Título: Apoio do governo beneficia Paulinho
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2008, Política, p. A8

Com apoio do governo federal, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, presidente da Força Sindical, deve ser absolvido da acusação de quebra de decoro parlamentar. Ontem foi adiado o julgamento do processo no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, depois que a maioria das manifestações foi pela manutenção do mandato do parlamentar. Alan Marques/Folha Imagem

Paulinho: nem mesmo deputados da oposição apostam na cassação do mandato de pedetista, suspeito de participar de um esquema de desvio de recursos do BNDES

A deputada Solange Amaral (DEM-RJ) pediu vistas no relatório de representação e, desta forma, adiou a votação. A previsão é que o caso seja retomado na próxima semana, mas o julgamento tem de ser feito até o dia 15 de dezembro. Caso contrário ficará para o próximo ano.

Paulinho ganhou mais tempo para defender seu mandato e articular apoio político junto à base governista. Ele é suspeito de participar de um esquema de desvio de recursos do BNDES, revelado na Operação Santa Tereza, da Polícia Federal. De acordo com a acusação, ele teria usado o cargo para conseguir benefícios junto ao banco.

O relator, deputado Paulo Piau (PMDB-MG), pediu a cassação do mandato de Paulinho, por "conduta incompatível com o decoro parlamentar". Na explicação de seu voto, Piau disse entender que houve esquema fraudulento sobre a liberação de verbas pelo BNDES, do qual Paulinho "é o chefe, é figura central", e sustenta que há provas suficientes para comprovar o envolvimento do deputado.

O clima no Conselho de Ética, entretanto, era favorável a Paulinho. Os governistas argumentaram que há acusações contra Paulinho anteriores ao mandato dele e, dessa forma, ele não poderia ser acusado de quebra de decoro parlamentar, como defendeu o deputado Hugo Leal (PSC-RJ). Para o Wladimir Costa (PMDB-PA), "não existem provas cabais, não há nada que justifique a perda de mandato".

Os deputados haviam feito um acordo para ninguém pedir vistas e concluir a votação ontem, mas depois de quase quatro horas de discussão a deputada Solange Amaral pediu o adiamento da decisão. Ela justificou que diante do cenário favorável a Paulinho, ela queria que os deputados "tivessem mais tempo" para pensar sobre o caso. "Há muitas provas contra Paulinho: extratos bancários, escutas telefônicas, mas estava ´na cara´ que o relator ia perder na votação", explicou Solange.

Mesmo que a Comissão de Ética aprove a cassação do mandato do deputado, o caso vai à votação no plenário. "Paulinho vai escapar", comentou o deputado Chico Alencar (RJ), do P-SOL, partido que entrou com representação contra Paulinho. "A Força Sindical tem um poder muito grande de mobilização no Congresso e tem apoio do governo", disse Alencar.

O advogado de Paulinho, Leônidas Scholz, contestou as provas apresentadas pelo relator da Comissão e disse que não há nenhum envolvimento do deputado em esquema de desvio de recursos do BNDES.

Paulinho não acompanhou o julgamento de seu mandato na Câmara. Na mesma tarde em que a Comissão de Ética julgava o caso, ele estava no Palácio do Planalto, acompanhado por sindicalistas da Força Sindical, reunido com representantes do governo federal. De noite, estava previsto um jantar de dirigentes das centrais com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.