Título: Criminosos virtuais preparam novos golpes
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2008, Empresas, p. B3

Enquanto a economia mundial busca novos rumos e governos e empresas tentam evitar ou reduzir os impactos da crise, uma atividade pode sair fortalecida: a dos crimes digitais.

Aproveitando-se da preocupação das pessoas para conseguir alguma vantagem financeira em um momento de incerteza, os cibercriminosos vão intensificar o envio de e-mails falsos que levam à instalação de programas que abrem as portas do computador para o roubo de informações, os chamados cavalos de tróia.

"Certamente vai haver um aumento e teremos alguma coisa nova", destaca José Antunes, gerente de engenharia de sistemas da McAfee, empresa de segurança que pelo quarto ano seguido publica um relatório sobre crime na internet. Nesta edição, foram consultados 26 especialistas em segurança de todo o mundo, sendo três brasileiros.

O que Antunes classifica de "novidades" são formas de explorar brechas no mundo digital usando pessoas ainda não utilizadas. Ao invés dos tradicionais contatos falsos da Polícia Federal e de órgãos de proteção ao crédito, podem surgir ofertas ligadas ao noticiário da crise, como a cotação do dólar. "O ponto fraco sempre está relacionado às pessoas. A engenharia social vai sendo sofisticada de acordo com o meio", avalia o especialista.

Números recentes indicam que as redes de computadores usadas por criminosos para enviar e-mails não-solicitados (spam) quadruplicaram no último trimestre. Hoje, elas são capazes de enviar mais de 100 bilhões de mensagens todos os dias.

Dados de uma outra empresa de segurança, a Symantec, indicam que em um período de 12 meses de monitoração da internet foram levantados 69,1 anunciantes de itens como números de cartões de crédito e contas correntes, um total de 44,32 milhões de mensagens na rede.

O valor potencial do total de bens anunciados para os 10 maiores anunciantes foi de US$ 16,3 milhões em cartões de crédito e US$ 2 milhões em contas bancárias.

Para Antunes, a questão dos crimes digitais vai demandar esforços não só da indústria de segurança em adotar melhores práticas, mas de educação dos usuários, principalmente em um país como o Brasil, que ainda tem uma parcela muito grande da população que nunca teve contato com a internet.

Na avaliação dos especialistas consultados pela McAfee, os governos também têm papel importantes nessa questão. "A ameaça de terrorismo e o colapso econômico estão direcionando a atenção política para outros lados. Em contraste, os cibercriminosos estão ajustando seu foco", observa o relatório. A baixa cooperação entre países e a falta de treinamento e entendimento das forças policiais ao redor do mundo são destacados pelo estudo.

De acordo com o advogado Renato Opice Blum, um dos participantes da pesquisa feita pela McAfee, 95% dos crimes digitais estão previstos na legislação brasileira. Os outros 5% tratam, por exemplo, da invasão de computadores de empresas e pessoas físicas, algo já previsto na esfera pública após o escândalo da violação do painel do Senado Federal, em 2000. "Já existem mais de 17 mil ilícitos julgados no Brasil", diz. Nos últimos dois anos, comenta, seu escritório passou a receber muitos processos relativos a roubo de informações como fórmulas de produtos, códigos-fonte e planos estratégicos

Ajustes, no entanto, ainda precisam ser feitos. Por isso, Opice Blum vê como positiva a aprovação de projetos como o do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que permitem que a legislação acompanhe a evolução da tecnologia.