Título: CMN facilita a emissão de títulos para financiamento da agricultura
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2008, Finanças, p. C14

O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou ontem uma alteração nas regras do financiamento ao setor rural para dar mais liquidez a tradings, agroindústrias e fornecedores de insumos agropecuários. Ao elevar de 65% para 70% a parcela de aplicação obrigatória dos depósitos em poupança no setor rural (exigibilidades), o CMN permitiu aos bancos o uso de até 40% dos recursos para o financiamento de Cédula de Produto Rural (CPR) emitidas por essas empresas. Até então, a regra permitia ao sistema financeiro financiar apenas papéis emitidos por produtores e cooperativas até o máximo de 5%.

A nova regra, que vale até 30 de junho de 2009, atende os apelos de produtores rurais e empresas por uma política específica para injetar liquidez no sistema de financiamento do setor rural. Os dirigentes do campo queriam um reforço nas fontes que lastreiam os Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACCs), já que as tradings restringiram empréstimos com recursos próprios a uma parcela muito reduzida de produtores e cooperativas com classificação de risco "AA". As necessidades de financiamento dos demais estava longe de ser atendida. Agora, com a medida do CMN, as empresas esperam atender à forte demanda por crédito do setor rural. O governo estima uma injeção de R$ 1 bilhão nessa modalidade de financiamento ao agronegócio. No total, o aumento das exigibilidades da poupança rural devem agregar R$ 2,6 bilhões ao crédito rural, estima o Banco Central.

As tradings já vinham sofrendo com um estrangulamento na concessão de crédito de suas matrizes desde antes do início do atual ano-safra, em julho deste ano. Na safra passada, essas companhias tiveram que usar boa parte de seu caixa para cobrir os buracos abertos pelas chamadas margens na Bolsa de Chicago. Como as cotações das commodities agrícolas dispararam por causa de uma corrida dos fundos de investimento especulativos por proteção, as empresas precisaram cobrir a diferença entre o "hedge" feito na bolsa e os preços efetivos de produtos como soja, milho e trigo.

A nova medida faz parte do pacote do governo para ajudar o setor agropecuário. Antes, o CMN já havia autorizado a antecipação de R$ 5 bilhões em recursos operados pelo Banco do Brasil para o plantio da atual safra. As autoridades também aprovaram a elevação de 25% para 30% nas exigibilidades sobre os depósitos à vista e a redução, de 45% para 42%, nos depósitos compulsórios para auxiliar o setor rural. Com isso, o governo esperava irrigar o campo com outros R$ 9,1 bilhões.

O governo ainda estuda a adoção de novas medidas para o setor. Uma delas é a criação de uma linha de R$ 1 bilhão para financiar a capitalização das cooperativas agropecuárias via "cotas-partes" dos produtores rurais. Também está sob avaliação a realização de leilões específicos de US$ 1 bilhão em recursos para a contratação de ACCs ao campo. O reajuste dos preços mínimos de garantia ainda são uma alternativa para formar um "hedge" de preços ao produtor na época da comercialização da safra, a partir de fevereiro de 2009.