Título: Alta do dólar agrava crise para emergentes e desenvolvidos
Autor: Slatere, Joanna; Hilsenrath, Jon
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2008, The Wall Street Journal Americas, p. C4

Mudanças violentas no mercado internacional de câmbio estão sendo provocadas por fatores de curto prazo, como o temor de problemas econômicos e a liquidação de operações que dependiam de dinheiro emprestado. Mas as oscilações do câmbio provavelmente terão implicações de longo prazo para economias desenvolvidas e emergentes.

Tanto o dólar como o iene dispararam em relação a quase todas as outras moedas no último mês, quando os investidores se convenceram de que uma recessão mundial era iminente.

O dólar aumentou 16% em relação ao euro, 24% sobre o peso mexicano e o real e 9% sobre o rublo e, na sexta-feira, chegou ao seu valor mais alto em relação à rupia indiana. A valorização pôs fim a dois anos e meio de fraqueza do dólar, segundo um índice do Federal Reserve, o banco central americano, que mede sua moeda em relação a outras 26.

O iene teve aumento ainda maior, a ponto de, na sexta-feira, o dólar, apesar da sua valorização, chegar ao nível mais baixo em 13 anos em relação à moeda japonesa.

Alterações nos mercados cambiais vistas em apenas algumas horas de negociação no início da sexta-feira "são o que costumamos ver num trimestre", escreveu Kathy Lien, diretora de análise de câmbio da Global Forex em Nova York.

A volatilidade está ela mesma causando problemas, como tornar mais difícil para as empresas se preparar para riscos cambiais, além de criar tensões nas economias nacionais. No fim, isso pode levar os governos a intervir nos mercados cambiais na tentativa de moderá-los.

Ao mesmo tempo, a profunda desvalorização das moedas em mercados emergentes ameaça desestabilizar mercados e economias, reprisando crises cambiais da década passada.

As medidas terão resultados diferentes em cada país. Nos Estados Unidos e no Japão, as exportações, que têm sido pontos fortes na economia de ambos, provavelmente vão sofrer.

Nos últimos meses, as autoridades do Fed viram a valorização do dólar como um conforto. A alta da moeda barateou produtos importados e, assim, aliviou a pressão inflacionária. Isso deu à autoridade monetária margem de manobra para baixar a taxa de juros diante do agravamento da crise econômica em setembro e outubro.

O Fed tem reunião esta semana para discutir juros, e um ganho maior do dólar pode ajudá-lo a cortar as taxas ainda mais. A taxa de referência está em 1,5%. Muitos economistas acreditam que ela vá para 1%.

Para mercados emergentes, as quedas rápidas no câmbio têm "causado muitos problemas", diz Richard Clarida, consultor de economia mundial da Pacific Investment Management Co. e professor da Universidade Columbia. "Elas acabam prejudicando a confiança nos mercados e causando um problema de inflação."

Para combater essas mudanças, o Brasil, o México, a Rússia e a Índia baixaram suas reservas, coletivamente, em mais de US$ 75 bilhões desde o fim de setembro, vendendo dólares para proteger suas moedas, segundo Win Tin, da Brown Brothers Harriman.

A Hungria pôs em prática um aumento emergencial de juros de três pontos porcentuais na semana passada, passando para 11,5%, a fim de proteger sua moeda. As autoridades esperam que, com taxas mais altas, os investidores sejam atraídos para investimentos de renda fixa em florim, a moeda húngara.

No mundo desenvolvido, as grandes quedas do euro e da libra esterlina dão sinais de que os investidores acreditam em grandes desacelerações econômicas pela frente e que os bancos centrais possivelmente vão cortar os juros.

O que é bom na alta do dólar é que os investidores não perderam a fé na moeda mais importante do mundo. Se isso tivesse acontecido, poderia ter desestabilizado seriamente o sistema financeiro mundial.

Durante anos, alguns economistas alertaram que o dólar poderia cair, principalmente numa crise financeira, porque investidores estrangeiros têm muitos ativos em dólar, como títulos do Tesouro dos EUA ou de dívida lançados pelas financiadoras de hipoteca Fannie Mae e Freddie Mac.

Por enquanto, o maior problema para multinacionais e exportadores americanos é uma grande baixa na demanda global. "As exportações do EUA vão cair não porque o dólar está mais forte, mas porque ninguém está comprando nada", diz Mark Farrington, diretor de câmbio da Principal Global Investors em Londres.

As exportações dos EUA cresceram a uma taxa anualizada de 12% no segundo trimestre, um dos únicos pontos fortes no cenário econômico do país.