Título: Lula e Sarney buscam solução para impasse em torno de Mesas do Congresso
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2008, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou ontem a sós com o senador José Sarney (PMDB-AP) em busca de uma solução para o impasse na sucessão das Mesas da Câmara e, principalmente, do Senado. Sarney é a peça-chave para definir se os pemedebistas do Senado manterão ou não a pressão para assumir a cadeira do atual presidente da Casa, Garibaldi Alves (PMDB-RN) ou se cederão a vaga ao petista Tião Viana (AC). No início da semana, a conversa era mais ampla, com a presença de outros senadores da legenda. Com o passar dos dias, contudo, a lista de convidados acabou reduzida ao senador do Amapá. "Uma conversa de presidente com ex-presidente", resumiu um ministro palaciano.

No Palácio do Planalto, o desejo é não conceder um caráter hegemônico ao PMDB, tornando o governo refém de um partido que apóia o Executivo mas não evita a aproximação do PSDB. Cálculos de ministros próximos ao presidente mostram que o PMDB tem menos de 20% dos deputados e aproximadamente 20% dos senadores. Dessa maneira, pode até ter as duas maiores bancadas, mas não seria hegemônico.

O sinal do governo para não desgastar antecipadamente a situação com um aliado que vem se mostrando fiel - e para não deixar sem saída o senador José Sarney, fiador da aliança com o PT - é mostrar ao PMDB que, se de toda forma ele quiser insistir em comandar as duas Casas, deve construir essa hegemonia política junto aos demais aliados no Congresso. "E não adianta vir com o discurso de que saiu vitaminado das urnas. O PMDB saiu forte, o PT saiu forte. Mas ninguém saiu tão forte das urnas quanto o presidente Lula", disse um aliado do presidente.

Inflado pelo bom resultado das urnas, o PMDB aumentou a pressão para presidir as duas Casas do Congresso. Na Câmara, o acerto político firmado assegura a eleição do pemedebista Michel Temer (SP) para o biênio 2009-2010. O imbróglio está no Senado, onde os petistas afirmam que, da mesma forma que os deputados elegerão um nome do PMDB para suceder um petista - Arlindo Chinaglia - nada mais natural que no Senado um petista suceda um pemedebista.

Alguns petistas experientes apostam, pelo caminhar da conversa, numa dobradinha do PMDB nas duas Casas, com Sarney como futuro presidente do Senado. Mas acham que a decisão não será tomada de maneira açodada. "Temos de deixar exaurir as tensões, emergir as posições para que encontremos as soluções", filosofou um ministro político. Para um pemedebista, o tempo da política é diferente do tempo da imprensa. "As coisas precisam se acomodar. Esse é o momento em que todos se cacifam para saber quem tem mais condições para enfrentar a tempestade".

As negociações podem, por isso, ser longas. Interessaria ao PMDB uma solução rápida, mas não ao governo. Se o Planalto aceitar a pressão dos senadores pemedebistas, terá que anunciar desde já uma compensação ao PT - possivelmente, um ministério. Já na Câmara, interessa deixar Temer em suspense. Se houver uma definição nos próximos dias, aliados infiéis poderão se arvorar, lançar candidatos e embolar ainda mais o cenário político.