pela família Ermírio de Moraes na tentativa de compra da participação das ações detidas pela Arapar na Aracruz, para que o grupo Votorantim elevasse sua participação na fabricante de celulose de 28% para 56% e depois fizesse uma fusão com sua controlada, a VCP. Diante das perdas financeiras da Aracruz, o negócio foi adiado por tempo indeterminado.

(colaborou Tatiana Bautzer)