Título: BNDES vai garantir empréstimo ponte para obras do linhão
Autor: Goulart , Josette
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2008, Empresas, p. B7

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está aberto aos consórcios que pretendem disputar as linhas de transmissão do Rio Madeira para conceder os empréstimos pontes necessários aos empreendimentos. O chefe do departamento de energia elétrica do banco, Nelson Siffert, disse que o banco já tinha esse produto em sua prateleira mas que agora está dando ênfase para garantir a competitividade do leilão que está marcado para o próximo dia 26 de novembro. Os empréstimos ponte escassearam com a crise financeira, o que poderia comprometer o leilão, que chegou a ser adiado no mês passado. Nelson Perez/Valor

Nelson Siffert, do BNDES, diz que quatro consórcios já procuraram o banco para discutir condições de empréstimo

Os empréstimos ponte são necessários para que as empresas possam travar preços de fornecedores, pagar o início da obra, mitigar o risco do projeto, antes que o financiamento de longo prazo do BNDES seja liberado. Esse financiamento ponte pode chegar a até 30% do investimento total nas obras, o que no caso das linhas de transmissão do Madeira responderiam por pouco mais que R$ 2 bilhões.

Umas das grandes preocupações do governo federal é que um dos sete lotes que serão leiloados não tenha um lance válido. Se isso acontecer, o leilão inteiro fica comprometido e precisa ser realizado novamente. Essa á uma possibilidade com a qual o governo não trabalha, já que considera prioritário a entrega da energia das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau a partir de 2012. Para garantir o fornecimento desse energia as linhas de transmissão precisam estar prontas.

Nesta semana, a Cteep oficializou a formação de um consórcio com Furnas e Chesf para participar do leilão. Também um consórcio formado por Eletronorte, Abengoa e Andrade Gutierrez deve participar da disputa. A Odebrecht, que constrói uma das usinas do Madeira, também irá ao leilão. Cemig, Terna Participações e Alusa também estão interessadas.

Siffert, do BNDES, diz que quatro consórcios já consultaram o banco sobre os empréstimos ponte. Essa é uma linha de financiamento mais cara do que as tradicionais de longo prazo do BNDES, mas de qualquer forma muito mais atrativas do que as dos bancos privados, principalmente em um momento em que o crédito está caro. Para obter esse financiamento, as empresas precisam prestar algumas garantias. "Mas uma fiança bancária, já basta", diz Siffert. "E nesse momento de crise, é possível que o banco privado não tenha como conceder o crédito mas pode assumir risco com a fiança".

Os financiamentos têm prazo médio em torno de 18 meses e são indexados à Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). O spread básico dessa linha é um ponto percentual acima do spread de financiamentos de longo prazo do banco. Além do spread básico, o banco cobra ainda um juro de risco.

O professor Nivalde de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, disse ontem no seminário "Energia em ação" que aconteceu em São Paulo, que é muito importante o BNDES suprir essa necessidade de empréstimos ponte nesse momento. Na avaliação do professor, o setor elétrico será um dos fatores da reversão dessa crise no Brasil. Serão as elétricas, segundo ele, as primeiras a reabrir o mercado de capitais com a emissão de debêntures. "O setor tem um padrão de financiamento sólido", disse Castro. "Há tempo as elétricas não são mais dependentes de empréstimos externos".

Em uma avaliação macroeconômica, a economista sênior do banco Bradesco, Priscila Deliberati, disse ontem que a crise vai fazer com que o crescimento econômico desacelere. Mas dessa forma, segundo ela, será possível que os investimentos em infra-estrutura possam fazer com que o país volte a crescer em níveis iguais ou superiores a 5% sem uma pressão inflacionária.

E o governo tem reiteradamente dito em meio a essa crise que o setor de energia é prioridade para investimentos no país. Na política do BNDES, por exemplo, os pedidos de financiamento para projetos de infra-estrutura têm a mesma prioridade estando ou não no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em 2007, o desembolso do BNDES para o setor foi de R$ 6,2 bilhões, número que o banco espera superar neste ano. O ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, disse que todos os projetos de investimentos no setor estão mantidos. A expectativa do governo é de que os investimentos em geração cheguem a R$ 61 bilhões até 2012. Outros R$ 16 bilhões são esperados para as linhas de transmissão. A carteira do BNDES conta hoje com empréstimos aprovados de R$ 22 bilhões para a geração e outros R$ 6,6 bilhões para transmissão.