Título: Medidas do BC fazem o crédito fluir, dizem bancos
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2008, Finanças, p. C7

Depois de um período de asfixia no crédito, os bancos pequenos e médios estão começando a respirar. Nos últimos dois dias, após a medida do Banco Central aumentando o compulsório para depósitos no Fundo Garantidor de Crédito (FGC), cresceu a compra de carteira por parte dos bancos maiores. O preço dessa operação caiu de 150% para 125% do CDI. "A situação está um pouco mais confortável", disse Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que congrega 84 bancos médios e pequenos. Marisa Cauduro / Valor

Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos: "A situação está um pouco mais confortável"

Oliva, do banco Cacique, informou que a cessão de carteira tem sido o instrumento mais usado pelos associados da entidade para irrigar o caixa nos últimos 40 dias. Dois outros dois tipos de negócio também têm ajudado as instituições financeiras a sair do sufoco do crédito.

Operações de joint-venture, com o banco buscando sócio para injetar recursos na instituição tem sido feitas com muita freqüência, alterando o perfil societário das instituições. "Recentemente, o Esteves (André Esteves, ex-UBS Pactual) entrou no banco Matoni comprando uma participação", adiantou Oliva. Ele citou ainda outro tipo de operação, no caso os acordos operacionais acertados entre os bancos e investidores institucionais, inclusive estrangeiros, interessados em participar do crescimento de uma carteira específica da instituição emprestando funding e participando da lucratividade da carteira. Esta operação é mais cara que uma taxa de captação de CDBs, hoje na faixa de 115% a 105% do CDI.

Os CDBs são títulos vendidos pelos bancos a investidores para obter recursos para empréstimo aos clientes. O mercado de CDBs, bastante azeitado no nicho de bancos médios e pequenos, está parado. Só tem resgate. A procura continua muito pequena. Quando aparece algum investidor comprando o título com o dinheiro da venda de ações é para 30 dias, contou o presidente da ABBC. Mas, sua expectativa é que haja uma melhora deste mercado. Alguns bancos, para estimular os investidores, estão pagando até 130% do CDI para tomadores de CDBs a 360 dias.

Para Oliva, este recente desempoçamento da liquidez, em resposta as medidas do BC, incluindo a que foi anunciada ontem de troca de moeda no valor de US$ 30 bilhões com o FED (Banco Central americano) sem comprometer as reservas, está vindo em boa hora. "As empresas começam a correr atrás de dinheiro para pagar o 13º e fazer estoques para o Natal e nos procuram". O banqueiro acha que a situação pior de busca de crédito é das pessoas jurídicas. "O objetivo do BC é que os bancos possam atender a demanda de crédito principalmente das pessoas jurídicas. As pessoas físicas, pelo que conheço do mercado, continuam sendo atendidas".

Apesar da melhora do ambiente de liquidez nas últimas 48 horas, Oliva acredita que o mercado precisa é de dias seguidos de boas notícias e menos volatilidade para retomar a confiança.

Segundo ele, por medo de um cenário mais adverso, os bancos médios e pequenos já fizeram demissões, principalmente em carteiras com movimentos menores, como a do crédito consignado. No Rio, as notícias do mercado financeiro dão conta de pelo menos 750 demissões. Já ocorreram também fechamentos de agências. "Os bancos como todos os segmentos da economia, se prepararam para dias piores por causa da crise externa. Há produtos ofertados sem demanda. Perder emprego nunca é bom. Mas, o pior é perder a empresa", raciocina o banqueiro.